Em Once in a Lifetime [Repeat], exposição antológica de João Onofre, inaugurada ontem na Culturgest, em Lisboa, é possível vislumbrar fragmentos que correspondem a cerca de 20 anos de trabalho do artista português.
Delfim Sardo, curador da mostra, numa visita guiada aos jornalistas, explicou que esta “não pretende ser uma retrospetiva, nem tem a pretensão de mostrar exaustivamente a obra de João Onofre”.
Patente até ao dia 19 de maio, Once in a Lifetime [Repeat] inclui trabalhos em vídeo, nomeadamente uma peça nova especificamente concebida para a exposição, desenhos de diferentes séries desde 2005, escultura, objetos, peças sonoras e performance.
De acordo com curador, a mostra, que reúne trabalhos díspares em termos dos seus anos de criação, foi concebida em torno das ideias de recorrência e repetição estruturais no trabalho do artista. É por isso, realça Delfim Sardo, pontuada por “preocupações inerentes ao seu percurso, como a a memória do conceptualismo, o fascínio pela música, bem como as grandes temáticas da arte desde o romantismo, como a morte, a tragédia, o investimento pessoal, a juventude, o desempenho e o erro”.
À porta do edifício da Culturgest, o visitante encontra desde logo a peça “Box”, um cubo em aço que tem uma dimensão de 1,83 metros — a profundidade de uma sepultura — e que remete para a escultura do artista Tony Smith, “Die”, que marcou a arte minimalista.
Lá dentro, nas salas expositivas, há vários vídeos criados por Onofre que remetem para a tensão das relações humanas, como aquele em que é mostrado um fragmento de uma cena com Alain Delon e Monica Vitti, do filme “O Eclipse”, do italiano Michelangelo Antonioni, onde continuamente entrelaçam as mãos, ou o vídeo que mostra o músico Norberto Lobo a tocar uma das suas composições perto de uma falésia, debaixo de um grande guarda-sol, abanado pelo vento.
Progressivamente, são mostrados desenhos, como alguns das séries “Degradation” e “Running Dry”, a peça sonora com partes de gravações de Carlos Paredes, nas quais se ouve a respiração do músico e vários vídeos com performances no atelier do artista.
No fecho da exposição, surge ainda o vídeo de uma performance, criada propositadamente para esta mostra, que dura mais de duas horas e meia, e onde são mostrados um grupo de músicos, um coro de gospel e um grupo de jogadores de raguebi, que tentam, sem sucesso, dizer a frase da canção “I want to know what love is”, dos Foreigner, por serem continuamente atirados ao chão por algum dos jogadores.