fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de João Duarte Albuquerque

Fabricado no Barreiro, 37 anos, pai de duas doses de noites mal dormidas. Formado na área da Ciência Política, História e Relações Internacionais, ao longo dos últimos quinze anos, teve o privilégio de viver, estudar e trabalhar por Florença, Helsínquia e Bruxelas, para além de Lisboa. Foi presidente dos Jovens Socialistas Europeus e é, atualmente, deputado ao Parlamento Europeu.

O inimigo que vem de dentro

Nas Gargantas Soltas de hoje, João Duarte Albuquerque fala-nos da ação da União Europeia à luz das recentes eleições norte-americanas.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Na Europa, e um pouco por todo o mundo, as eleições norte-americanas merecem inevitavelmente destaque mediático. Um destaque muito superior ao que têm as eleições europeias, certamente, seja pelo domínio cultural americano, seja pela importância geopolítica que os EUA têm no mundo. Aos holofotes da atenção mundial, Donald Trump acrescenta uma capacidade quase inexcedível de nos fazer olhar sempre para o seu dedo que indica, e raramente para lá do seu dedo.

A atração que sobre nós exerce não é desprovida de sentido. Desde que se soube que havia vencido as eleições, Trump pôs-nos a discutir o nome de um Golfo, a falar da possibilidade de anexação de países vizinhos, de invasão de territórios soberanos de um país aliado ou da ameaça velada a outro, graças ao controlo que quer exercer no seu mais famoso Canal. As implicações que esta deriva imperialista pode eventualmente ter, por virem do líder do país mais militarmente poderoso do mundo, não são despiciendas e merecem, por entre o escárnio, a nossa atenção cuidada. Sem grande margem para perder mais tempo em reflexões inférteis, estas afirmações têm de exigir muito mais ação da parte da União Europeia.

Ao longo do primeiro mandato de Trump, repetiu-se muitas vezes em Bruxelas que haveria que tirar ilações do caminho de isolacionismo autoritário que os EUA seguiam. Mas o interregno de Biden deixou instalar na mente dos líderes europeus a ilusão de terem o luxo da inação – ou o adiamento da concretização de uma estratégia de relançamento político, económico e, também, militar da União. Essa ilusão de que nos poderíamos permitir a que tudo ficasse igual foi aproveitada de forma exímia por aqueles que veem no projeto europeu e nos fundamentos do Estado de Direito e das democracias liberais o seu principal alvo a abater.

A atração pelos holofotes americanos também pode ser explicada pelo desgosto que temos ao ver a imagem desfigurada da Europa que o espelho nos devolve. E o bode expiatório em que o populismo trumpiano se transformou. Realmente, a Europa parece ser o único continente que ainda não compreendeu que o mundo já não é eurocêntrico. Enquanto isso, estamos em vias de ter mais um governo liderado pela extrema-direita, na Áustria, que se junta aos governos de Itália, Hungria, Chéquia, Eslováquia, Finlândia, Croácia e Países Baixos – para além da Suécia, cujo governo assenta no apoio da extrema-direita. Governos e partidos que, após o desastre económico do Brexit, inverteram a sua estratégia de saída da UE e viraram agulhas para a sua transformação – destrutiva – por dentro.

No início deste ano, o Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, instado a comentar as interferências políticas e eleitorais de Elon Musk na Europa, respondeu que a União Europeia tinha ao seu dispor todos os instrumentos necessários para combater essas interferências e que prevalecia o princípio da subsidiariedade. A parte que deveria ter feito soar o alarme em Bruxelas foi o que acrescentou a seguir: “se a Comissão Europeia não sabe como proteger [a UE] contra esta interferência ou estas ameaças de interferência, então deve devolver aos Estados-Membros, à França, a capacidade de se protegerem a si próprios.”

Se a ação deliberada de Trump e seus correligionários não foi suficiente para instar a Europa à ação, espero que a constatação crua do ministro francês tenha a capacidade de colocar a Europa no caminho de uma estratégia de autonomização, de reforço da cooperação multilateral – o mundo não são só os EUA – e de aposta num projeto político, económico, social e de defesa que sirva o interesse da população europeia e contrarie a retórica simplista e iníqua da extrema-direita. É o primeiro passo para combater o inimigo populista que se instalou cá dentro. Talvez depois consigamos ombrear com aqueles que se afirmam lá fora.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

30 Maio 2025

Tempos Livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

29 Maio 2025

Maribel López: “Temos de tentar garantir que os artistas possam dar forma às suas ideias”

28 Maio 2025

Às Indiferentes

28 Maio 2025

EuroPride: associações LGBTI+ demarcam-se do evento mas organização espera “milhares” em Lisboa

26 Maio 2025

Um dia na vida de um colecionador de garrafas no maior festival de música do norte da Europa

25 Maio 2025

15 anos de casamento igualitário

23 Maio 2025

Tempos Livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

21 Maio 2025

Os Gonzaga

21 Maio 2025

A saúde mental sob o peso da ordem neoliberal

19 Maio 2025

“Resistência artística ontem e hoje”: uma conversa que junta Leonor Rosas, João Costa e Gerd Hammer

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

Saber mais

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0