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Quem é o homem negro? E onde está a sua voz?

Nas Gargantas Soltas de hoje, Mafalda Fernandes reflete sobre a posição do homem na sociedade.

O homem negro é visto aos olhos da sociedade como um monstro, como alguém que não tem direito a ser amado, ou a amar. É colocado por diversas vezes na mesma "caixinha" que o homem branco cis heteronormativo, como sendo apenas e só opressor. Esquece-se a violência policial, os insultos ao imitarem macacos e ao atirarem de bananas. Esquece-se a dificuldade no acesso ao emprego, à habitação e até mesmo à saúde. Multiplica-se a sua hipersexualização, como se o "algo a mais", lhe concedesse dignidade humana. 

Ficamos presos à ideia, do que é um homem, centralizando a imagem mental criada do homem branco. Vamos compreendendo que este homem branco, poderá ter diferentes orientações sexuais, e por isso procuramos integrar as mesmas com muita dificuldade, no nosso pensamento e por certo na sociedade. Mas e então e o homem negro?Não é cuidador porque é pai ausente, é agressivo e principalmente representa um perigo. Poderíamos desconstruir todos estes estereótipos, mas eu prefiro começar esta conversa num ponto inicial, em que o homem negro é humano e tem dignidade. 

Devido a todo o machismo perpetuado em primeira instância pelo o homem branco, agora temos o homem negro sozinho, desamparado e sem liberdade de se expressar. Temos um homem negro que com muita dificuldade se assumirá como homossexual se assim o for. Temos um homem negro que ficou sem voz e que num canto isolado, aplaude as tentativas constantes da mulher negra em usar a sua voz. Não é suficiente. 

Nós mulheres negras, temos de parar de exigir do homem negro aquilo que a mulher branca exige ao homem branco. Nós mulheres negras temos que nos lembrar que as exigências devem ser feitas com base no amor, no carinho e no afeto. Ser mulher negra e lésbica é difícil, vamos fazer o esforço de imaginar a dificuldade de se ser homem negro e homossexual. 

Nós, comunidade negra, temos de parar de excluir determinadas orientações sexuais do homem negro. Nós, comunidade negra, temos um longo caminho a percorrer, no que toca a acolher os nossos. São muitas sobreposições de identidades numa pessoa só. Digo que são muitas porque todas elas são um peso e um orgulho. É nosso papel como comunidade, aliviar este peso e apelar ao orgulho. 

Existem diversos artigos científicos e não-científicos que centralizam a mulher negra e a sua experiência. Artigos que falam da sua solidão, da sua vivência como mulher, da sua orientação sexual. Mas e então e o homem negro?

Normalizem o afeto entre dois homens negros, normalizem a capacidade de amar e de ser amado. Porque a solidão da mulher negra poderá dar-se pela escolha do homem negro ficar com a mulher branca, mas isso não explica tudo, pois o homem negro também está sozinho. A solidão do homem negro existe. Nós é que no meio de tanto sofrimento próprio e alheio nos esquecemos que o homem negro também sofre com o racismo. E nesse esquecimento ficou também perdida a voz do mesmo. 

Eu quero iluminar as vidas de homens negros trans, de homens negros gays, de homens negros. Quero, acima de tudo, relembrar as suas existências, as suas vozes, e as suas lutas. Quero relembrar que o homem negro é o espelho da mulher negra numa sociedade que é ditada pelo racismo que ambos vivenciam.

Por vezes questiono se não serão os homens negros quem mais precisam de ser salvos. Salvos desta sociedade doentia que não deixou outra alternativa ao homem negro que senão aceitar, cumprir dever, concordar, apenas e só estar, mas nunca existir. E quem nunca existe, todo o mal reproduz. 

-Sobre Mafalda Fernandes-

Nascida e criada no Porto, filha de pais brancos e irmã de mulheres negras. Formada em Psicologia Social, o estudo e pensamento sobre problemas sociais relacionados ao racismo, são a sua maior paixão. Criou o @quotidianodeumanegra, página de Instagram onde expressa as suas inquietudes. Usa o ecoturismo como forma de criar consciência anti-racista na sociedade. Fã de Legos, livros e amizades, vive pela honestidade e pelo conhecimento. 

Texto de Mafalda Fernandes
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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