Os acrónimos, ou comummente designados como siglas, vieram para ficar neste mundo cada vez mais rápido. Quando se pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem, hoje a resposta é, invariavelmente, “pouco”. Não há tempo para nada, nem para descansar, quase nem para respirar.
Esta falta de tempo dá origem a diversas patologias mas hoje quero dedicar-me aos novos acrónimos que estão a tomar o lugar de um problema complexo, muito complexo, que é conhecido por FOMO, ou seja, Fear of Missing Out que em português podemos traduzir por “medo de ficar de fora do que está a acontecer”.
Este tema foi já discutido no Festival Mental de 2019 com uma M-Talk dedicada e, enquanto por cá ainda se tenta entender o conceito, por lá, onde se simplificam conceitos, multiplicam-se as noções. Vamos a elas? Aqui fica um sumário: JOMO, FOBO, MOMO, FOJI, BROMO, SLOMO e, finalmente, FOMOMO. para citar as mais importantes e as que estão a ser reconhecidas e discutidas.
JOMO
Se o FOMO é o medo de perder a última fotografia do instagram da amiga ou o comentário ao post que se escreveu no facebook, o JOMO é-lhe o oposto. Significa Joy of Missing Out, ou seja, o prazer de conseguir não estar dependente das redes sociais (avmos ficar por estas) de forma doentia e sistemática. Ou seja, podemo-nos perder num livro, aproveitar o intervalo comercial do filme para discuti-lo em vez de agarrar no smartphone, sair de casa sem o dito, fazer uma viagem de comboio e adormecermos com o seu embalar. JOMO é, afinal, bom!
Mas em termos de sentimentos positivos, ficamos por aqui. Os que se seguem representam vários tipos de ansiedade e podem provocar problemas muito complicados de, numa primeira fase, viver com, e numa segunda, tratar e ultrapassar.
FOBO
Fear of Better Option, ou seja, não saber o que se quer devido à imensidão de oferta. Ficar com medo de não se escolher a melhor opção porque, durante a pesquisa que fazemos, encontramos centenas de alternativas. Esta situação pode bloquear-nos, instalar pânico e um terrível medo de falhar. E, na maior parte das vezes, a solução é não pensar demasiado no assunto.
MOMO
Esta, confesso, é das mais complicadas de explicar mas, decerto, muitos de nós já passaram por ela: Mistery of Missing Out é, num repente, não podermos seguir o que os nossos amigos, conhecidos e ídolos postam porque, por um qualquer acaso, não publicaram nada durante uns minutos. A paranóia instala-se e damos por nós a fazer scroll nos vários murais sociais à procura de uma qualquer pista que nos agarre a atenção.
FOJI
Imaginem que, no extremo oposto do MOMO, somos nós que, num repente, passamos a temer o fraco impacto que as nossas publicações possam ter nas redes sociais. Começamos a ter receio ou vergonha daquilo que podem pensar sobre o que escrevemos ou publicamos, mesmo em relação aos comentários que fazemos numa qualquer notícia. Esta situação pode levar-nos a um completo desespero social-digital e, nos casos mais graves, pode provocar o total abandono das redes.
BROMO
BRO bem de Brother (Brother in arms), de amigos de peito, daqueles que se oferecem para nos defender nos maus momentos. Mas neste caso, a solidariedade pode ser tomada como pena. Explico: esses amigos, os Bros, vão para uma noitada sem nós. Divertem-se como nunca e, para não nos deixarem a pensar que perdemos uma das melhores farras da vida, evitam publicar fotos e comentários que estejam relacionados com essa festa.
SLOMO
Podemos pensar que vem de slo-mo (slow motion, câmara lenta), mas na verdade significa Slow to Missing Out, ou seja, quando percebemos que falhámos um qualquer acontecimento social onde toda a gente esteve porque n os deixámos adormecer no sofá ou perdemo-nos naquele trabalho que era para ontem. A ansiedade é real, pois podemos pensar que já não fazemos parte do grupo social.
FOMOMO
Termino como comecei. Se o FOMO foi o primeiro acrónimo a ser analisado e discutido, o FOMOMO é levá-lo ao extremo: Fear of the Mystery of Missing Out acontece quando perdemos o contacto social por algo que não podemos dominar, como ficar sem bateria, não ter rede, não ter dados, perder o equipamento, etc. Não é só o medo de perdermos o que se passa à nossa volta como a angústia de tentar adivinhar o que se passa na nossa ausência, nem que seja por horas.
São casos extremos que podem levar a comportamentos de risco.
Existem mais acrónimos e estou convencida que se abriu uma caixa de Pandora que tenta explicar todas as angústias, dramas, obsessões e transtornos com este tipo de trocadilhos.
São simples de memorizar e podem explicar muitos dramas pessoais e existenciais, mas convém ter também alguma noção de que nem tudo cabe neste enquadramento.
Como em tudo, convém sermos esclarecidos por um profissional.
E se os amigos existem, também serão eles a apontar-nos que estamos a ficar alterados.
TFBECR
Tentem Ficar Bem Evitando Comportamentos de Risco (em português é sempre mais difícil).
*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
-Sobre Ana Pinto Coelho-
É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora. Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.