O ano está quase a chegar ao fim e, como em qualquer transição, somos assaltados por resoluções da possível mudança que nos espera e com retrospetivas do que fica para trás. Se a cidade do Porto tivesse de olhar para trás, muito teria de incluir nos momentos que a marcaram, nas pessoas que fizeram o seu ano e no que conseguiu alcançar, mas certamente incluiria um espaço que desde o final de 2018 se tornou um dos epicentros da cultura: o Pérola Negra.
Depois de ter sido um bar de alterne e, mais tarde, uma discoteca, é à terceira vida que o Pérola Negra se afirma e se faz ouvir - muitas das vezes sem precisar de incomodar os vizinhos. Os varões e as luzes continuam lá, mas a forma como se olha para eles alterou-se. Hoje o Pérola Negra é, mais do que nunca, um espaço de igualdade, onde não existem grandes fronteiras (e as que existirem podem ser derrubadas), com públicos que não se definem pelo gosto, mas que se deixam levar.
"Tudo começa com a ideia do acreditar que poderíamos fazer um projeto diferente desde génese pensado para um espaço histórico e icónico que já teve realmente várias vidas. Era importante a diferenciação, sobretudo no cenário cultural do Porto, e a vontade de pegar num espaço icónico com uma equipa talentosa e com uma visão foi o nosso desafio principal e sobretudo o mote para o arranque”, recordam.
Foi através da união de forças entre Sarah Domingues, a gerente, Jonathan Tavares, o programador, Pedro Rompante, responsável pelo som, pelas luzes e por ser o DJ residente, a André Forte, que iniciou o trabalho de comunicação continuado por Nuno Vieira e Raquel Nunes, ao design do Oscar Maia e do Studio Bruto e, claro, de todo o staff “que trabalha todas as noites para a casa funcionar” que a casa se ergueu e desde logo marcou a sua posição. "Concordamos todos com a sorte que temos em ter uma equipa que se deu bem e que se adaptou facilmente às necessidades de um espaço como o Pérola”, contam ao Gerador.
Em cima o dia 8 de dezembro de 2018, em baixo a passagem de ano de 2018-2019
Do letreiro à entrada com frases que têm tanto de engraçadas como de provocatórias, aos vídeos de divulgação da programação, até às "festas épicas" - palavras de quem as frequenta - eternizadas em Polaroid, o Pérola Negra partilha a sua identidade em diferentes frentes, sem se fechar em qualquer tipo de caixa. Mas afinal, o que é o Pérola? Uma discoteca, um clube noturno, uma sala de espetáculos? Ou nenhum dos três?
O club que é um pólo cultural
"Somos um club como o nome indica, mas queremos sempre a caixa um pouco aberta. Manter uma mistura de estilos e géneros distintos, concertos, dj sets, performances… o público do pérola é um público que se adapta porque tem também oportunidade para isso na nossa casa”, explicam.
Do ano que passou guardam “bastantes momentos memoráveis”. "Uma das memórias que nos assalta mais rápido é o concerto de Dealema com a Pérola Negra Band, com um ambiente único e com banda feita a pensar naquele concerto, por pessoas importantes no panorama musical portuense”, começam por enumerar. "Tivemos vários DJs como ESA, Marcellus Pittman, Pantha du Prince, DJ Stingray e outros tantos que sentimos que foram o motivo de várias noites memoráveis não só para nós, mas para todo o publico que presenciou. Salientar também que muitas dessas noites memoráveis devem-se aos nossos promotores externos, que fazem da nossa casa a deles e fazem festins inigualáveis”, concluem a ideia.
As fotografias Polaroid eternizam desde o início as noites do Pérola | Ambas da noite de 26 de outubro
No primeiro aniversário prepararam uma festa que fez justiça a toda a programação que já compunha as suas memórias e, apesar de uma inundação que só agitou águas e nada mudou nos planos iniciais, celebraram durante dois dias. A 22 e 23 de novembro as noites fizeram-se com música, mas não só. Coube à companhia de teatro Palmilha Dentada fazer as honras da casa, abrindo portas às possibilidades que cabem dentro daquilo que é um club.
"A parceria com a Palmilha Dentada foi algo muito querido por todos nós e também sentimos que esse forte trabalho de equipa falado anteriormente também é sentido com eles. Termos oportunidade de ter outras disciplinas artísticas no espaço é algo que queremos continuar a ter. Esta residência da Palmilha continuará na casa em 2020, surgindo a oportunidade com esta nova peça de apresentarem artistas novos, emergentes, e dar-lhes um palco especial”, sublinham.
Abrir a nova década com um caminho seguro, mas sempre aberto
A entrada em 2020 já carrega a responsabilidade de manter o ritmo a que o Porto e os portuenses se têm vindo a habituar, mas para o Pérola Negra os desafios (nunca) são um problema. O futuro do Pérola "trará coisas novas, coisas boas, e o espírito da casa ao qual habituamos o nosso público existe após um ano de colaboração conjunta”, partilham com o Gerador.
Essa colaboração conjunta faz-se “através de um processo de escuta activa às reacções e feedback do público, uma curva de aprendizagem que irá resultar numa constante procura de sustentabilidade e de maturidade na direcção do clube para que se torne na oferta necessária à cena portuense". "Vamos manter um posicionamento internacional fresco e de suporte às estruturas locais adequadas ao crescimento do espaço de forma multi interpretativa e explorando as plataformas existentes no clube”, concluem.
Para entrar na nova década a dançar, o Pérola preparou uma festa de final de ano com início marcado para as 23h00 e com um lineup composto por nomes que já são da casa: Undergarden Soundsystem, XXIII Soundsystem e Pérola Negra Soundsystem.
Deste primeiro ano restam as memórias de todos os que por lá passaram, as Polaroids que não deixam esconder o ambiente que por lá se vive e o espaço que o Pérola Negra Club conquistou na cena cultural do Porto. Podes acompanhar o que por lá se vai fazendo através do Facebook e do Instagram.