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O falcão e a pomba

Era uma vez, num reino muito distante, há muito tempo atrás, um eremita. Ele vive…

Opinião de Jorge Barreto Xavier

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Era uma vez, num reino muito distante, há muito tempo atrás, um eremita.

Ele vive numa caverna natural, na encosta da montanha mais alta. A caverna fica no começo da suave encosta, mas nem por isso deixa de ser simples e despojada de qualquer benefício.

Todos os dias, o eremita segue um ritual imutável, desde que, adolescente, decidira escolher o modo de vida. O ritual tão dentro do seu espírito que já não tinha memória de quando fora o começo. Agora, cada jornada, ergue-a pouco antes do primeiro raio de sol e termina logo depois do ocaso do horizonte.

Finda a meditação que acompanha o acordar, o eremita dá graças pela luz da aurora. O dia inteiro é um relógio afinado, as tarefas, feitas sem automatismo, mas qual homem que conhece os gestos, transformados em rituais, os rituais, transformados em gestos.

“A beleza é um sonho, o coração puro como a água”. O mantra acompanha o fio que liga a memória, o corpo, o espírito.

Dar voz ao movimento, o adormecer da alma e o seu acordar.

Não iludir o sentido das coisas. Se bem que é sempre árduo perceber o que é o quê. E quando se percebe, logo flui a palavra entre o coração e o seu contrário.

“A beleza é um sonho, o coração puro como a água”.

Voa o falcão e a sua presa. O falcão descreve um arco. A pomba acompanha-o. O arco é um desenho, o voo uma palavra alada.

O eremita não olha o céu, é uma arrogância insensata. Nem a terra ou as árvores no vale fértil.

O ar respira-o com a economia devida aos bens raros, assim o cuidado pelo saibro do caminho, as rugas de verdes liquens sobre as pedras.

Dentro de si o falcão e a pomba, curvando o caudal do medo e da ausência.

O eremita cobre o peito das aves no seu peito, puro como a água, belo como um sonho.

Disso nada sabe, a transparência e o desejo encontram-se no comum alimento onde se dão.

Um dia, os dias deixaram de passar.

Como tinha perdido o contar do tempo, nunca soube se estava vivo ou morto e quando, no voo dos pássaros.

-Sobre Jorge Barreto Xavier-

Nasceu em Goa, Índia. Formação em Direito, Gestão das Artes, Ciência Política e Política Públicas. É professor convidado do ISCTE-IUL e diretor municipal de desenvolvimento social, educação e cultura da Câmara Municipal de Oeiras. Foi secretário de Estado da Cultura, diretor-geral das Artes, vereador da Cultura, coordenador da comissão interministerial Educação-Cultura, diretor da bienal de jovens criadores da Europa e do Mediterrâneo. Foi fundador do Clube Português de Artes e Ideias, do Lugar Comum – centro de experimentação artística, da bienal de jovens criadores dos países lusófonos, da MARE, rede de centros culturais do Mediterrâneo. Foi perito da agência europeia de Educação, Audiovisual e Cultura, consultor da Reitoria da Universidade de Lisboa, do Centro Cultural de Belém, da Fundação Calouste Gulbenkian, do ACIDI, da Casa Pia de Lisboa, do Intelligence on Culture, de Copenhaga, Capital Europeia da Cultura. Foi diretor e membro de diversas redes europeias e nacionais na área da Educação e da Cultura. Tem diversos livros e capítulos de livros publicados.

Texto e fotografia de Jorge Barreto Xavier
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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