A disputa pelo poder entre a própria espécie é um desporto que muito animais praticam, principalmente se forem do tipo gregário, que necessitem da sociabilização para sobreviverem. Acontece assim com macacos, com leões, com pássaros e mesmo com insectos.
A estes animais a quem decidimos chamar de humanos sucede o mesmo, embora com as subtilezas necessárias a quem tem capacidade criativa. De uma forma mais ou menos expressiva, a tipologia dos poderes tem-se mantido estável ao longo dos últimos milhares de anos. Conto, acima de tudo, cinco tipos:
O poder bélico, aquele assumidamente mais relevante nos primeiros passos da nossa espécie, com a invenção das armas simples, como paus e pedras, mas que permanece inquestionável no equilíbrio das nações atualmente, embora de forma mais silenciosa nas mais recentes dezenas de anos.
O poder espiritual, aquele que é capaz de convencer milhões de pessoas a rumar no mesmo sentido, mesmo sem razões práticas para que isso aconteça. O exercício das religiões atribuiu, e ainda atribui, aos seus protagonistas uma capacidade de influência extraordinária.
O poder do dinheiro, aquele que todos sonhamos em termos numéricos, que é o portal para o acesso à nossa necessidade de coisas materiais. É, talvez, o tipo de poder que mais vezes falamos, simplesmente por que está permanentemente nas nossas vidas, em qualquer cultura, em qualquer parte do mundo.
O poder do conhecimento, aquele que provem da educação, da capacidade de aprender, raciocinar e criar. Deter o conhecimento, principalmente o tecnológico, sempre foi uma vantagem para as nações e culturas que o estimulavam, como forma de estarem à frente de outras.
O poder corporativo, aquele que protege o grupo do qual fazemos parte, familiar ou resultante de interesses comuns. A possibilidade de termos acesso a determinadas oportunidades e situações, apenas porque temos um grau de parentesco, um amigo bem posicionado ou moramos num determinado território.
As formas políticas de estruturar a sociedade organizam-se à volta destes poderes, tentando que pelo menos alguns deles sejam acessíveis à comunidade, dependendo se estamos a pensar numa democracia ou numa ditadura, para ser simplista.
No entanto, nos últimos 50 anos, mais coisa, menos coisa, surgiu uma nova forma de poder, a popularidade. No início, era só acessível aos privilegiados, mas, à medida que os anos traziam novas tecnologias capazes de transformar o espaço mediático, começou a alastrar-se a outras camadas da população.
Como é uma invenção muito recente, ainda estamos num processo de habituação sobre a sua real importância e consequência. Curiosamente, ao contrário de todos os outros tipos de poder que descrevi em cima, a popularidade parece acessível, nos dias de hoje, a qualquer pessoa. E, nesse sentido, é o poder mais democrático que existe.
Nota-se isso mesmo no enorme número de programas televisivos, tipo reality shows, que dependem da procura deste poder. E ainda mais se constata quando passamos para o mundo das redes sociais. Os chamados influencers vivem, literalmente, da popularidade. E, efectivamente, exercem poder sobre outras pessoas.
A importância da popularidade é tanta que é o factor mais determinante na escolha de um político que vai liderar uma nação, nos países em que eleições livres o permitam. Se alguém não for popular, no sentido de ser conhecido, então não tem qualquer hipótese de ser eleito. A popularidade, infelizmente, é mais forte que os ideais. Basta considerar a eleição do Trump.
É por isto que acredito que este poder veio para ficar. Por que já hoje decide o caminho das nações democráticas.
-Sobre Tiago Sigorelho-
Formado em comunicação empresarial, esteve ligado durante 15 anos ao setor das telecomunicações, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca do Grupo PT, com responsabilidades das marcas nacionais e internacionais e da investigação e estudos de mercado. Em 2014 criou o Gerador e tem sido o presidente da direção desde a sua fundação. Tem continuamente criado novas iniciativas relevantes para aproximar as pessoas à cultura, arte, jornalismo e educação, como a Revista Gerador, o Trampolim Gerador, o Barómetro da Cultura, o Festival Descobre o Teu Interior, a Ignição Gerador ou o Festival Cidades Resilientes. Nos últimos 10 anos tem sido convidado regularmente para ensinar num conjunto de escolas e universidades do país e já publicou mais de 50 textos na sua coluna quinzenal no site Gerador, abordando os principais temas relacionados com o progresso da sociedade.