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Sara Correia: “A minha forma de estar na vida é à conta do fado”

Depois de mais de um ano “congelado” pela pandemia, Sara Correia regressa com novo single…

Texto de Sofia Craveiro

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Depois de mais de um ano “congelado” pela pandemia, Sara Correia regressa com novo single e concerto agendado. O Tivoli BBVA, em Lisboa, a 14 de maio, será o primeiro palco que a fadista pisa após um tempo que diz ter sido de reflexão.

Ao Gerador explica que o fado está enraizado em si, mas afirma que isso não a impede de poder, no futuro, explorar outros ritmos. “Tudo o que seja música de raiz, eu sou apaixonada”, afirma.

Lançado em setembro de 2020, Do Coração é o nome do álbum que Sara Correia não pôde lançar condignamente, e que quer agora promover pelo mundo fora. No passado dia 8 foi lançado  "Antes Que Digas Adeus", a canção onde a letra de Diogo Clemente faz jus ao tradicional Fado Maria Rita.

Gerador (G.)- Começaste desde muito jovem a cantar em casas de fado. Esta projeção que obtiveste com o lançamento do primeiro álbum era algo que desejavas?

Sara Correia (S.C.) - Eu sempre quis cantar, desde que me lembro, desde ser pessoa que me lembro de querer cantar. Mas nunca tive essa [vontade de projeção] muito cedo. Não tive essa necessidade de querer um disco ou de cantar lá fora. As coisas vão acontecendo e vamos amadurecendo . Depois é que, mais tarde, começamos a perceber realmente o que é que queremos para a nossa vida. E foi exatamente isso que aconteceu. Eu comecei a cantar com oito, nove anos e depois houve ali uma fase, que foi quando eu fui à Grande Noite do Fado, assim com os meus 13, 14 anos, que eu venci e eu pensei: se calhar até tenho futuro e vou apostar nisto, que é o que eu mais gosto de fazer. Portanto, [pensei], vou apostar tudo, vou dar as cartas todas e vou fazer para que algo aconteça... sempre a trabalhar e sempre focada porque nunca é de mais.



(G.)- Como avalias o teu percurso desde essa altura?

(S.C.) - Foi muito difícil, mas também foi muito gratificante. Foi difícil porque eu era muito jovem, cantava sete dias por semana e conciliava [a música] com a escola, mas a força de vontade era sempre maior e, então, eu tentava ao máximo. Mesmo deitando-me tarde — que é assim que funcionam as casas de fado — tentava ao máximo conciliar as duas coisas. Mas sempre foi muito gratificante porque, depois, também tive a sorte de estar ao lado de pessoas que para mim são os mestres do fado. Então estive sempre bem acompanhada e sentia-me sempre com pilares à minha volta para sustentar todo esse meio complicado da noite — porque não deixa de ser um meio da noite. Os fados é um meio onde vivemos de noite, e, para uma criança da minha idade, tinha, realmente, de ter pilares fortes ao meu lado.

(G.)-Mas no caso do fado... é talvez uma vertente da música em Portugal onde se sente mais essa ideia de comunidade e de colaboração entre artistas...

(S.C.) - Sim... aliás, se não fosse dessa forma eu acho que hoje não cantava... eu também soube ouvir, mas tive a sorte de ter pessoas que sempre estiveram presentes na minha vida e que me direcionaram — acho que é esta a palavra — para um caminho certo. Quando eu digo caminho certo não falo de palcos, nem nada disso, mas do bom gosto de cantar e da forma como eu vejo o fado, o ter cuidado com a forma como eu digo as palavras... mais nessa parte. E eu tive sorte, porque, de facto, os fados também têm isso, que é o haver muita gente neste meio que nos pode ajudar.

(G.)- Sentes, de alguma forma, o “peso” da herança do fado? Ou seja, sentes uma responsabilidade acrescida para honrar esta tão nossa tradição?

(S.C.) - Sim, é tradicional e é uma coisa que eu quero sempre deixar nos meus discos e na minha forma de estar e na minha forma de ver a música, em tudo isso. Porque eu cresci com o fado e ele é o que está enraizado em mim. Não há outra coisa a não ser isso. A minha forma de estar na vida é à conta do fado e eu tenho muito dele, mesmo. O que eu acredito é que os tempos hoje são completamente diferentes daquilo que eram há muitos anos, [de] como se vivia antigamente. Daí também a forma de cantar, de ver a música, de outros conceitos musicais, tem que ver com o tempo em que estamos a viver agora, mas sempre com o pé no que é o certo e o que não desrespeita o fado.

(G.)- Ou seja: é importante cultivar a preservação dessa tradição, ou devemos dar mais primazia a novas formas de interpretar o fado?

(S.C.) - As duas coisas ao mesmo tempo, se o conseguirmos fazer. Por exemplo, eu tenho muitos concertos que eu faço lá fora e que eu só levo guitarra portuguesa, viola e um baixo. Portanto, é o tradicional do fado, não é? O puro — que nós chamamos de puro — porque não existe mais [do que isso], é só aqueles três instrumentos e a voz e as coisas têm de acontecer desta forma, e é assim que é. E depois temos concertos montados com outras influências musicais que eu também tenho, outras visões, outras coisas fora da caixa, porque eu sou assim. Eu ouço muita coisa em que já ponho uma bateria, já ponho um piano, já ponho um acordeão e acho que aí é que está a beleza da música... digo eu, é a minha ideia. Não digo que estou certa, mas é a forma como eu quero viver o fado e viver a música.

(G.)- O que sentes quando te descrevem como “o futuro do fado” tendo em conta que, conforme disseste noutras entrevistas, já eras há muito conhecida no meio?

(S.C.) - O que é que acontece: eu, como fui para os fados muito cedo... antigamente era um núcleo muito pequeno, toda a gente se conhecia. E quando eu digo pequeno era mesmo. Nós conhecíamo-nos todos uns aos outros, conhecíamos todas as casas de fado, todos os fadistas. Hoje em dia a dimensão é outra, mudou tudo, não tem nada a ver. E nesse meio, sim, as pessoas já sabiam quem era Sara Correia... como eu conhecia os outros, igual, da mesma maneira. Só que depois houve esta oportunidade de gravar um disco, para ser conhecida pelo mundo, e acho que é isso que eu quero fazer. É levar o fado ao mundo inteiro. Como todas estas artistas — Ana Moura, Mariza, Carminho —  estão a fazer pelo nosso país. E acho que é o mesmo que eu quero de mim: deixar, principalmente, mais uma marca, uma mensagem. Acho que é isso que eu quero.


(G.)- Já disseste publicamente que não excluis dedicar-te a outros estilos de música. Quais gostarias de experimentar?

(S.C.) - São muitos, mas há coisas a que eu sou muito ligada, porque, como eu venho de um bairro — que é o bairro de Chelas — estou muito ligada ao hip hop, muito ligada a coisas quentes, a músicas africanas, à música brasileira. Tudo o que seja música de raiz, eu sou apaixonada. Tudo o que for a música "da terra". Gosto muito de fazer este tipo de participações [colaborativas, como no projeto "Meu Bairro, Minha Língua"] porque para mim faz sentido quando conseguimos fazer algo que estejamos todos juntos e numa onda só, se é que me faço entender. É inacreditável, acho que isso é o mais bonito da música: é quando juntamos todos, de diferentes áreas da música. É incrível.



(G.)- Como é foi para ti este período de paragem, imposto pela pandemia?

(S.C.) - Eu acho que não foi fácil para ninguém. Principalmente para nós, na cultura, realmente não foi nada fácil, porque estivemos parados. E quando eu digo parados é no sentido de não vermos o público ou cantarmos para as pessoas, porque é um alimento nosso. E, então, o que eu fiz foi mais procurar ir para estúdio, trabalhar um bocadinho mais em casa, procurar outro tipo de coisas. Estudar mais, procurar autores, procurar cantautores, em Portugal e fora de Portugal. [Tentei] fazer outro tipo de trabalho que às vezes não tinha tempo [para fazer]... deu-me para a escrita e... acho que tudo tem uma razão, Deus me perdoe, mas acho que é a realidade. Acho que eu não tinha muito tempo para pensar em certas coisas e para me mandar de cabeça, e agora tenho. Se calhar, tive mais tempo para pensar um bocadinho mais em mim, e em quais são os projetos que eu quero para a minha vida. As coisas aconteceram assim, pelo melhor e tive mais tempo para pensar noutros assuntos.

(G.)- Podemos então esperar novos lançamentos? Sei que vai sair um single, mas... podes revelar mais?

(S.C.) - Já saiu, saiu ontem [8 de abril], mas sim, tenho mais projetos que vão sair e estou tão ansiosa para poder mostrar às pessoas, sem dúvida alguma.

(G.)-E não podes revelar um pouco mais?

(S.C.) -Quem me dera! Eu por mim contava tudo, mas não posso.

(G.)- E concertos? Tens concerto marcado para o próximo dia 14 de maio, no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa. Esta atuação marca o início do teu regresso aos palcos?

(S.C.) - Sim, sim, graças a Deus! Eu estou muito contente, porque não tive a oportunidade de fazer o lançamento deste disco e, passado um ano, vou ao Tivoli e estou super ansiosa. Acho que é o concerto em que eu estou mais ansiosa e não é por nervos, é o facto de não ver as pessoas, de nós não termos contacto com ninguém. Estou um bocadinho ansiosa nesse sentido e sei que as pessoas estão sedentas para ouvir música, e eu fico muito feliz. E depois do Tivoli já tenho viagens marcadas e... ‘bora, vamos viver a vida!

(G.)- Vais para o estrangeiro?

(S.C.) -  Sim, vou dia 20 de maio para a Tunísia, vou lá ficar quatro dias. Depois volto e vou para a Turquia duas semanas... Valência Marrocos Canárias e já vou...uff.

(G.)- Uma agenda preenchida, portanto?

(S.C.) - Sim. Deixem-me voar, que é o que eu quero.

Texto de Sofia Craveiro
Fotografia via Instagram Sara Correia

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