Hoje escrevo com as palavras do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.
Os seus últimos discursos seguem todos um fio condutor: a humanidade perdeu o rumo e caminha agora a enorme velocidade para um abismo sem retorno.
A desigualdade é cada vez maior. A pandemia de Covid-19 assim o demonstrou, a crise climática vai exacerbá-la no quotidiano de milhões.
Começam a surgir do Afeganistão à Etiópia revoltas ampliadas pelos fenómenos extremos do clima, por simples diferenças de opinião, religião ou informação.
A ciência e factualidade são contestadas por ignorância ou desinformação e postas em causa por jogos de poder dentro dos estados e entre estados.
A polarização entre as pessoas paralisa as sociedades e o apoio económico aos mais vulneráveis chega muito tarde, quando chega, e não para todos.
O relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, publicado no mês passado, apresentou um cenário negro, com sinais de alerta por todo o planeta. Temperaturas elevadas, cheias devastadoras, desastrosa perda de biodiversidade, poluição do ar, da água e dos espaços naturais, mas em vez de solidariedade, vemos arrogância de uns e desconfiança de outros.
Sim. António Guterres tem razão quando diz que as pessoas vão acabar por perder a fé, não apenas nos governos e nas instituições, mas nos valores que são a base do trabalho das Nações Unidas há mais de 75 anos: Paz, Direitos humanos, Dignidade para todos, Igualdade, Justiça, Solidariedade.
É efetivamente o momento da verdade, é preciso repor a verdade e agir JÁ.
-Sobre Francisco Ferreira-
Francisco Ferreira é Professor Associado no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-NOVA) e investigador do CENSE (Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade). É licenciado em Engenharia do Ambiente pela FCT-NOVA, mestre por Virginia Tech nos EUA e doutorado pela Universidade Nova de Lisboa. Tem um significativo conjunto de publicações nas áreas da qualidade do ar, alterações climáticas e desenvolvimento sustentável. Foi Presidente da Quercus de 1996 a 2001 e Vice-Presidente entre 2007 e 2011. Foi membro do Conselho Nacional da Água e do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Atualmente é o Presidente da “ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável”, uma organização não-governamental de ambiente com atividade nacional.