Quem tem medo dos jovens que se manifestam por uma causa justa e inadiável? Quem tem medo da ação cívica, do protesto, da luta pela defesa da ecologia e do planeta?
A ocupação, por centenas de jovens, de algumas escolas e universidades, veio confirmar a impreparação da nossa sociedade para resolver o problema ambiental. Aqueles que frequentemente se queixam do desinteresse da juventude pela política, foram os primeiros a chamar a polícia. Os partidos, para além do oportunismo pontual de um ou outro político que gosta de aparecer na televisão, ficaram apáticos, sem saber o que dizer ou fazer. Os media, como é habitual, só se interessaram pelos confrontos, prisões e outras banalidades, mas nunca pelo assunto em si.
Os jovens já perceberam que se querem futuro têm de lutar por ele. Porque a forma como a nossa sociedade está organizada não permite ir além dos belos discursos. Veja-se as COP. Já lá vão 27 Conferências pelo Clima e o resultado está à vista. Longas e bem elaboradas listas de intenções, sempre muito moderadas, mas que mesmo assim ninguém cumpre. Em resultado, o planeta continua a aquecer para além das previsões e as catástrofes aí estão a prová-lo.
Na realidade, as COP, como tantas outras conferências similares, servem como palco para a propaganda dos governos, mas sobretudo para se fazerem negócios. É um modelo que não serve para resolver problemas. E este é o problema mais sério das nossas vidas e das gerações futuras. Um problema essencialmente científico e tecnológico, mas que exige alteração de comportamentos individuais e outro tipo de gestão de cada parte e do todo do planeta. Ora, como sabemos, nenhuma destas coisas é de momento viável. Ainda estamos no tempo do consumismo e da produção desenfreada de lixo, do total desprezo pela vida animal e a maioria das pessoas gosta mais de cortar árvores do que plantá-las. As pequenas alterações, carros elétricos, reciclagem, energias renováveis, são manifestamente insuficientes para contrariar as mudanças climáticas causadas pela poluição, pelos combustíveis fósseis e, em geral, por um tipo de produção industrial extremamente nociva em toda a linha, desde as minas ao fumo das fábricas. Por outro lado, a política não mudou desde o século 19, e, pela sua natureza, não consegue mudar, a não ser para pior.
Acresce que a atual guerra na Ucrânia representa uma pausa e mesmo um retrocesso nas, já de si, frugais políticas ambientalistas. Excetuando alguma aceleração nas renováveis, a Europa volta a usar carvão, que estava banido; nuclear, que estava a decrescer; e produção de energia pelos meios tradicionais. Que tantos queiram mais guerra e não a paz só denota o estado de demência coletiva a que se chegou, às mãos de uma informação que desinforma e manipula, e políticos incompetentes e moralmente corruptos.
Em resumo. Os jovens têm toda a razão em protestar das formas que acharem mais eficazes. Nalguns casos pacificamente, noutros com algum radicalismo, como é o caso do “ataque” às obras de arte, que choca tanta gente que nunca se interessou por arte, nem pelo clima, diga-se. Por mim, que sou artista, acho uma boa ideia. Não estragam nada e dão sentido ao mais importante da criação artística. A vontade de mudar o mundo.
-Sobre Leonel Moura-
Leonel Moura é pioneiro na aplicação da Robótica e da Inteligência Artificial à arte. Desde o princípio do século criou vários robôs pintores. As primeiras pinturas realizadas em 2002 com um braço robótico foram capa da revista do MIT dedicada à Vida Artificial. RAP, Robotic Action Painter, foi criado em 2006 para o Museu de História Natural de Nova Iorque onde se encontra na exposição permanente. Outras obras incluem instalações interativas, pinturas e esculturas de “enxame”, a peça RUR de Karel Capek, estreada em São Paulo em 2010, esculturas em impressão 3D e Realidade Aumentada. É autor de vários textos e livros de reflexão, artística e filosófica, sobre a relação Arte e Ciência e as implicações, culturais e sociais, da Inteligência Artificial. Recentemente, esteve presente nas exposições “Artistes & Robots”, Astana, Cazaquistão, 2017, no Grand Palais, Paris, 2018, na exposição “Cérebro” na Gulbenkian, 2019 e no Museu UCCA de Pequim, 2020. Em 2009 foi nomeado Embaixador Europeu da Criatividade e Inovação pela Comissão Europeia.