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OQ? lança EP homónimo de estreia: a dureza da música eletrónica fica em segredo

É arrebatador não conhecer o rosto de um artista. O anonimato provoca um desconforto positivo,…

Texto de Ana Mendes

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É arrebatador não conhecer o rosto de um artista. O anonimato provoca um desconforto positivo, uma curiosidade que insiste em levantar a questão que todos queremos fazer: quem é OQ? Na identidade oculta, OQ? descobre uma vida paralela, um renascimento musical que o conduz pela música eletrónica no seu estado mais puro. A magia deste projeto é não termos a resposta.

OQ? é um projeto experimental acompanhado por um ponto de interrogação. O músico, que se esconde por detrás de uma máscara, conta já com uma longa carreira musical, e decide surgir agora num formato 100 por cento incógnito, para se libertar de todas as perceções que o público possa ter dele. Num registo totalmente novo, despido de estigmas e comparações, OQ? explora a eletrónica mais punk e hardcore, com influências de um hip-hop primário.

Hoje, dia 30 de abril, revela-se ao mundo, mantendo em segredo a sua identidade. O EP homónimo "OQ?", é a estreia deste projeto, que alia a dureza da música eletrónica com uma forte componente visual de expressão artística e espaço urbano. Os vídeos que complementam o lançamento do EP foram realizados por Sofia Erzini e Sofia Marques, artistas portuguesas com forte ligação a Bélgica e à cidade de Berlim. No próximo dia 13 de maio de 2021, o Porto será palco da primeira atuação de OQ?, num concerto no CCOP, Círculo Católico de Operários do Porto, que promete unir várias expressões artísticas ao vivo.

Provocado pelos beats eletrizantes do novo EP, o Gerador conversou com o músico OQ?, respeitando o misticismo da personagem, oculta por uma máscara de vidro escuro. Falámos do nascimento do projeto, das inspirações e intenções do músico, e ainda da liberdade desafiante de viver um segredo.

Gerador (G.) – É a primeira vez que ouvimos falar do OQ?, o que nos podes revelar deste projeto?
OQ? – O OQ? é, acima de tudo, um estado performativo que vai desde a música eletrónica, às instalações, às performances que ligam a música à pintura. É um projeto que começou em 2019, com duas apresentações experimentais em garagens e ateliês. Primeiro surgiu o conceito, algo abstrato e sem qualquer ligação à pessoa que o faz. Quando vês um artista, associas sempre as características físicas ou até músicas. O OQ? surge para começar algo do zero, para nascer uma nova linha contínua e, a partir daí, nascem a música e as outras artes.

(G.) - Sabemos que, enquanto músico, já tens um longo percurso. De onde surgiu esta vontade de “renascer”, de começar do zero, desta vez de forma incógnita?
OQ? - São coisas que já tinha no meu “saco” e senti a necessidade de as colocar cá fora, mas não de uma forma normal, assumindo a minha personagem do dia a dia, que não coincidia com isso que tinha guardado. Fez todo o sentido criar uma personagem nova, um mundo em torno dela, para esquecer tudo o resto. Não foi um passo fácil de dar, mas foi um processo natural. A partir do momento em que se assume isso, e se vai para palco, depois passamos a gostar do ambiente. Há um pulo muito grande entre o que faço como músico e esta personagem OQ?. Espero levar algumas características, que são intrínsecas, para este projeto. Mas o salto é mesmo grande. Tenho amigos que se soubessem iam ficar chateados comigo, e tenho outros que iam adorar. [risos]

 Partindo da música eletrónica disruptiva e crua, OQ? revela-se de forma incógnita

(G) – Deve ser muito desafiante manter essa personagem em segredo. Isso não te assusta, a dificuldade de preservar o incógnito?
OQ? - A ideia, num plano geral, é que se mantenha a personagem. Vai ser difícil, claro. Talvez vá ser mais difícil a um nível local, mais próximo. Mas imagina, se houver quem escreva que “OQ é tal pessoa”, então levamos isso a tribunal, sem problema [risos]. Mas este lado incógnito é espetacular, permite-me fazer tudo. Um dos próximos passos é a vontade de confrontar e fazer coisas que normalmente tenho mais dificuldade em fazer. Vou aproveitar a incógnita para ir o mais longe possível.

(G.) – Então o OQ? é, de certa forma, libertador para ti.
OQ? – Sim, completamente. A nível criativo leva-me para longe e liberta-me. Também relacionado com estes tempos que vivemos, que permitem ligar a arte ao que se passa à nossa volta. O OQ?, que surgiu de uma forma controlada musicalmente, está atualmente bastante duro e dentro da música eletrónica está hardcore. É isso que me dá vontade de criar e que me permite este obscurantismo no som. Há um lado bastante libertador e provocador musicalmente.

(G.) - Quais foram as tuas influências em termos de identidade visual e musical?
OQ? – O primeiro nome que me surgiu é de um projeto em que um dos músicos, penso ser o baterista, toca e canta com uma máscara. Também sempre gostei dos Daft Punk, por esse lado mais obscuro. Musicalmente, e num lado mais pesado, também gosto de ir buscar coisas primárias aos Suicide e muito som hip-hop antigo, desde DMX até ao Nas. São aquelas raízes mais duras e primárias do hip-hop.

(G.) – Falas muito nesse lado mais duro, na crueza da música. Como é que esse registo se transporta para todo o projeto?
OQ? - É um lado punk e hardcore que eu tenho, e que depois me sai para a música eletrónica. Está relacionado com o lado da dureza do punk, no bom sentido, que eu gosto bastante. E depois, fazer música com o som mais cru e mais duro, usando graves, é o que me cativa mais. Embelezar esse som com efeitos e perder tempo com isso é uma característica que gosto muito na criação musical. Este álbum foi todo feito num telemóvel, nos intervalos de várias situações. Só o facto de estar condicionado a uma aplicação, e o imediato com que faço o som, depois não me apetece estar preocupado com outras coisas. Só evoluir na parte musical e manter essa rudeza do som.

(G.) - Essa espontaneidade na criação musical é muito interessante. Como é que foi o processo criativo deste álbum?
OQ? - Uma das músicas, que se chama Berliner”, foi uma música que fiz numa estadia em Berlim, onde conhecia amigos ligados às raves e à onda de tecno eletrónica, que eu não sou assim tão fã. Mas, nos intervalos em que andava sozinho pela cidade, comecei a compor a música com umas batidas. Foi muito natural, uma inspiração da cidade. Como estava lá, envolvido pelo ambiente, aquilo surgiu do nada. Tenho outras que saíram muito naturalmente, mas não tão imediatas. Eu vou compondo as coisas e sou capaz de voltar a elas passados meses. Depois sou capaz de dar muita volta às músicas, mesmo dentro do telemóvel. Hoje continuo a fazer isso, já tenho novas músicas a ser construídas e o processo é um bocado esse. Quando tenho tempo disponível abro a aplicação, escolho uma música, e volto a trabalhar nela. Se começar a sair, continuo a mexer, se perceber que não vai a lado nenhum, volto mais tarde. Não apago nada! Já cometi esse erro porque achava que não gostava do som, mas também já tive a experiência de pegar em coisas meses mais tarde e pensar “Uau, está mesmo fixe agora e não gostei nada quando fiz.”

(G.) – O que surgiu primeiro, as músicas ou o OQ?, enquanto projeto para as lançar?
OQ? - Eu comecei a compor as músicas e quando tinhas três ou quatro pensei: Isto é um projeto, vou pensar no que posso fazer com isto. Uma sessão DJ, por exemplo… E daí surgiu o OQ?. A música veio primeiro, sim. E o processo foi sempre esse, estive três meses sem fazer nada e comecei a ficar um bocado preocupado, que talvez não me apetecesse continuar. Mas, há cerca de uma semana e meia, voltei a pegar em coisas antigas e estou aqui. Quando estou num sítio onde tenho de apanhar uma seca, esperar que me chamem, um tempo morto, pego no telemóvel e, às vezes, é nesses sítios mais estranhos que me saem as coisas mais engraçadas.

O projeto experimental do músico OQ? permite-lhe uma maior liberdade de criação

(G.) – O que podemos esperar do teu EP de estreia?
OQ? -Tem muito beat, e tem muito de afro, dirty afro, e talvez um urbano afro. É também uma mistura de algumas experiências que tive. Eu queria que as pessoas pudessem pôr o disco a tocar e pusessem mesmo muito alto, tirassem a mesa do centro da sala. A minha ideia é que as pessoas se libertem, principalmente agora após o confinamento, quero que ao ouvir o disco se esqueçam de tudo o resto e levantem voo para outro lado, e depois voltem outra vez.

(G.) – Tens uma componente mais sensorial associada ao OQ?, de absorção emotiva dos sons e de toda a performance. Fala-nos sobre isso.
OQ? – Por exemplo, no concerto de dia 13 de maio, vou ter uma bailarina que vai participar na parte mais ligada ao movimento, e isso é muito interessante. Não quero que seja só um concerto de entertainment, mas quero que as pessoas possam sentir mais coisas, que é o que eu sinto quando vou a um concerto ou espetáculo. Algo que mexe comigo, me distrai para outro sítio. A ideia é que as pessoas sintam ligação com o projeto, especialmente ao vivo. Sintam a ligação por gostarem do que ouvem, ou por não gostarem, mesmo que fiquem incomodadas com o som, para mim não é mau. Isso também pode despertar nas pessoas outras coisas e se calhar algo como: Isto está-me a bater de uma maneira tão má, pode querer dizer que tenho algo a resolver na minha vida. Quero que as pessoas sintam coisas, não só ver e ouvir, mas quero que tenham a possibilidade de se abrir e deixar que o som e o ruído façam efeito nelas.

(G) – Sobre essa atuação, a 13 de maio, no CCOP, na cidade do Porto, que revelações nos podes adiantar?
OQ? - Vai ser a primeira atuação ao vivo do OQ?, numa sala grande. Estou curioso e acho que vai ser uma diversão enorme. Tenho de estar descontraído e relaxado porque vou estar de máscara, posso fazer as maiores asneiras possíveis! Fora isso, estou muito curioso para ver a reação das pessoas ao som e à batida. Ouvir em casa e no telemóvel é uma coisa, ouvir num sistema de som potente é outra. Quero que as pessoas abanem um bocadinho a cabeça! Também vou ter uma componente visual no concerto em tempo real, para além da bailarina. É tudo o que posso revelar.

Texto Ana Mendes
Fotografias da cortesia de OQ?

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