fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Nuno Varela

“Racism Is Not Getting Worse, It’s Getting Filmed”*

Como preto, nascido e criado nesta cidade, sempre concordei com este tipo de afirmações. O…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Como preto, nascido e criado nesta cidade, sempre concordei com este tipo de afirmações. O racismo não está pior, está a ser filmado. O facto de, hoje em dia, tudo ser documentado, dá a sensação de caos e de pânico para quem não vive nessa realidade. Como diz o Sam the Kid, se nunca foi ouvido ou visto é fresh, o mesmo se passa com estes assuntos.

Portugal não é um país racista, mas está cheio de racistas. E um racista não é só aquele que grita aos quatro ventos “preto vai para a tua terra!”. Existem várias situações que nós, pretos, passamos diariamente e, por mais que pensemos que algo mudou, há sempre algo que nos puxa de volta para a realidade e nos mostra que está tudo na mesma.

Vivo numa relação inter-racial, sendo certo que discriminação e racismo é algo muito presente na nossa família. Até o meu filho, que tem apenas 13 anos, já viveu isso no futebol, num desporto que, principalmente para a idade dele, deveria ser apenas fomentador de diversão e educação.

Em relação à violência policial, para mim isso é um cancro que cresce à velocidade da luz. E não vou mentir: sinto um orgulho enorme quando vejo um polícia preto, é como se me sentisse seguro perto dele, porque para dizer a verdade, eu não me sinto seguro na presença de nenhum polícia. Não quero com isto generalizar, porque sei que nem todos os polícias me vêm como inimigo, mas ao longo destes 36 anos, se analisar todas as situações que tive com polícias, nunca foram boas. Bem, poderão muito bem pensar: “para teres encontros com a polícia, coisa boa não devias estar a fazer”… errado! Por mais errado que uma pessoa seja ou seja errada a situação em que se encontra, a polícia deve, sempre, saber agir, devem ser eles (os polícias) a saber controlar as situações e gerir os conflitos, afinal, foram formados e treinados para isso (ou será que não?), caso contrário nem deviam ser polícias.

Já assisti a inúmeras situações de racismo policial com amigos, com o meu pai ou com o meu filho. Isto é normal?! Não, não é.

Ao ver o vídeo perturbante de George Floyd, pensei em quantas situações estive em que o desfecho poderia ter sido esse. E isto fez-me pensar se o polícia que o matou, de forma cobarde, tinha a mesma forma de pensar que o polícia que matou o meu amigo Snake.

Aconteceu nos Estados Unidos, mas também acontece aqui em Portugal e já aconteceu em França, eles deviam defender-nos, mas, antes pelo contrário, estão a matar-nos.

Eu cresci num meio onde os abusos policiais sempre estiveram presentes, até ao ponto de começar a vivê-los na pele. Sempre me fez uma certa confusão, pois eram pessoas formadas e que deveriam ter a capacidade de defender, ajudar e ser amigo de toda a comunidade. Aquela minha ideia do polícia bom, que visitava as escolas primárias, afinal estava completamente errada.

Às vezes, parece que os policias bons estão nas passadeiras a ajudar as velhinhas a atravessar a rua e os polícias maus andam pelas ruas da cidade, à caça de vítimas.

Como é possível um homem estar algemado, no chão, completamente imobilizado e a suplicar pois não consegue respirar e ninguém faz absolutamente nada? Foram quatro polícias… um só homem sem oferecer qualquer resistência… só vejo maldade nisto, não consigo chegar a outra conclusão.

Esta é a altura em que devemos evitar as redes sociais, porque a quantidade de pessoas com diarreia cerebral a comentar este assunto, sem qualquer noção do que fala, é assustadora. Isto para nós, pretos, pode servir como um abre olhos, ou até mesmo criar uma onda de raiva que só pode ser prejudicial para nós próprios (passo o pleonasmo). Dá raiva, dá muita raiva, o que vemos por aí escrito, mas temos de ser mais inteligentes e, acima de tudo, formar e explicar os direitos humanos a quem está à nossa volta.

Pelas redes sociais vi um jovem PRETO que dizia algo: “às vezes é fod*d* ser preto no mundo, parece que estão todos contra nós”. Tocou me bastante pois, possivelmente, com a idade dele seria assim que eu pensava. A minha resposta a esse jovem foi: “mano, ser preto é lindo, se esqueceres a escravidão e fores ver a nossa história antes disso, mesmo depois vais sentir muito orgulho. Fod*d* é esta merda de mundo em que vivemos e estas merdas de pessoas que o habitam”.

*Frase dita por Will Smith

-Sobre Nuno Varela-

Nuno Varela, 36 anos, casado, pai de 2 filhos, criou em 2006 a Hip Hop Sou Eu, que é uma das mais antigas e maiores plataformas de divulgação de Hip Hop em Portugal. Da Hip Hop Sou Eu, nasceram projetos como a Liga Knockout, uma das primeiras ligas de batalhas escritas da lusofonia, a We Deep agência de artistas e criação musical e a Associação GURU que está envolvida em vários projetos sociais no desenvolvimento de skills e competências em jovens de zonas carenciadas.Varela é um jovem empreendedor e autodidata, amante da tecnologia e sempre pronto para causas sociais. Destaca sempre 3 ou 4 projetos, mas está envolvido em mais de 10.

Texto de Nuno Varela
Fotografia de Lucas Coelho

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

2 Julho 2025

Não há liberdade pelo consumo e pelas redes sociais

25 Junho 2025

Gaza Perante a História

18 Junho 2025

Segurança Humana, um pouco de esperança

11 Junho 2025

Genocídio televisionado

4 Junho 2025

Já não basta cantar o Grândola

28 Maio 2025

Às Indiferentes

21 Maio 2025

A saúde mental sob o peso da ordem neoliberal

14 Maio 2025

O grande fantasma do género

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

23 Abril 2025

É por isto que dançamos

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0