fbpx
Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Pode a arte ser útil?

Já a vislumbrar o futuro próximo, livre de restrições, é preciso refletir sobre o que…

Opinião de Sara Barriga Brighenti

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Já a vislumbrar o futuro próximo, livre de restrições, é preciso refletir sobre o que se seguirá aos estados de “alerta”, “calamidade”, “emergência”...  Tudo o que vivemos alterou a consciência que temos do mundo, mostrou que estamos interligados e evidenciou o quanto a arte nos faz falta.

I.

Cuidar e apoiar são ações que ganharam nos últimos meses maior visibilidade, reconhecemo-las nas esferas da saúde e da ação social, porém, têm igual enquadramento no âmbito da cultura: sem livros, espetáculos, cinema ou exposições, a vida torna-se insipida, “sem graça”.

É verdade que a cultura salva, cuida do bem-estar das pessoas, dá esperança e contribui para a redução dos estados de ansiedade e solidão. Creio que muitos já se questionaram sobre como sobreviveríamos a futuros confinamentos, e à perda, sem a ajuda da música, da literatura, do teatro, da artes, nas suas múltiplas formas. Na verdade, somos mais felizes porque sabemos que os locais de património resistem e perduram! Que os teatros estão abertos, as bibliotecas, os centros culturais, os museus estão abertos.

Justamente, a responsabilidade de manter os equipamentos culturais nacionais abertos é simbólica e é tácita, e resulta do compromisso das políticas culturais com os cidadãos. A abertura destes equipamentos revela determinação e resiliência, constituindo-se estes indicadores — de confiança, de segurança, de estabilidade — como essenciais para o reconhecimento da relevância da cultura no sistema social.

Em plena crise e com exigentes normas de contingência, os equipamentos culturais são capazes de acolher os públicos, de adequar as suas rotinas aos novos horários ou gerir as equipas de acordo com as necessidades ditadas, sempre com a vontade de estar presente, mostrando que são uteis àqueles que servem seguindo uma linha de ação que “cuida”.

A resposta à questão que dá título a esta crónica: “Pode a arte ser útil?’” foi, em alguns casos, o lema para a concretização de projetos, desenvolvidos e implementados diretamente com as comunidades. De resto, estas experiências co-criativas, que seguiram o princípio de construir “com” e não “para”, revelaram-se adequadas ao contexto inédito que vivemos e capazes de promover relações autênticas de colaboração e confiança.

II.

Inspirada pelas pessoas que levam as artes e a cultura aos lugares mais distantes e aos contextos mais adversos, gosto de pensar que por força deste período que vivemos é possível encontrar alternativas, como alterações na mobilidade, na produção, no consumo ou no trabalho.

Esta possibilidade de imaginar um outro futuro para o planeta exige coragem para reequilibrar prioridades e necessidades, desejos e expectativas, direitos e deveres. Imaginar esse futuro alternativo implica acreditar que o podemos fazer coletivamente, envolvendo grupos onde a voz do cidadão está bem presente, e nisto é essencial um pensamento divergente e inclusivo, vindo dos cidadãos ativos, criativos, visionários, a gizar vários planos, várias ações, várias vozes.

Agrada-me também projetar que no rescaldo da pandemia não voltamos ao local de partida. Desenhar um plano com a escala necessária para chegar aos contextos de maior complexidade. Neste plano vejo especificamente a importância do papel dos artistas na construção da estratégia e da ação, no terreno, junto das pessoas, valorizando as artes e a criação, com os consequentes impactos sociais. Imagino um projeto amplo e transnacional, com equivalente investimento na produção, na participação, na fruição e na educação.

É justamente em situações desafiantes como esta que vivemos que deixamos claros, nas decisões que tomamos, os princípios e os valores com que nos regemos e o que queremos para a nossa comunidade, assim, no futuro que desejamos e que já estamos a construir, a arte é um bem útil e de primeira necessidade.

– Sobre Sara Barriga Brighenti –

Museóloga, formadora e programadora nas áreas da educação e mediação cultural. É subcomissária do Plano Nacional das Artes, uma iniciativa conjunta do Ministério da Cultura e do Ministério da Educação. Coordenou o Museu do Dinheiro do Banco de Portugal e geriu o programa de instalação deste museu. Colaborou na elaboração de planos de ação educativa para instituições culturais. É autora de publicações nas áreas da educação e mediação cultural.

Texto de Sara Barriga Brighenti
Fotografia de Ana Carvalho

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

25 Abril 2024

Disco riscado: Todos procuramos um lugar a que possamos chamar casa

25 Abril 2024

Liberdade, com L maduro!

23 Abril 2024

O triângulo da pobreza informativa na União Europeia. Como derrubar este muro que nos separa?

23 Abril 2024

Levamos a vida demasiado a sério

18 Abril 2024

Bitaites da Resistência: A Palestina vai libertar-nos a nós

16 Abril 2024

Gira o disco e toca o mesmo?

16 Abril 2024

A comunidade contra o totalitarismo

11 Abril 2024

Objeção de Consciência

9 Abril 2024

Estado da (des)União

9 Abril 2024

Alucinações sobre flores meio ano depois

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação à Língua Gestual Portuguesa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online ou presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Comunicação Digital: da estratégia à execução [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

O Parlamento Europeu: funções, composição e desafios [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Pensamento Crítico [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Práticas de Escrita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 ABRIL 2024

A Madrinha: a correspondente que “marchou” na retaguarda da guerra

Ao longo de 15 anos, a troca de cartas integrava uma estratégia muito clara: legitimar a guerra. Mais conhecidas por madrinhas, alimentaram um programa oficioso, que partiu de um conceito apropriado pelo Estado Novo: mulheres a integrar o esforço nacional ao se corresponderem com militares na frente de combate.

1 ABRIL 2024

Abuso de poder no ensino superior em Portugal

As práticas de assédio moral e sexual são uma realidade conhecida dos estudantes, investigadores, docentes e quadros técnicos do ensino superior. Nos próximos meses lançamos a investigação Abuso de Poder no Ensino Superior, um trabalho jornalístico onde procuramos compreender as múltiplas dimensões de um problema estrutural.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0