Baseado num ciclo de seis fases – sufoco, cegueira, solidão, reconstrução, liberdade e luta – o conjunto de obras exposto na COMUR – Museu Municipal da Murtosa desmistifica “os moldes existentes na sociedade que atrasam a evolução para a igualdade”, refere a sinopse. A ideia da artista origina-se nas experiências, boas e más, de ser mulher, desde os apontares de dedos até a sororidade.
“O sufoco é a pressão da sociedade para que sigamos um caminho tradicional. Aos poucos, aloja-se em nós a cegueira, quando começamos a interiorizar aquilo que nos dizem e, sem querer, esquecemo-nos da nossa identidade. Assim, caímos na solidão, onde nem nós somos nós e nem temos amor por nada daquilo que fazemos. A reconstrução é o momento em que nós, com ou sem ajuda – porque pedir ajuda é normal e não podemos apontar o dedo a quem o faz – nos reerguemos das cinzas. Daí vem a liberdade de ser como queremos e a luta, para mostrar que ninguém precisa ficar na perda de identidade para sempre”, explica Maria ao Gerador.
A jovem, no entanto, dispensa o uso de legenda nos quadros, deixando o trabalho aberto à interpretação e abrangendo as experiências dos diferentes géneros e idades. Na inauguração da mostra, no dia 6 de junho, disponibilizou uma tela em branco para os visitantes libertarem as sensações causadas pela sua arte.


“Identidade” ajudou-a a refletir sobre a sua relação “agridoce” com as artes. Apesar de ter uma inclinação para a área desde muito nova, Maria decidiu trabalhar na exposição para perceber se era realmente esse o caminho que queria seguir. Agora já sabe a resposta: no próximo ano letivo vai trocar a Engenharia Informática por um curso de artes.
A mostra é composta apenas por telas, mas a artista também é apaixonada pela música e deseja, no futuro profissional, conciliar mais de uma área artística. Para o evento de abertura, fez questão de preparar uma pequena apresentação com um grupo de amigos. “Guarda-me esta noite”, de Valter Lobo e “Inquietação”, de José Mario Branco, foram as canções que embalaram a tarde “dedicada aos jovens e feita por jovens”, recorda.
“Meio caminho andado para a coisa ter sido feita” diz ter sido o apoio da Câmara Municipal, a qual elogia pela prestação aos projetos da juventude local. Sabendo que não ia ser posta de parte, apresentou a proposta criativa e levou os seus trabalhos do secundário como portfólio. Sobre o processo, afirma ainda ser “bonito de se ver” uma abertura às novas vozes e ideias em espaços públicos.
A primeira exposição de Maria Valente está aberta a visitas na COMUR – Museu Municipal da Murtosa, até ao dia 26 de junho, com entrada gratuita.