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Quem ganha com as mulheres desunidas?

Nas Gargantas Soltas de hoje, Amanda Lima escreve sobre o ódio gratuito entre mulheres e o quanto isso pode ser perigoso e prejudicial para nós mesmas.

Feminicídio, estupro, todos os tipos de violência, pobreza menstrual, desigualdades, assédio, jornada tripla, falta de acesso aos direitos mais básicos, como água, alimentos, energia elétrica e educação. São apenas alguns dos muitos problemas enfrentados por nós mulheres* no mundo, pelo simples fato de existirmos neste planeta.

Apesar de óbvio, é essencial assinalar que os problemas se tornam ainda maiores se adicionarmos recortes como raça, orientação sexual, gênero, classe social e local onde moramos. Seja nas ruas do Centro Lisboa, nos comboios lotados de trabalhadoras rumo à área metropolitana depois de uma jornada exaustiva de trabalho, no interior do Brasil, de países africanos ou do Oriente Médio, estamos todas, em maior ou menor grau, reféns de uma sociedade que ainda possui como base o machismo.

Graças à luta de mulheres heróicas no passado, temos hoje um movimento universal feminista, palavra causadora de arrepios em muitos homens em pleno ano de 2023. Infelizmente, parece que o sentido real do feminismo e da sororidade se perde em discussões fúteis e sem sentido, que ocupam as redes sociais. Consequentemente, ocupam um tempo valioso. Tempo que poderia ser utilizado de uma maneira mais útil. 

Vejo com tristeza quando mulheres atacam umas às outras, criando uma corrente de ódio nas redes sociais e ainda mais divisões em um mundo já dividido. Não basta que nós mulheres tenhamos que receber misoginia masculina, temos que lidar também com o ódio gratuito de mulheres? É estúpido, preconceituoso, contraproducente e perigoso.  

Podemos ter divergências políticas, de esporte, de visões de mundo e de todos os temas, mas não deveríamos deixar de lado o princípio básico da sororidade. Obviamente não estou falando de divergências intrínsecas, como pessoas que defendem o racismo, apenas para citar um por exemplo. Além de razões pessoais e íntimas, algumas condições são inegociáveis, porque afetam o princípio de humanidade e existência.

Não precisamos ser todas amigas para sempre e fingir que o mundo é lindo (até porque não é e se existe alguém que sabe disso somos nós). Mas só saímos prejudicadas com ataques gratuitos feitos com base na aparência física, na maneira como produzimos o conteúdo das nossas redes sociais, profissão e outros temas.  

Estamos em 2023 e já deveria estar mais do que superado entre nós mulheres estereótipos como "mulher inteligente não pode ser bonita". Se até alguns homens conseguem superar, o que nos impede? Além de já estar superado, não deveria jamais ser motivo de discussões, enquanto no mundo real temos aquela longa lista de problemas comuns. 

Quem ganha com a desunião e a rivalidade feminina? Somente os homens machistas. Aqueles que nos objetificam. Aqueles que nos odeiam, que são contra aquilo que queremos. Porque sim, enquanto mulheres feministas, no fundo, queremos o mesmo: direitos, liberdade, respeito, igualdade, segurança, amor. Temos mais coisas para nos unir do que o contrário.

Enquanto seres humanos, em um mundo com guerra, alterações climáticas e desigualdades financeiras gigantes, deveríamos nos preocupar com os problemas reais, mas às vezes as ignoramos por pura futilidade e rivalidade. Podemos apenas olhar para o lado no nosso dia a dia ou pesquisar como é a vida de outras mulheres em localidades distantes: os problemas nos unem. 

Reconhecemos o olhar triste de uma mulher que está sendo vítima de violência de gênero. Reconhecemos a face da exaustão de quem trabalhou o dia todo e ainda terá que enfrentar sozinha todo o trabalho doméstico e o cuidado com as crianças para recomeçar tudo no dia seguinte. Reconhecemos a expressão de quem não possui dinheiro suficiente para ter uma vida digna, para comprar um item essencial como o absorvente menstrual ou um remédio para dor de cabeça.  

Tenho certeza que basta pegar um transporte público no horário de pico para vermos esses e outros exemplos. Essa é a vida real. Uma coisa que já fiz e observo ser comum, é um tímido sorriso entre nós mulheres. É como dizer, sem usar palavras: "eu sei". Uma sororidade sem ser um grande gesto prático, mas que passa conforto, mesmo que momentâneo. É quase uma resposta baseada no instinto de sobrevivência, por estarmos unidas por esse fio invisível ou visível da desigualdade de gênero. 

Precisamos de mais sorrisos e de mais atenção com a realidade para resolver os problemas comuns, mesmo que com caminhos diferentes, mas unidas pelo mesmo resultado.  Já basta que o mundo e muitos homens nos odeiem, vamos mesmo incluir mais essa poderosa camada de ódio sobre nós mesmas? Espero sinceramente que não. 

*O termo mulheres utilizado no texto se refere a todas as pessoas que se identificam como tal, sem exclusão de nenhuma identidade de gênero.

-Sobre a Amanda Lima-

Jornalista nas horas vagas e ocupadas, é brasileira e vive em Portugal há três anos. Os temas de principais interesse são sobre género, imigração, direitos humanos e política. Comenta e escreve atualidades na CNN Portugal e acredita que o jornalismo é a profissão mais divertida do mundo. Viciada em cafeína, vídeos de pandas e em contar boas histórias. 

Texto de Amanda Lima
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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