fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Jorge Pinto

Jorge Pinto é formado em Engenharia do Ambiente (FEUP, 2010) e doutor em Filosofia Social e Política (Universidade do Minho, 2020). A nível académico, é o autor do livro A Liberdade dos Futuros - Ecorrepublicanismo para o século XXI (Tinta da China, 2021) e co-autor do livro Rendimento Básico Incondicional: Uma Defesa da Liberdade (Edições 70, 2019; vencedor do Prémio Ensaio de Filosofia 2019 da Sociedade Portuguesa de Filosofia). É co-autor das bandas desenhadas Amadeo (Saída de Emergência, 2018; Plano Nacional de Leitura), Liberdade Incondicional 2049 (Green European Journal, 2019) e Tempo (no prelo). Escreveu ainda o livro Tamem digo (Officina Noctua, 2022). Em 2014, foi um dos co-fundadores do partido LIVRE.

Nascimento

Nas Gargantas Soltas de hoje, Jorge Pinto fala-nos do nascimento e de como cada nova vida é uma possibilidade de agir e reinventar o mundo.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Como enfrentar um mundo que ameaça destruir-se a si próprio? Como viver perante o risco do confronto nuclear, da perda de biodiversidade, das alterações climáticas que alterarão para sempre aquilo que conhecemos? Perante a nossa impotência, a fragilidade humana sobressai, expondo-nos a um abismo de incerteza. Onde antes havia certeza, sobram apenas as dúvidas de uma vida e um mundo cujo controlo nos escapa. Mas há um momento em que tudo muda. Ao primeiro choro de uma nova vida, a nossa pequenez supera-nos; é também ali, naquela fração de segundo que marca a chegada ao mundo de uma nova vida, que todo o futuro se volta a escrever. 

É a força do nascimento que nos permite reinventar o mundo. Nas palavras de Hannah Arendt, o nascimento é “o milagre que salva o mundo e o domínio dos assuntos humanos” porque é na natalidade que de enraiza a capacidade de agir”. Cada nascimento, sendo um novo início, é o fio de uma nova vida e da capacidade de ação que lhe está associada. Agimos porque nascemos, não porque sabemos que a morte é insuperável.

Ora, ao longo da história, a filosofia tem-se voltado mais para a morte que para o nascimento. Percebe-se porquê: o medo do desconhecido, o fim absoluto ou, pelo menos, o final da vida como a conhecemos. É o confronto que cada um de nós tem com esse muro final que, na visão de muitos filósofos, nos levaria a agir. Arendt inverte o raciocínio e, numa frase lapidar, sentencia: “os homens, se bem que terão de morrer, não nascem para morrer mas sim para inovar”. 

A cada nascimento, a possibilidade de renovar o mundo. 

Muito para lá da filosofia, estas duas visões estão permanentemente em confronto e marcam as nossas vidas. De um lado, a renovação pela morte e pela destruição, do outro, a renovação pela vida, pelo nascimento. Aos soldados suicidas que gritam “viva a morte” responde-se com um viva a vida. Vivam as vidas. O direito à vida torna-se o direito ao futuro, dos que vivem, de todos nós. 

Tomemos como exemplo prático o genocídio em curso em Gaza: é esse direito à vida que tem sido negado a milhares de palestinianos. E do lado do governo israelita é precisamente uma visão de morte como geradora da ação que parece dominar as suas políticas. Uma visão escatológica, messiânica, assente no fim absoluto de uma nação, de um povo, de uma identidade. Tentando iludir a própria fragilidade, destrói-se o outro, um outro sempre mais frágil.

Por isso Arendt tem razão. É na vida, na nova vida, que temos de ir buscar a nossa capacidade de ação. Não apenas individual mas também – e talvez sobretudo – coletiva. Fazendo-o, torna-se inaceitável que o mais forte se afirme pela destruição do mais fraco. Reconhecendo o nascimento como a raiz de tudo, podemos então assumir plenamente a nossa fragilidade e interdependência. No fundo, podemos ser nós próprios e nascendo, recriar o mundo a cada primeiro choro. 

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

13 Dezembro 2024

Tempos Livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

12 Dezembro 2024

Israel will fuck you all

11 Dezembro 2024

42: Traição em Calcutá

11 Dezembro 2024

Maria Caetano Vilalobos: “Acho que nunca escrevi poesia que não tivesse uma parte biográfica”

9 Dezembro 2024

O Algarve está a caminho da desertificação crónica

6 Dezembro 2024

Tempos Livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

4 Dezembro 2024

42: Cidade submersa

4 Dezembro 2024

Prémio Megatendências tem candidaturas abertas até 15 de dezembro

2 Dezembro 2024

“Sociedades paralelas” na Dinamarca: fronteiras imaginárias em renovação

1 Dezembro 2024

Decrescer para evitar o colapso

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Assessoria e Escrita de Comunicados de Imprensa

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

16 Dezembro 2024

Decrescer para evitar o colapso

O crescimento económico tem sido o mantra da economia global. Pensar em desenvolvimento e em prosperidade tem significado produzir mais e, consequentemente, consumir mais. No entanto, académicos e ativistas pugnam por uma mudança de paradigma.

Saber mais

22 Julho 2024

A nuvem cinzenta dos crimes de ódio

Apesar do aumento das denúncias de crimes motivados por ódio, o número de acusações mantém-se baixo. A maioria dos casos são arquivados, mas a avaliação do contexto torna-se difícil face à dispersão de informação. A realidade dos crimes está envolta numa nuvem cinzenta. Nesta série escrutinamos o que está em causa no enquadramento jurídico dos crimes de ódio e quais os contextos que ajudam a explicar o aumento das queixas.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0