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Nos Açores, há uma nova vaga de artistas emergentes

Da música tradicional portuguesa ao rap, passando pela eletrónica, são vários os músicos açorianos que…

Texto de Ricardo Gonçalves

WE SEA

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Da música tradicional portuguesa ao rap, passando pela eletrónica, são vários os músicos açorianos que atravessam uma fase pujante de ascensão no panorama musical português. Nesta reportagem, falamos apenas de alguns nomes como Balada Brassado, Cristóvão Ferreira, Filipe Caetano (FLiP), Luís Branco (LBC), Rafael Carvalho e WE SEA que, no próximo mês de abril, farão parte do cartaz do festival Tremor 2019.

Oriundos de diversos campos musicais, o conjunto de projetos que aqui destacamos carregam a mesma ligação afetiva: são todos nascidos no arquipélago dos Açores. A relação umbilical com as ilhas é, aliás, um aspeto fundamental das criações destes artistas, que procuram obter mais visibilidade para os seus projetos mas, sobretudo, fazer música sem renegar as suas raízes insulares.

Os palcos já estiveram mais distantes, as barreiras são cada vez menores com o advento da Internet e há mais vontade de criar, mesmo que o mercado seja pequeno e que viajar até ao continente se assemelhe a uma odisseia atribulada. Não obstante, há sangue novo e originalidade, defendem.

“Há gente a fazer coisas, algumas delas até bastante fora do normal. Se a isto juntarmos o crescimento de festivais e de artistas, que anualmente nos visitam,  creio que o panorama está como a ilha: num momento de expansão”, começa por realçar Filipe Caetano (FLiP), DJ, que no Tremor irá dividir palco com Rafael Carvalho.

Para o produtor, a dificuldade na promoção dos projetos musicais não está na naturalidade, mas no desfasamento e no contacto com outras realidades. “Lembro-me da excitação que foi tocar a primeira vez fora da ilha, pois tudo era mais inacessível. Não viveste aqueles espaços, não tens os contactos, não conheces as pessoas, e isso é castrador num dado momento. Não digo que não o seja também para alguém de Leiria ou de Bragança, mas o avião como meio de ligação é sempre mais limitador”, explica.

Se, por um lado, Filipe se aventurou pela música mais experimental, Rafael Carvalho tem-se dedicado especialmente à divulgação da Viola da Terra, instrumento que começou a tocar aos 13 anos. O percurso junto da música tradicional levou-o ao ensino, nomeadamente, no Conservatório Regional de Ponta Delgada.

Ambos os músicos reconhecem as dificuldades do meio, mas salientam, por exemplo, o aparecimento de festivais de música como o Tremor, que “tem contribuído muito para a valorização e visibilidade dos músicos açorianos. Não só por ser um festival que tem um formato diferente do convencional, mas por apresentar desafios novos artistas”, advoga Rafael Carvalho.

Cristóvão Ferreira, por seu lado, é um nome conhecido para quem passa habitualmente pelo Tremor. O pianista tem participado ao longo dos anos, sendo que, este ano, apresenta uma colaboração com o duo eletrónico Tupperware.

Mesmo habitando a região do país com mais festivais per capita, Cristóvão reconhece que o processo normal para um músico novo nos Açores pode ser penoso e cansativo. “Há quem já tenha quase um plano de negócios para o lançamento de um EP ou de um disco, mas acaba sempre por constatar que aqui esgotamos rapidamente o público que nos ouve”, sublinha, realçando, no entanto, que todos os anos se assiste ao nascimento de novos projetos.

Alguns deles tornam-se aliás fenómenos instantâneos. É o caso da persona de Balada Brassado, assente na sátira social, ou de Luís Branco (LBC), rapper oriundo da costa sul da ilha verde.

Para este último – parte de um movimento hip-hop nascido no arquipélago durante a década de 90, através do pioneiro Sandro G –, os Açores têm hoje um panorama musical feito de partidas e chegadas, sendo necessário resistir às adversidades do tempo.

O rapper, que difunde a sua música sobretudo através do Youtube, acredita que a Internet tem sido um instrumento fundamental na difusão dos projetos musicais ali nascidos. A opinião é corroborada por Cristóvão Ferreira que defende que os artistas açorianos devem apostar cada vez mais numa “melhor apresentação”, em especial, nas redes sociais. “A angariação de um bom canal é crucial para se conseguir que o artista percorra os roteiros corretos”, afirma.

Num outro espetro de sonoridade encontram-se os WE SEA, banda açoriana criada por Clemente Almeida e Rui Rofino, que vê nos seus objetivos uma tentativa de reinventar a música açoriana com base e inspiração nas peculiaridades e experiência da condição de se ser ilhéu.

Com um estilo difícil de rotular, os WE SEA terminaram, em setembro, as gravações da sua primeira longa produção que se intitula Basbaque e que vê já lançado o seu primeiro single homónimo.

Sobre o panorama musical que os rodeia, Rui Rofino refere que “a região peca por ter um circuito que para além de pequeno é específico”, ainda que existam novos projetos de grande qualidade. No entanto, face a esta condição, a banda sabe o quão difícil é fazer divulgação da música dos Açores. “Em primeiro lugar, o mercado no arquipélago é praticamente inexistente. Em segundo, há uma dificuldade enorme em fazer chegar a música açoriana ao território continental. Acho que essa é uma dificuldade partilhada pelos criadores açorianos no geral”.

Marca açoriana com forte presença no Tremor
Todos estes nomes fazem também parte do cartaz do Tremor 2019, que decorre de 9 a 13 de abril, na ilha da São Miguel. Com uma programação interdisciplinar que inclui concertos, interações na paisagem, laboratórios, momentos dedicados ao pensamento, arte e residências artísticas, o Tremor assume-se como um palco privilegiado para a música, que se fará uma vez mais ouvir no arquipélago português.

Para a maior parte dos artistas deste conjunto, não será a primeira vez que irão marcar presença no Tremor. Um passo importante e necessário para darem visibilidade aos seus projetos, mas também numa mensagem de urgência, que através de insistência e perseverança, se ajuda ao reconhecimento interno e a uma possível projeção maior.

No entender de Rui Rofino, dos WE SEA, parte da chave do sucesso está inclusive no sentimento de pertença a um ecossistema que é, inusitadamente, original. “A única coisa que os artistas açorianos podem fazer é continuar a depositar nas suas criações aquele “je ne sais quoi” tão especial e típico do ser-se Açores. Não renegar raízes e espontaneidades parece-me algo muito valioso”, termina.

Quem são?
Balada Brassado 
é conhecido como lavrador-rapper mais conhecido do Arrebentão, sendo ainda o terceiro músico mais sensual a atuar de galochas no Youtube. Produtor autodidata, as suas letras, assentes num vasto compêndio de sátira social, falam de temas profundos e fraturantes da realidade açoriana.

Cristóvão Ferreira é um pianista, natural de Ponta Delgada que, após ingressar no Conservatório Regional de Ponta Delgada, onde estuda durante 9 anos, violoncelo e piano, revela uma grande apetência, pelas tecnologias associadas à música, onde encontra a composição como forma de explorar essas valências. Em 2012 ingressa na Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo do Porto, no curso superior de música, variante Produção e Tecnologias da Música. Atualmente, dedica-se à interpretação, o piano, à docência, do mesmo instrumento e à engenharia do som.

Filipe Caetano (FLIP) é um DJ e produtor musical, a quem dágosto de viver na [in]definição, de se ir tanto à terra e tanto ao mar, de se provar o agridoce, de se estar no Lusco-Fusco. É aí que vive FLiP e tal qual volta ao disco, que não toca o mesmo, o caminho na música fez-se de discos e fez-se de máquinas, mecanismos para se extravasar o que se [ou]viu e sentiu.

Luís Branco (LBC) é um rapper, oriundo da costa sul da ilha verde. Desde 2016, sobe quatro dezenas de temas ao YouTube com raiz no boom bap que registam o trajeto de um artista com uma ligação profunda não só à sua terra como a uma vida tudo menos simples. Com um conjunto de colaboradores a que dá o nome de La Familia, conta já algumas passagens por palcos da ilha, estreando-se no Tremor em 2019.

Rafael Carvalho tem-se dedicado à divulgação da singularidade bem presente chamada Viola da Terra. A viola dos dois corações, irmã da braguesa, e dos Açores por excelência. No tempo que lhe resta, Rafael é também professor, diretor musical, produtor cultural, compositor, escritor e principal porta-estandarte vivo do instrumento.

Os WE SEA são uma banda açoriana, criada por Clemente Almeida e Rui Rofino, que vê nos seus objetivos uma tentativa de reinventar a música açoriana com base e inspiração nas peculiaridades e experiência da condição de se ser ilhéu. Em setembro do ano corrente, os WE SEA terminaram as gravações da sua primeira longa produção que se intitula "Basbaque" e que vê já lançado o seu primeiro single homónimo.

 

Texto de Ricardo Ramos Gonçalves
Fotografias cedidas pela organização do Tremor
O Gerador é parceiro do Tremor

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