Expensive Water é o novo single de They Must Be Crazy, editado no dia 20 de Março. O som portador de um desejo de união com a Terra continua a ecoar neste novo projecto.
A banda, cujo novo álbum nasce e cresce numa reflexão sensível à relação do humano com a Natureza, carregada de esquecimento e afastamento, contou com a colaboração de Selma Uamasse e com um dialecto do seu país, procurando lembrar as origens, numa atitude de reverência e homenagem.
They Must Be Crazy chamam a atenção para o facto do seu novo trabalho ter sido lançado ao mundo num contexto tão particular como aquele que atravessamos, que nos convida a pensar o nosso lugar na Terra.
Em comunicado, a banda partilha: “Ao longo dos últimos meses sentimos intuitivamente que era tempo de pararmos com os concertos para colocarmos toda a energia da banda na criação desta música. Durante esse período remexemos vezes sem conta na sua composição para ficar ao gosto de todos nós bem como da Selma, que convidámos para participar por já vir a trabalhar o elemento água (“Mati” é o nome do seu último disco e significa água no dialecto moçambicano changana), além de ter sido uma autêntica embaixadora na resposta às recentes cheias em Moçambique. Decidimos depois honrar esta criação singular com um vídeo gravado em estúdio e fazer um concerto especial só para o seu lançamento. Só nunca imaginámos que viria a ser lançada neste contexto!
Não deixa de ser irónico que um concerto com vista à sensibilização pela preservação daquilo que é essencial à vida seja cancelado por um fenómeno que vem exactamente escarrapachar a urgência disso mesmo perante todo o planeta. E na realidade, faz todo o sentido que isto esteja acontecer. Ao mesmo tempo que somos obrigados a parar, está a acontecer uma revigorante limpeza do planeta, aos olhos de todos, que nos ajuda a compreender a nossa pequenez individual, e o impacto da acção ou neste caso, da não acção colectiva."
A banda toca noutras possibilidades de leitura deste contexto, que também não devem ser ignoradas e chamam a atenção do ser humano para a realidade que pede novas formas de a habitar. Por isso, o movimento da sua mensagem é ascendente, porque surge aqui uma oportunidade de mudança e, assim, de esperança:
"O surto do coronavírus vem claramente acordar os instintos da nossa noção de corrermos perigo como espécie, colocando em evidência que os sistemas em que nos tornámos e onde nos inserimos estão cada vez mais frágeis, apesar de nos iludirmos do contrário. Mais que nunca, é necessário activar e fortificar as novas visões e movimentos globais. Mas antes temos de cair de joelhos na terra, deixar que as águas nos subam cá dentro até nos escorrerem pelos olhos, e voltar a reconhecer o respeito pela infinita força da Natureza, em todas as suas formas. “Mati Yakataika, Si Ungayawolere” é um provérbio em língua nyungwe, idioma bantu falado em Moçambique, que significa que a "água derramada, não se volta a apanhar”. Tem duplo sentido ao existir nesta música: pelo honrar ao que é sagrado antes do seu esgotamento; e pelo aceitar e perdoar os erros do passado com a profundidade que nos permita agir com força revigorada para o futuro.
É emergente entendermos que assim que isto passar, não podemos voltar às vidas com as mesmas cegueiras e comodismos dantes. Daqui a diante ou fazemos por evoluir juntos pela auto-regeneração dos nossos ecossistemas, ou continuaremos a aprender cada vez de formas mais duras, cada vez mais caras."
They Must Be Crazy é composta por 12 portugueses, cuja união pela música, particularmente afrobeat, teve início em 2014. O seu primeiro álbum Mother Nature, foi publicado em 2016. Com o tempo o público foi crescendo e a postura ética que assumem no trabalho foi sendo reforçada. Pretendem ser músicos interventivos "política, social, espiritual e corporalmente".
Texto de Raquel Botelho Rodrigues
Capa disponível na página de Facebook de They Must Be Crazy