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Palmira, uma memória, um espaço e um oásis que tem como palco o Materiais Diversos

A avô Palmira foi a voz que se fez ouvir para que o espetáculo nascesse….

Texto de Patricia Silva

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A avô Palmira foi a voz que se fez ouvir para que o espetáculo nascesse. Muitas avôs, Palmiras, não Palmiras que vivem em Arcos de Valdevez, ou não. Este é o princípio sem fim que Sara Duarte e Anabela Almeida levam a palco do festival Materiais Diversos, como coprodução, nos dias 8 e 9 de outubro, no Cartaxo. Assinalando-se como uma estreia, as duas intérpretes e dramaturgas, não desconhecidas entre si, constroem um espaço de pensamento basilar que reflete a constituição do que é ser humano, o que é ser mulher.

Palmira. Assim se apresenta a avô materna da artista Anabela. Desde os anos quarenta e cinquenta que a esta mulher, vivia numa zona rural minhota, em Arcos de Valdevez. Naquele tempo a Palmira era uma melhor que traçara um percurso muito diferente das outras mulheres." Teve dois filhos fora do casamento. Na época, eram chamados filho de pai incógnito e as mulheres, quando isto acontecia, tinham mais ou menos dois caminhos para a sua vida: ou aceitavam que algum homem, quando os pais não reconheciam os filhos, casasse com elas, mesmo que elas já fossem mães, ou então havia um outro que se resumia à expressão terrível adotada na zona ' vacas do monte não têm boi certo', ou seja, as mulheres que depois acabavam por ter vários filhos de diferentes pais", explica Anabela.

O mote foi a história de uma mulher minhota, mas as artistas ouviram mais mulheres e homens. Fotografia de José Carlos Duarte.

Palmira não escolheu. Teve dois filhos fora do casamento, não aceitou casar com mais ninguém, mesmo tendo propostas, e acabou por se tornar costureira. Cuidou dos filhos sozinha. Tornou-se uma mulher independente. "Fez um percurso muito fora da norma, num sítio onde ainda hoje é muito respeitada." Foi a partir da história de uma mulher que num determinado contexto saiu da 'norma' que determina o lugar das mulheres que Palmira, o espetáculo, nasce. O mote foi a história de uma mulher minhota, mas as artistas ouviram mais mulheres e homens.

Tendo por base um ciclo de residências artísticas realizadas entre Novembro 2020 e Fevereiro de 2021 em Paredes de Coura, Aljezur, Monchique, Cartaxo, Minde, Alcanena e Porto, Sara e Anabela estiveram à conversa com diversas gerações, nas quais abordaram s forma como as mesmas viam e viviam o ser mulher. Mulheres, mães, filhas, tias, irmãs oriundas de diferentes contextos sociais e políticos, que desenharam um retrato daqueles que são ainda os pontos de discriminação de umas perante uns. "Tivemos três residências. Uma no Minho, em Paredes de Coura com as Comédias do Minho, mas não conseguimos falar diretamente com pessoas porque estávamos em época de pandemia e os casos eram muito elevados. Optamos por enviar umas perguntas a partir de um guião que tínhamos quando falávamos com as pessoas. Depois fizemos uma outra residência em Aljezur e Monchique, com a Lavrar o Mar, e aí sim, estivemos quatro dias mais ou menos a falar com pessoas. Elas vinham ter connosco e nós íamos ter com elas às quintas, onde moravam. Já a terceira residência foi aqui, na Materiais Diversos, online, porque já estávamos outra vez na pandemia e fizemos através da Zoom, conversas telefónicas e também entrevistamos muitas pessoas. Por último, tivemos uma quarta residência no Porto, na Pasteleira, que é um sítio onde nós vamos apresentar o espetáculo na Cultura em Expansão e também recolhemos testemunhos lá", continua.

"O próprio processo na sua forma de trabalhar e desocultar todas as camadas que a cultura foi colocando sobre o que é o biológico tornou-se a base do espetáculo, ou seja, a estrutura dramaturgica do mesmo" - Sara Duarte. Fotografia de José Carlos Duarte.

As artistas já tinham trabalhado juntas anteriormente e, mesmo que individualmente, procuravam trabalhar os conceitos que encontraram no espetáculo que apresentam, agora. "Nós sentimos que o processo de pensar estes temas é complexo. O próprio processo na sua forma de trabalhar e desocultar todas as camadas que a cultura foi colocando sobre o que é o biológico tornou-se a base do espetáculo, ou seja, a estrutura dramaturgica do mesmo", afirma Sara.

 Das longas conversas que foram tendo com as diversas vozes que ouviram e as que partilharam entre si, chegou-se a um espaço de pensamento basilar na constituição do que é ser humano. Um espaço que foi ganhando forma, "constituindo-se quase como um oásis", dizia-nos Sara. É um local onde a prática é o questionamento de conceitos de natureza discriminatória, alguns tão enraizados e naturalizados que se tornam difíceis de identificar.

"Uma espécie de forma alterada de consciência, que ganhou espaço, tempo, corpo, colocando-nos em Palmira", um lugar Palmira, um estado alterado de consciência a que se chega lentamente.

É nesta construção consciente e de espaço de Palmira que Ricardo Freitas se une para transportar o diálogo com o público até àquele lugar, através do som ao vivo, onde estas duas mulheres se encontram. Já Ângela Rocha contribuiu para que o espaço onírico se torna-se real aos olhos de todos.

Recorde-se que a criação integra o programa do 15º aniversário do Teatro Meia Volta, do qual as artistas fazem parte. Depois à Esquerda Quando Eu Disser, que, ao longo de 2021, tem vindo a desenvolver residências de criação, apresentação de espectáculos, estreias e momentos de celebração. 

Texto por Patrícia Silva
Fotografia de José Carlos Duarte

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