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O novo consórcio europeu de jornalismo independente

Nas Gargantas Soltas de hoje, o Tiago Sigorelho fala-nos sobre os desafios do jornalismo: "Acredito verdadeiramente que o futuro do jornalismo depende de empreendimentos independentes."

Admito que sofro de alguma ansiedade sempre que me sento à mesa com pessoas de outros órgãos de comunicação social para discutir o futuro do jornalismo. Por mais informal que a conversa possa ser, acabo por ter um certo sentimento amargo na boca e um pequeno buraco na alma.

O jornalismo, enquanto pilar fundamental de uma sociedade democrática desenvolvida, não está nos seus melhores dias. O jornalismo de investigação praticamente desapareceu, a ditadura da urgência impôs-se nas redações, o jornalismo de entretenimento e o clickbait são protagonistas editoriais, a precarização e rotatividade dos jovens jornalistas é estrutural e multiplicam-se as entidades que fingem fazer jornalismo, sem estarem registadas na entidade reguladora, nem se sujeitarem às normas e ética editorial.

O grande problema, no entanto, é a sustentabilidade financeira. Encontrar um projeto editorial que não seja apenas uma despesa constante é mais complexo do que descobrir um jornalista com tempo de qualidade para fazer o seu trabalho. A receita inicial que juntava, essencialmente, dois ingredientes, a publicidade e as vendas, passou de validade e, desde então, que se procura uma nova fórmula de sucesso, sem resultados evidentes.

Tirando raríssimas excepções, os meios de comunicação são deficitários e suportados pelos seus donos por algum motivo, quer seja por um imperativo moral e social, quer seja pelo desejo de procurar influência e poder. Em Portugal, o Estado (todos nós) é um agente relevante, mas os principais órgãos de comunicação são privados, por vezes uninominais, outras vezes múltiplos e alguns, ainda, desconhecidos.

Para uma plataforma independente como o Gerador, uma associação sem fins lucrativos, não há espaço para ter saldos negativos. Se isso acontecesse, teríamos, obrigatoriamente, de fechar. Mas, para sermos financeiramente equilibrados, deixamos para trás muitas vontades e ideias que julgamos relevantes para a sociedade.

É extraordinariamente desafiante para nós fazer jornalismo lento sobre discriminação, desigualdade, juventude, sustentabilidade, o interior do país ou dar voz às pessoas que normalmente estão afastadas do circuito mediático e que têm coisas urgentes e consequentes para dizer. São poucos os investidores que pretendem estar relacionados com estes temas e o Estado português, um caso raro por toda a Europa, não acha importante apoiar este tipo de projectos para garantir que se cumpre o papel imparcial de informar.

Acredito verdadeiramente, no entanto, que o futuro do jornalismo depende de empreendimentos independentes. São estas plataformas que desbravam terrenos, que encontram modelos inovadores de trabalho, que procuram dar respostas às perguntas incómodas, que não vacilam quanto aos princípios éticos.

É exatamente por essa razão que o Gerador faz parte de um novo consórcio europeu de jornalismo, composto por sete organizações, todas independentes: Eurozine, da Áustria, Krytyka Polityczna, da Polónia, Kulturpunkt, da Croácia, Rektoverso, da Bélgica, VoxEurop, da França, VozFeminae, da Croácia e o Gerador.

Há cerca de um mês atrás, este consórcio, designado por Come Together, foi selecionado pela Comissão Europeia como um dos projetos de jornalismo a apoiar. Durante os próximos dois anos temos o compromisso de explorar novos modelos de sustentabilidade financeira, trocando experiências e melhores práticas entre os parceiros com o objectivo de publicar os resultados para inspirar toda a indústria, e de fazer jornalismo europeu de qualidade, partindo das comunidades para o geral.

Estamos, nesta fase, a preparar cuidadosamente o primeiro passo. Muito em breve abrimos um novo caminho de esperança.

-Sobre Tiago Sigorelho-

Esteve ligado durante 15 anos ao setor das telecomunicações, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca do Grupo PT, com responsabilidades das marcas nacionais e internacionais e da investigação e estudos de mercado. Em 2014 criou o Gerador e tem sido o presidente da direção desde a sua fundação. Tem continuamente criado novas iniciativas relevantes para aproximar as pessoas à cultura, arte, jornalismo e educação, como a Revista Gerador, o Trampolim Gerador, o Barómetro da Cultura, o Festival Descobre o Teu Interior, a Ignição Gerador ou o Festival Cidades Resilientes. Nos últimos 10 anos tem sido convidado regularmente para ensinar num conjunto de escolas e universidades do país e já publicou mais de 50 textos na sua coluna quinzenal no site Gerador, abordando os principais temas relacionados com o progresso da sociedade.

NO GERADOR ABORDAMOS TEMAS COMO CULTURA, JUVENTUDE, INTERIOR E MUITOS OUTROS. DESCOBRE MAIS EM BAIXO.

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