A pandemia de covid-19 fez aumentar os episódios de urgência de pedopsiquiatria. De acordo com uma notícia publicada esta semana pelo jornal Público, há cada vez mais situações de perturbações de ansiedade, alterações do comportamento ligadas ao sono e ao apetite, chegando até a haver casos de ideação suicida ou comportamentos auto-lesivos a chegar aos hospitais.
“No Centro Hospitalar Universitário do Porto, episódios de urgência de pedopsiquiatria aumentaram 95% entre Março e Maio deste ano, por comparação com mesmo período de 2019. No Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, lista de espera para uma consulta da especialidade aumentou para dois meses, na primeira infância, e para entre quatro a cinco meses, na adolescência”, diz o diário.
Pedro Caldeira, director de pedopsiquiatria do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, explica que o maior problema é que os serviços não estão preparados para dar resposta a este aumento de solicitações, o que resulta em tempos de espera prolongados. “Para a primeira infância, o tempo médio de espera é agora de dois meses, quando foi sempre abaixo de um mês. Para a segunda infância, são três a quatro meses e, para a adolescência, são mais quatro a cinco meses”, conta o responsável, citado pelo Público.
Os motivos para esta situação vão diferindo consoante o momento da pandemia. Se durante o primeiro confinamento havia mais situações de urgência por alterações de comportamento, nomeadamente alimentar, durante o segundo período de confinamento, havia já uma taxa de admissão mais elevada por ideação suicida, “tendo os comportamentos auto-lesivos não suicidários e comportamentos suicidários atingido o pico de admissões após este período”, refere a pedopsiquiatra Otília Queirós. A responsável sublinha, apesar disso, não ser possível estabelecer uma relação direta de causa efeito com a pandemia devido à multiplicidade de factores envolvidos, que esta provocou (desde confinamento, a ensino à distância, à falta de socialização).
Pedro Caldeira culpa a “verborreia informativa” que diz ter espalhado o medo de forma mais célere que o vírus e denuncia a falta de profissionais da área em muitas unidades hospitalares do país. O responsável destaca ainda o agravamento dos tempos de espera para uma consulta de pedopsiquiatria, que levou a que as pessoas se deslocassem mais às urgências. “Como as pessoas não conseguem uma consulta em tempo útil, recorrem à urgência para terem uma consulta rápida ou como esquema para depois terem acesso a uma consulta mais depressa”, diz, citado pelo Público.