Durante 11 dias o IndieLisboa volta a ocupar o Cinema São Jorge, a Culturgest, a Cinemateca Portuguesa, o Cinema Ideal, o Cinema Fernando Lopes e a piscina da Penha de França para a exibição dos 274 filmes desta edição. Na Competição Nacional, a secção central do festival, contabilizam-se 8 longas metragens e 18 curtas. Em comunicado, a organização destaca alguns títulos.
Entre as longas metragens encontra-se Banzo, de Margarida Cardoso, O Ouro e o Mundo, de Ico Costa, e O Melhor dos Mundos, de Rita Nunes, que são algumas das estreias mundiais do festival. O novo filme de Diogo Costa Amarante, Estamos no Ar, também vai marcar presença no IndieLisboa, acompanhado por nomes como Basil da Cunha, com Manga d’Terra, Margarida Gil, com um filme estreado no Festival de Berlim, Mãos no Fogo, e Leonardo Mouramateus, com Greice. O único documentário da seleção pertence a Dulce Fernandes: Contos do Esquecimento questiona o papel de Portugal no tráfico transatlântico de africanos escravizados a partir de achados arqueológicos recentes em Lagos.
Entre as curtas contabilizam-se 18 títulos a concurso. Em estreia nacional estará o filme de Catarina Vasconcelos, Nocturno para uma Floresta, e Jorge Jácome regressa ao festival com a curta Shrooms, após a sua passagem pelo Toronto 2023. Já Frederico Lobo apresenta Quando a Terra Foge, após a sua estreia na Quinzena dos Cineastas de Cannes. Entre as 11 estreias mundiais, encontram-se títulos como Ensaio e Repetição, de Igor Dimitri, Uma Mãe Vai à Praia, de Pedro Hasrouny, Nunca Mais É Demasiado Tempo, de Bruno Ferreira, e Histórias de Contrabandistas, de Agnes Meng.
O “olhar atento e urgente sobre o mundo” é o mote deste ano, mas Susana Santos Rodrigues confessa que está presente em todas as edições. “É um dos critérios que subjaz à curadoria, em diálogo com tantos outros. Nesta edição, inspirados pelas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, ganhou um destaque maior e espoletou vários ecos em diferentes secções de forma orgânica”, escreve a co-diretora do evento, em entrevista ao Gerador.
Com a Retrospetiva MFA, mais historiográfica, a organização presta homenagem às Campanhas de Dinamização Cultural e Ação Cívica do Movimento das Forças Armadas, e com a Retrospetiva Kamal Aljafari a organização lança um olhar sobre o presente através de uma homenagem dirigida à obra cinematográfica deste realizador e artista visual palestiniano. De resto, a Palestina é também “território central” num dos “filmes farol” da secção não competitiva inaugurada este ano, Rizoma. “Trata-se do documentário No Other Land, um filme de um coletivo palestiniano sobre a ocupação israelita que causou alvoroço aquando da passagem na Berlinale este ano”, explica Susana Santos Rodrigues.
“Com a Rizoma quisemos criar uma secção âncora que pudesse ser um porto seguro para o grande público. Queríamos construir um ponto de encontro que não tivesse medo de criar empatia, que trouxesse cineastas de renome, questões relevantes da atualidade ou antestreias”, atesta a co-diretora. Nesta nova secção, o festival apresenta ainda títulos como La Bête, de Bertrand Bonello, e All of Us Strangers, de Andrew Haigh, que será também exibido na sessão de cinema do IndieDate — a experiência de encontros às cegas para cinéfilos.
Mais de duas décadas de “consistência” e de “superação”
Em 2004, o comité de seleção do festival de cinema recebeu 824 filmes. Este ano foram 5689, entre curtas e longas-metragens. “O número de filmes tem sido sempre em número crescente (com quebra durante os dois anos da pandemia, porque necessariamente muitos filmes atrasaram a sua produção). O pós-pandemia fez os números de filmes recebidos crescerem, fruto precisamente dessa retenção”, dá conta o atual coordenador da Competição Nacional e co-fundador do festival, Miguel Valverde, em entrevista, por escrito, ao Gerador.
Com exibições de filmes em cinco secções competitivas (Competição Nacional, Competição Internacional, Silvestre, Novíssimos, IndieMusic e Smart7) e cinco secções não competitivas (IndieJúnior, Director’s Cut, Retrospetivas, Boca do Inferno e Rizoma), o IndieLisboa tem evoluído de forma “consistente e permanente” ao longo dos anos, aufere o co-fundador. Ao mesmo tempo que ter uma equipa “muito coesa” e “constante” permite à organização manter viva a história do festival, as dificuldades sentidas ao longo destas décadas dão à organização a possibilidade de “olhar para o futuro com uma sensação de pés bem assentes na terra”, diz.
“Analisando os últimos 20 anos, as secções têm acompanhado de forma evolutiva a questão técnica e tecnológica do cinema [e] as tendências do cinema contemporâneo não esquecendo a sua história (mantendo a secção fundamental Director's Cut), mas [também] evoluindo em ambição em secções em que o público procura avidamente o IndieLisboa, como o IndieMusic, o IndieJúnior ou a Boca do Inferno”, refere também o coordenador.
O “enraizamento” e a defesa do cinema português
Um dos aspetos transversais às 21 edições do IndieLisboa tem sido a “preocupação” crescente com a defesa do cinema português, diz Miguel Valverde. O co-fundador salienta que o festival tem sido a “rampa de lançamento” de alguns autores e filmes através da visibilidade concedida. “É preciso lembrar que autores como Leonor Teles, Gabriel Abrantes, João Salaviza, Jorge Jácome, Carlos Conceição, Ico Costa, Mónica Lima, entre muitos outros, apresentaram os seus primeiros filmes no IndieLisboa”, destaca.
O número de títulos nos concursos nacionais permite ao coordenador concluir que o festival já se começa a “enraizar” junto dos produtores e realizadores portugueses. “Esse enraizamento tem sido um trabalho demorado, mas feito com muita confiança da parte de todos. O momento de estreia de um filme, sobretudo no contexto nacional, em que os olhos estão todos postos para quem apresenta novos filmes (ou para quem recebeu apoios que lhe permitiram filmar), é sempre complexo.”
“Cada [artista] quer defender o melhor possível o seu filme e por isso é preciso encontrar os contextos mais adequados para cada um”, salienta Miguel Valverde. É nessa base que o co-fundador acredita que a equipa tem de continuar a trabalhar para mostrar que o cinema português está “forte” e que é bem recebido. “Esse trabalho nunca pára e tem sempre de ser alimentado”, reforça.
O filme I’m not everything I want do be, de Klára Tasovská, sobre a artista checa Libuse Jarcovjáková, vai inaugurar o festival no dia 23 de maio. Já o encerramento, a 2 de junho, vai ser protagonizado por Dream Scenario, de Kristoffer Borgli, uma comédia negra protagonizada por Nicholas Cage.Para além da exibição de filmes, o evento dinamiza outras atividades. Para consultares toda a programação, podes clicar, aqui.