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Reminiscências literárias à volta da mesa

Nas Gargantas Soltas de hoje, Manuel Luar celebra o Dia Mundial das Zonas Húmidas.

Ilustração de André Carrilho

O Dia Mundial das Zonas Húmidas celebra-se anualmente a 2 de fevereiro, data da assinatura da «Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de Aves Aquáticas», em 1971.

Este dia internacional da Organização das Nações Unidas tem como fundamental objetivo sensibilizar para a proteção das zonas húmidas e sublinhar a importância que estas têm para a existência de vida no nosso planeta.

As zonas húmidas são habitat de espécies que tiveram (e ainda têm) uma grande importância para o gastrónomo, como a galinhola, a narceja e o pato real. 

Recordo a propósito o texto paradigmático de José Quitério sobre “A Galinhola Rainha” no seu livro "Bem Comer e Curiosidades",  no capítulo dedicado à "Caça no Prato". Nunca se escreveu tão bem sobre a “dama do bosque” nesta língua que é a nossa (e se calhar nas outras).

Cem páginas antes, na obra referida, podemos ler o enorme "Um adeus português ao bacalhau", texto emblemático amplamente citado na literatura da especialidade e que David Lopes Ramos – outro gigante da crítica gastronómica – considerava o melhor que alguma vez se escreveu sobre o "fiel amigo".

Estando a aproximar-se a altura de voltar a provar galinholas (só uma vez por ano e mesmo assim é preciso ter sorte. E amigos…) dou por mim a preparar por antecipação esta auspiciosa ocasião.

E no meu pensamento desejaria fazer uma homenagem a estes dois textos que tivesse a forma de aplicação prática: com pratos e talheres. 

Esgrimindo argumentos, mas não deixando de os intervalar com garfadas apetitosas, sendo que umas puxam pelos outros, como se deseja e era apanágio das tertúlias gastronómicas dos homens de letras de antanho.

Este projeto deveria ser considerado de interesse público (pelo escopo e abrangência) embora sirva apenas a gula dos intervenientes merendeiros. Quando muito poderá dar origem a algum texto com que se imortalize a ocasião para a posteridade.

A ver vamo,s como dizia o Tio Rosa, invisual de Cascais que, com a desculpa de se desequilibrar, muito aproveitava para apalpar as senhoras vendedoras dos lugares da fruta do mercado da mesma vila.

O que escolheria para comermos nesta ocasião?

Um arroz de bacalhau seguido pelas Galinholas à moda do Beira Mar (estufadas em Madeira e acompanhadas com as tostas do seu paté tripeiro)?

Os pastelinhos do fiel amigo com um humilde arroz de grelos?  Só os pastelinhos com uma salada fria de feijão frade?  Enveredar pelo canónico bacalhau à Gomes de Sá, honesto comerciante da Invicta?

Estes “bacalhaus” são de substância e podem arruinar o apetite dos comensais para o que segue. Talvez o melhor seja mesmo fazer umas “pataniscas” para a  entrada e sem acompanhamentos.


E os vinhos para acompanhar, de forma que fique bem o casamento com tão excelsos senhores pratos?

Um tinto de 2011 do Douro, provavelmente. E antes? Um Primus do Engº Álvaro de Castro ou um Sauzelhe (grande reserva 2006, se o encontrarem) do “estábulo” lá do lado dele? 

Temos ainda algum tempo para pensar, está claro, mas é com estes entreténs salivosos que vou passando o tempo livre. E só de pensar nestas harmonias já engordei mais umas 200 gramas...

A imaginação é uma coisa lixada.

Termino parafraseando Eça, na fala do excelente escudeiro Grilo do magnífico Jacinto,  “Sua Excelência sofria de fartura”.

É o meu caso. 

Pelo menos teoricamente, porque de facto ainda nada daquilo me passou pelo estreito.

- Sobre Manuel Luar -

Manuel Luar é o pseudónimo de alguém que nasceu em Lisboa, a 31 de agosto de 1955, tendo concluído a Licenciatura em Organização e Gestão de Empresas, no ISCTE, em 1976. Foi Professor Auxiliar Convidado do ISCTE em Métodos Quantitativos de Gestão, entre 1977 e 2006. Colaborou em Mestrados, Pós-Graduações e Programas de Doutoramento no ISCTE e no IST. É diretor de Edições (livros) e de Emissões (selos) dos CTT, desde 1991, administrador executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações em representação do Instituidor CTT e foi Chairman da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia (ONU) desde 2006 e até 2012. A gastronomia e cozinha tradicional portuguesa são um dos seus interesses. Editou centenas de selos postais sobre a Gastronomia de Portugal e ainda 11 livros bilingues escritos pelos maiores especialistas nesses assuntos. São mais de 2000 páginas e de 57 000 volumes vendidos, onde se divulgou por todo o mundo a arte da Gastronomia Portuguesa. Publica crónicas de crítica gastronómica e comentários relativos a estes temas no Gerador. Fez parte do corpo de júri da AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal – para selecionar os Prémios do Ano e colabora ativamente com a Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal para a organização do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, desde a sua criação. É Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana.

Texto de Manuel Luar
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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