Na próxima segunda feira, dia 5 de julho, o Gerador apresenta-se com um novo compromisso editorial, inspirado pelo trabalho que fizemos na última edição da Revista Gerador (maio), que teve como tema de capa — O que é o jornalismo lento?
A “falta de tempo” e a “impossibilidade de praticar jornalismo lento num espaço de redação” são fatores comummente enunciados por jornalistas, realidade que ficou acentuada com a passagem do jornalismo para a Internet, em que impera a produção de notícias constante, descorando o rigor no trabalho apresentado. No Gerador, sempre fizemos um esforço para não cair em tais práticas, mas, por vezes, temos de rever o nosso dia a dia para garantirmos que nos mantemos fiéis ao nosso propósito inicial e não nos deixamos engolir pela máquina do imediatismo.
Queremos, pois, reconquistar a ideia de perder tempo a ouvir uma pessoa, percebendo posteriormente que não temos conteúdo para uma peça jornalística através dessa conversa. Queremos ter a possibilidade de sair para campo com um plano de trabalhos e ter a liberdade de encontrar, inesperadamente, uma história lateral que nos parece mais relevante. Queremos continuar o nosso caminho de procura pela diversidade – geográfica, étnica, religiosa, económica, social, etc. —, seja nos recursos humanos, nos temas abordados ou nas fontes contactadas. Queremos aprofundar a nossa sensibilidade e não nos mecanizar em processos noticiosos, porque se perdemos a sensibilidade no tratamento dos temas, acredito que nos vamos tornando piores pessoas e isso faz de nós piores jornalistas — uma ideia que ficou muito clara quando estive à conversa com a jornalista Catarina Gomes. Queremos tempo para rever os temas que abordamos e sermos críticos sobre os ângulos que escolhemos para os abordar antes de publicar grandes reportagens ou entrevistas. No fundo, queremos tempo para pensar, tempo para dar uso ao nosso sentido crítico perante informações e declarações que recolhemos, tempo para investigar, tempo para falar com fontes diversas e encontrá-las numa sociedade que está preparada para dar fala sempre aos mesmos, tempo para encontrar os temas que não estão a ter atenção mediática, tempo para escrever em profundidade, tempo para ser jornalista.
Assim, decidimos reduzir a quantidade de conteúdos jornalísticos que publicamos para podermos aumentar a profundidade que damos ao tratamento dos mesmos. Vamos, cada vez mais, afastar-nos de notas de agenda e notícias, e apostar em conteúdos mais complexos como entrevistas ou reportagens. Não temos dúvida da relevância das notícias e notas de agenda, mas para podermos apostar noutro tipo de artigos com mais qualidade de condições de trabalho e tempo, escolhemos dar mais força aos formatos que apaixonam todos os jornalistas, as reportagens e entrevistas, e que tão importante papel desempenham enquanto consolidação do quarto poder numa democracia.
Também vamos procurar, cada vez mais, diversificar os temas que abordamos. Ao invés de nos dedicarmos a cobrir apenas a área da cultura em Portugal, procuraremos também tratar temas relacionados com a juventude, sustentabilidade, o interior do país, políticas culturais ou educação. Quanto à forma, almejamos ganhar as ferramentas e tempo para podermos levar-te aos temas que encontramos com cada vez mais recursos, seja em fotografias, vídeos, áudios ou destaques nas nossas redes sociais. Avizinham-se tempos desafiantes para esta redação do Gerador, mas, acima de tudo, muito empolgantes. Tratar-se-á de um percurso gradual, em que estamos disponíveis para falhar e encontrar novas soluções e caminhos. Tal como escrevi na reportagem de capa da Revista Gerador de maio — reportagem que dividi com a Sofia Craveiro —: “Pensar sobre o futuro é fazê-lo sempre com base na incerteza. Pensar o jornalismo é tentar prever um mundo em mutação diária. Mas no talento, criatividade e trabalho dos jornalistas portugueses conseguimos encontrar bons exemplos de jornalismo lento – existe esperança e um corpo que se move por entre o aparente caos. Cuidemo-lo.” E acrescento — façamos por, diariamente, cumprir um bom exemplo de jornalismo.
-Sobre Andreia Monteiro-
Cresceu na terra que um dia alguém caracterizou como o “sítio onde são feitos os sonhos” e lá permanece, quer em residência, quer na constante busca por essa utopia. É licenciada em Comunicação Social e Cultural, na vertente de Jornalismo, pela Universidade Católica Portuguesa, e mestre em Ciências da Comunicação, na vertente de Jornalismo, pela mesma entidade. É, desde maio de 2019, a diretora editorial do Gerador, Associação Cultural a que se juntou no final da sua licenciatura. Apaixonada pelo mundo artístico, é uma leitora insaciável, a companheira constante de um lápis e papel, uma curiosa de pincel na mão, uma amante de teatro e cinema e está completamente comprometida com a beleza da música que tem vindo a descobrir. É, desde 2019, aluna na escola de jazz do Hot Clube de Portugal. Acima de tudo, é uma criatura com pouco mais de metro e meio cujo desassossego não deixa muito espaço para tempos mortos.