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Saúde Mental: “Que ameaçadores me parecem os nomes dos meses”

Esta ausência não foi por nós pedida,este silêncio não é da nossa lavra,já nem Pessoa…

Texto de Raquel Rodrigues

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Esta ausência não foi por nós pedida,
este silêncio não é da nossa lavra,
já nem Pessoa conversa com Pessoa,
com o feitiço sempre imenso da palavra
Este tempo só é o nosso tempo
porque é nossa a dor que nos sufoca
e faz de cada dia a ferida entreaberta
do assombro que esquivando-se nos toca
Esta ausência é dos netos, dos filhos, dos avós,
é a casa alquebrada pelo medo,
é a febre a arder na nossa voz
por saber que o mal a magoa em segredo
Este silêncio é um sussurro tão antigo
que mata como a peste já matava;
vem de longe sem nada ter de amigo
com a mesma angústia que nos castigava
Esta ausência é uma pátria revoltada
que se fecha em casa sempre à espera
que a febre não a vença nem lhe roube
a luz mansa que lhe traz a Primavera
Esta casa somos nós de sentinela,
à espera que a rua de novo nos console
e que festeje debruçada à janela
a alegria que só nasce com o sol

José Jorge Letria, «A vida triunfa em casa», vs1-24, Expresso,  20 de Março de 2020.

Desde a publicação da última edição da revista Gerador, “Qual o Fado da Cultura Portuguesa?”, cuja reportagem de capa, intitulada “Constelações no tempo: entre o passado e o presente, para o futuro da cultura em Portugal”, a qual atravessou, entre outras, a relação entre a saúde mental e a saúde da cultura, os números continuam a crescer e a deixar pouco espaço para respirar.

Portugal, 26 de Novembro de 2020, 12h00:

4 127 mortes
274 011 casos confirmados
Fonte: Direcção-Geral da Saúde

Portugal, Setembro de 2020:

404 mil desempregados/as (Em Julho, Agosto e Setembro a população desempregada aumentou 45,1%)
Fonte: INE

Portugal, entre Março e Setembro de 2020:

32 036 novos pedidos do Rendimento Social de Inserção (RSI) – 11 554 novos beneficiários
10 292 novos pedidos do Complemento Solidário para Idosos (CSI)
10 855 novos pedidos da Prestação Social de Inclusão – 1 230 novos beneficiários
Fonte: IEFP, citado pela agência Lusa, 20/10/2020

Portugal, entre Janeiro e Agosto de 2020:

Mais de 13 milhões de vendas de embalagens de antidepressivos e ansiolíticos (valor mais elevado dos últimos três anos)
Fonte: Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed)

Dentro destes números está o que não tem fim. Não podemos olhá-los sem os abrir e pensar que cada pessoa traz outras dentro de si. As mortes ficam sempre vivas, quando passam, profundamente, por alguém. Somos com. Atravessados pelos fios das relações, a nossa condição é de tocáveis. Somos tocados, porque implicados. Por isso, o desemprego pode inundar uma casa inteira, endividar uma família, comer-lhe o pão e a paz, mudar a rota que um filho ou uma filha chamava de alegria. Basta uma falta de sorte e o azar é viciado.

“Um corpo só é possível num/ ritual de vários corpos. // Um corpo sozinho é uma campa vertical” - Vasco Gato, E de súbito é de noite. Caderno Pandémico, 2020

Isolar provém do latim “insula”, ilha. Livia Tomova, investigadora na Universidade de Cambridge, é a autora principal do estudo “Acute social isolation evokes midbrain craving responses similar to hunger”, publicado a 23 de Novembro de 2020 na revista científica Nature Neuroscience, que se debruçou sobre o impacto do isolamento, através do recurso a uma máquina de imagem por ressonância magnética, que permitiu analisar o cérebro de quarenta voluntários e voluntárias, que estiveram isolados durante dez horas, num espaço sem janela, no Instituto de Tecnologia do Massachusetts, medindo as respostas neuronais que surgiam da exposição a imagens cujo conteúdo eram as suas actividades sociais preferidas. No dia seguinte, o mesmo processo foi aplicado, no que toca à alimentação. Os participantes e as participantes jejuaram e o seu cérebro foi analisado. “Durante o estudo, a equipa olhou em concreto para a substância negra, uma parte do cérebro onde se produz dopamina (envolvida em comportamentos de recompensa).  Verificou-se, então, que esta parte do cérebro responde de forma semelhante depois do isolamento e após o jejum. ‘Quando uma pessoa ficava isolada, esta área do cérebro mostrava uma maior actividade em resposta a fotografias de outras pessoas e não a imagens com comida’” e que, “’quando alguém tinha feito jejum, a substância negra mostrou também uma maior actividade em resposta a fotografias com comida e não a fotografias com outras pessoas’”, explicou a investigadora ao Público, como podemos ler em “Depois do isolamento, o cérebro fica “esfomeado” por interacções sociais”, artigo publicado a 25 de Novembro.

Alimentamo-nos uns dos outros e umas das outras. “Nos nossos cérebros, a fome e a solidão parecem muito semelhantes, o que sugere que a necessidade de relacionamento poderá ser uma necessidade humana básica”, continua Livia Tomova.

Os psiquiatras do Hospital Júlio de Matos, Henrique Prata Ribeiro, André Ponte, também professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e Miguel Raimundo, responsável pelo tratamento dos dados e investigador do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) da Universidade de Coimbra, realizaram um estudo sobre os sintomas depressivos, de ansiedade e de insónia e o isolamento, a partir de uma amostra de 1626 pessoas, 75,6% das quais são mulheres, e com uma média de idades de 32 anos. Este teve início no dia 18 de Março, data em que foi declarado o estado de emergência e, ainda sem ter terminado, adiantou, ao Público, os dados recolhidos no primeiro mês, por via de um inquérito online. Foi encontrada uma relação entre os dias de isolamento provocados pela pandemia da covid-19 e o agravamento dos sintomas depressivos e de insónia. “É possível traçar uma progressão matemática em que cada semana corresponde a um aumento das escalas desses sintomas”, refere Henrique Prata Ribeiro, citado no artigo “Estudantes com mais sintomas depressivos devido ao isolamento. Uma “surpresa” a aconselhar vigilância nas universidades”, publicado a 28 de Abril. Foram utilizadas três escalas Inventário de Depressão de Beck, Inventário de Ansiedade de Beck e Índice de Gravidade de Insónia com vista a identificar tais sintomas. Foram também recolhidos dados sobre o isolamento social, o contacto com a covid-19 e outras informações consideradas necessárias para as conclusões pretendidas.

A partir de oito dias de isolamento, os sintomas de depressão registaram uma subida de 6,44% para 8,36%, os de ansiedade, de 9,78% para 10,62%, e os de insónia, de 5,92% para 6,89%. Entre as categorias, “desempregado”, “estudante”, “profissional de saúde”, “reformado” e “outras profissões”, é a primeira que apresenta os valores mais elevados, em cada um dos sintomas, seguida da segunda. Os investigadores chamam a atenção para a existência de “uma percentagem importante de pessoas não seguidas em psiquiatria, sem diagnóstico psiquiátrico prévio, que se encontram com scores elevados nas escalas, algumas até com ideias de morte.”

Pedro Morgado é um dos oito investigadores do estudo, entre os quais se encontram psicólogos, psiquiatras e neurocientistas, que está a ser desenvolvido no Instituto de Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, que se destina a conhecer as consequências psicológicas do isolamento social imposto pela pandemia na saúde mental dos portugueses e das portuguesas. Também esta pesquisa não tem data de término definida, porque visa acompanhar um período, cujo fim não vem no calendário. No início de Setembro, aquando da preparação para a publicação dos resultados da primeira fase, decorrentes do acompanhamento semanal de cerca de 2000 pessoas, ao longo do estado de emergência, o psiquiatra partilhou com o Gerador que, para além de se constatar correlações, já conhecidas, entre elevados níveis de sofrimento e o sexo feminino, o desemprego, as condições socioeconómicas, e a existência de patologias do foro psiquiátrico, conclui-se “que as pessoas que praticavam regularmente exercício físico, as que tinham um jardim e as que consumiam menos tempo de notícias sobre a covid-19 tinham melhores indicadores em termos de sintomas de resposta ao stress e ansiedade. Ao longo do tempo de confinamento, os níveis de stress e ansiedade foram descendo para a esmagadora maioria das pessoas, enquanto a qualidade do sono se continuou a deteriorar. Em resumo, assistimos a uma resposta essencialmente ansiosa que permitiu a adaptação da maioria das pessoas a uma nova realidade.”

“Quanto aos sintomas obsessivo-compulsivos, também se espera que possa haver um aumento expressivo em algumas pessoas que já tinham alguns sintomas subclínicos e também um agravamento de algumas formas de doença obsessivo-compulsiva. É preciso olhar também com muita atenção para as dependências, nomeadamente as dependências de álcool, jogo e Internet, que terão uma maior propensão ao agravamento nesta fase de isolamento social”, disse em entrevista ao Público, citada no artigo “Saúde mental: “A incerteza quanto ao fim do isolamento é um claríssimo factor de risco”, publicado a 5 de Abril de 2020.

Pensando ainda no impulso que este período deu ao mundo digital, Pedro Morgado, em entrevista ao Gerador, chama a atenção para o perigo de tal transição “aprofundar situações de marginalidade e criar novas exclusões a que devemos estar atentos”. Por isso, Ana Pinto Coelho, directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação e conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais, considera que os equipamentos electrónicos, com acesso à Internet, deveriam ter sido “a primeira coisa a ser dispensada a toda a gente”. Considerando-o um direito, defende a criação de legislação que o garanta. Também “o gás, a luz, a água, as telecomunicações deveriam ter baixado 50% [no custo], pelo menos, para as famílias e toda a gente ter direito, porque isso é que causa distanciamento social”. Ana Pinto Coelho chama a atenção para a confusão gerada, muitas vezes, entre as expressões “distanciamento físico” e “distanciamento social”. A concretização deste último significaria uma ausência de comunicação e, “aí, sim, havia sofrimento psicológico, a sério”.

Eugénia Ribeiro, Professora Auxiliar da Escola de Psicologia da Universidade do Minho (UMinho), baseando-se, não só na sua experiência de docente, mas também no projecto que integra, a linha SOS Covid-19, resultante de uma articulação da Associação de Psicologia (aPsi) com o P5 (uma plataforma de serviços clínicos digitais, desenvolvida pela U.Minho, com o intuito de contribuir para a resposta à situação pandémica), inicialmente destinada ao apoio de estudantes, e, posteriormente, à sociedade civil de Braga e Guimarães, nota precisamente esta relação entre as condições socioeconómicas, onde também entra o acesso às tecnologias, e os níveis de sofrimento. “No contexto académico, se as pessoas têm menos recursos para ter acesso, por exemplo, não tem uma Internet tão fiável e têm de dividir um computador entre diferentes membros da família para poderem participar nas aulas ou a recursos de aprendizagem, isto pode criar mais imprevisibilidade na possibilidade do acesso àquilo que é importante para si.” Esta linha oferece um apoio imediato a pessoas que se encontrem numa situação de crise psicológica, e não pretende ser uma sessão de psicoterapia. O objectivo é ajudá-las a “estabilizar minimamente”. A partir da avaliação dos casos, pode surgir uma monotorização semanal destes ou o encaminhamento para a aPsi, para o P5 ou para o médico ou a médica de família. “O que fazemos, em termos de estrutura da intervenção, é compreender, primeiro, o que a pessoa está a experienciar e, depois, procurar identificar quais são os recursos que tem, que possam ajudar naquele momento, e que podem ser recursos pessoais, mas também familiares ou da comunidade, a que pode recorrer para activar a rede de suporte social. Portanto, o que fazemos é definir um plano muito claro, muito imediato, do que a pessoa vai fazer, por exemplo, naquela semana.”

Desde Março, até ao momento, totalizam-se noventa e cinco atendimentos, dos quais cinquenta por cento são de estudantes, provêm de várias faixas etárias, desde os 18 aos 80 anos de idade. A partilha de preocupações de natureza pessoal é a predominante, particularmente com a sua saúde e segurança, bem como dos seus familiares, destacando-se “o medo e as emoções relacionadas com a perda.” Seguem-se questões de natureza académica, onde “a preocupação com a sobrecarga e alteração das rotinas académicas, bem como as incertezas, relativamente às possibilidades económicas para suportar os gastos académicos”, se destacam. Estas amplificam-se à pergunta corrosiva, relativa “à continuidade de uma vida, ou de um projecto de vida. Esta incerteza quanto à continuação ou interrupção pode agravar-se no caso das pessoas “que têm, também, a sua identidade desenvolvida em torno de um projecto mais profissional. Se, para alguns, a ruptura nas relações é um factor extremamente desafiador, portanto o sentirem solidão, que estão a perder pessoas ou a oportunidade de se relacionarem, para outros pode ser ainda mais desafiador, não as questões emocionais, mas as questões do percurso e da identidade profissional. Alguns estudos, que já têm sido feitos sobre o impacto da pandemia em estudantes universitários, não só as questões imediatas, como a sobrecarga de trabalho e o isolamento, são importantes, como as dificuldades relativamente à previsão do futuro académico e profissional, que são naturalmente afectadas pelas questões económicas.”

 “Haverá muitos mais alunos sem computador do que os 50 mil de que fala o INE, segundo estudo da Nova. (…) Em média, 23% dos alunos até ao 12.º ano não têm acesso a computador com Internet em casa, valor que é ainda mais elevado quando se retiram os dados de escolas privadas. Estes números, se pudessem ser directamente extrapolados, representariam um universo de mais de 300 mil alunos”, lemos em “Alunos sem computador são mais do que se pensa. Nas escolas públicas, quase um terço dos alunos do ensino básico não tem equipamento”, publicação do Observador, datada de 15 de Abril. Nesta auscultação, realizada junto de professores de escolas públicas e privadas, do 1.º ao 12.º ano, justifica-se o desencontro com os dados disponibilizados pelo INE: “os dados do INE apenas indicam se existe algum computador com Internet no agregado familiar de cada aluno (por exemplo, podem existir situações em que os filhos não podem aceder ao computador por os pais o estarem a utilizar para teletrabalho)”. A investigadora Ana Balcão Reis refere que há escolas onde nenhum dos alunos e nenhuma das alunas dispõe deste equipamento. Sublinha, também, o fosso entre os números recolhidos nas escolas públicas e nas escolas privadas.

Na opinião de Eugénia Ribeiro, a Universidade do Minho tem tido “um papel muito activo, quer da parte da reitoria, quer da Associação Académica, no sentido, por exemplo, de perceber e identificar os estudantes que possam ter dificuldades, por exemplo, no acesso às aprendizagens, porque não têm um computador disponível para si. Sendo a directora de curso, tenho estado atenta e testemunhado estas preocupações. Sendo directora de curso do Mestrado Integrado em Psicologia, tenho estado atenta e testemunhado estas preocupações. A Associação Académia criou, precisamente, uma bolsa para estudantes que não tinham computador disponível. As universidades têm um papel, dentro daquilo que são os limites da sua acção, de identificar situações que são, ou possam ser, críticas e de perceber quais são as respostas que podem ser dadas atempadamente. No contexto de ensino online, os estudantes não estão todos nas mesmas circunstâncias. Há os que têm um espaço de estudo e um computador para si, uma boa Internet e, portanto, não estão presencialmente, mas estão em circunstâncias que permitem o acesso às aprendizagens, e há outros estudantes que não têm estas condições. Não só podem estar mais isolados, como, por exemplo, os que estão nas residências, sem uma rede significativa de apoio, que é extremamente importante para que nos sintamos bem e mais estáveis, mas também podem ter mais dificuldades no acesso às condições tecnológicas.” Para alguém desta acção, a docente aponta o cuidado que a instituição tem tido com a integração, sobretudo dos novos estudantes, para a qual tem desenvolvido programas, como, por exemplo, o programa Tutoria por Pares.

Para além do aumento do teletrabalho e da transição de aulas para o online, estes espaços não-espaços têm sido a forma de não nos perdermos dos outros e das outras. Mas não para todos/as. Há quem apenas tenha fotografias na tela das mãos para se aproximar dos rostos que ama.

Apesar das tecnologias nos trazerem a imagem e o som, não permitem o cheiro e o toque. Este tempo tem vindo a alimentar um novo corpo, o corpo desmaterializado. Mas “somos corpo”, diz Eugénia Ribeiro. “Não somos só corpo físico. As nossas relações são também muito corporalizadas, o nosso funcionamento psicológico é corporalizado. Movimentamo-nos de determinada maneira, quando nos sentimos de determinada forma. O corpo adopta determinadas expressões. Quando estamos mais tristes, tornamo-nos mais lentos e ineficazes fisicamente. Portanto, o nosso corpo é importante na mediação das relações. Não sei se vai ficar, desta pandemia, alguma apreensão relativamente à proximidade ao outro e ao modo como nos vamos relacionar fisicamente e corporalmente. Talvez tenhamos de ser tolerantes e dar algum tempo para que este receio, esta apreensão possa também ser esbatida.”

Consoante as idades, temos capacidades diferentes para construir significados sobre as realidades que vivemos, que influenciam a forma como experienciamos o que nos acontece. No que diz respeito ao distanciamento físico, ao toque afectivo, onde o encontro assume a sua dimensão mais plena e profunda, a professora chama a atenção para a importância de explicar, a quem estamos intimamente ligados e ligadas, que as novas formas de relação partem de um gesto de cuidado, o qual deve ser reinventado, embora se saiba que, nesta transformação, há uma perda. “Nós, adultos, apesar de tudo, conseguimos dar um significado a isto. Não posso apertar a mão ou dar um abraço a alguém, mas sei porquê e, portanto, consigo atribuir um significado. É muito importante explicar às crianças. “Afasto-me porque estou a proteger, aquela pessoa tem valor para mim, ou tenho valor para ela. Isto é completamente diferente de achar que a pessoa não vem porque me está a rejeitar”, explicita Eugénia Ribeiro.

Depois de aparentemente ultrapassada, o vírus continuará nas regiões invisíveis que contaminou. “Há várias perdas que as pessoas podem estar a viver, neste momento, e que lidam, às vezes, de modo mais imediato e inacabado. Processar a emoção relacionada com essas perdas e o significado que podem ter é muito importante. Às vezes, não o fazemos, na altura. Isto pode criar vulnerabilidade para problemas de saúde mental, patologias ou apenas alguma fragilidade no nosso bem-estar. Vou dar-lhe dois exemplos. Vamos imaginar um estudante que, por questões de natureza económica, no seu contexto familiar, tem de desistir do seu percurso académico. Esta desistência pode ser, ou não, difícil, para esta pessoa. A pessoa pode criar uma alternativa, que pode ser gratificante, ou pode viver esta experiência como complicada, porque interrompe aquilo que é o seu projecto de vida, e esta interrupção precisa de ser validada e resignificada.” Se não o for, sobretudo no caso das “pessoas que definem o seu valor em torno daquilo que são as suas competências académicas e profissionais”, podem gerar-se “problemas de auto-estima, na sua auto-imagem”, esclarece.

Também, o luto, que é um processo solitário em si mesmo, está a ser num contexto que intensifica o desamparo. Morre-se sozinho, quem vai e quem fica. “O isolamento pode, pois, dificultar a elaboração do luto. Em momentos de crise, quando há um fluxo constante de actualizações da informação com características maioritariamente angustiantes, as pessoas podem não conseguir reconhecer a dimensão da sua dor, desvalorizá-la perante as circunstâncias globais e, consequentemente, não responder adequadamente às suas próprias necessidades”, lê-se em “Pandemia COVID-19: perdas e luto”, artigo adaptado de uma publicação da organização britânica Cruse Bereavment Care, com revisão e coordenação de Isabel Galriça Neto, médica de Medicina Paliativa e Medicina Geral e Familiar. “Amigos e familiares que poderiam oferecer apoio, estando também isolados, ficam limitados para aquilo que podem proporcionar. Vê-se, assim, aumentado o risco de luto patológico. São muito comuns, por exemplo, os relatos de enlutados que referem ver, ouvir ou sentir a presença de quem morreu. Experiências como esta, em que existe a manifestação de sintomas de tensão emocional, tendem a tornar mais comum a elaboração de luto traumático, e mais ainda perante a impossibilidade de partilhar sentimentos, de criar novas rotinas e de construir um novo sentido de vida”, continua. Surge com frequência o sentimento de culpa, quando, na impossibilidade de realizar visitas, o familiar ou amigo/a não pôde acompanhar quem lhe era querido, ou, quando, perante a sobrecarga dos serviços de saúde, se interroga sobre os cuidados que foram prestados, ou se sente responsável por não ter protegido suficientemente.

Há ainda lutos que não implicam a morte física, os das relações, consigo e com os outros e as outras. Eugénia Ribeiro evoca, novamente, o caso dos estudantes universitários e das estudantes universitárias: “Os estudantes universitários vivem uma fase de desenvolvimento muito importante, do ponto de vista da intimidade. Uma das tarefas do desenvolvimento da fase etária do estudante universitário, portanto do jovem adulto, é aquilo que nós chamamos o desenvolvimento da intimidade. Não significa apenas intimidade física, do relacionamento físico, sexual, mas também a intersubjectiva, a intersubjectiva, a possibilidade das pessoas se poderem dar a conhecer e conhecer. Isto, para alguns estudantes, pode ser perdido ou difícil de concretizar de um modo significativo. Estas são perdas muito relevantes, do ponto vista do desenvolvimento psicológico, e as situações de isolamento, pelo menos, criam esta ameaça. Por isso é que é muito importante que, mesmo à distância, com todos os cuidados que garantam a segurança e proteção da infeção, se mantenham as redes do suporte social, usando as tecnologias que permitem a continuidade do relacionamento interpessoal.”

“‘Que ameaçadores me parecem os nomes dos meses,’ diz um verso.” – Gonçalo M. Tavares, «9 de Maio», Diário da Peste

“A incerteza quanto ao fim do isolamento é um factor claríssimo de risco para a saúde mental. Uma das coisas a que recorremos para utilizarmos os recursos que as pessoas têm para lidar com a adversidade é precisamente usar a baliza temporal. O facto de a baliza ser desconhecida e incerta é um factor de risco acrescido”, refere Pedro Morgado, no já citado artigo do Público, “Saúde mental: ‘A incerteza quanto ao fim do isolamento é um claríssimo factor de risco’”. Este factor é apontado como a razão da população jovem ser a que se encontra com níveis de sofrimento mais elevados. O psiquiatra, tal como Eugénia Ribeiro, apoiando-se nas evidências dos estudos internacionais, nota que os estudantes e as estudantes estão no epicentro da construção do futuro, que, de repente, coincidiu com o de um terramoto na forma como se projectavam.

“A distância mínima para um vivo não ter medo de outro/ O jogo de xadrez na rua; dança sem música, só com constrangimento e vergonha.” - Gonçalo M. Tavares, «9 de Maio», Diário da Peste

Imaginando o cenário em que o tratamento da Covid-19 está disponível e acessível, Pedro Morgado considera que, dado o “impacto brutal” da pandemia, “é expectável que algumas mudanças comportamentais perdurem durante alguns anos.”

Em “Pandemia COVID ‑19: Quais são os Riscos para a Saúde Mental?”, artigo publicado, a 30 de Maio de 2020, na Revista Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, Pedro Afonso e Maria Luísa Figueira, professores na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a partir de uma revisão da literatura, apontam “uma  constelação  de  sintomas  psicopatológicos  associados  à  quarentena,  designadamente,  humor  deprimido,  irritabilidade, ansiedade, medo, raiva, insónia, etc.” Num prazo mais alargado, "cerca de três anos após a quarentena, verificou‑se um aumento de risco para o aparecimento de abuso de álcool, sintomas de perturbação de stress pós‑traumático e depressão.  A experiência psicológica da quarentena parece conduzir a um aumento de comportamentos de evitamento, levando a que ocorra alterações de muitos hábitos (por exemplo, evitamento de locais públicos, mudança de hábitos socias, reforço do comportamento vigilante relativamente ao risco de infecção, etc.), reforçados através das medidas de saúde pública impostas pelos vários governos durante a fase de desconfinamento.”

“Se não tens febre, podes trabalhar doze horas” – Gonçalo M. Tavares, «1 de Maio», Diário da Peste

As exigências do trabalho de quem cuida aumentaram. As longas horas de trabalho ininterrupto e a pressão nos serviços de urgência, nas unidades de cuidados intensivos e nas outras estruturas que atendem as pessoas infectadas com o vírus Covid-19, têm conduzido muitos profissionais de saúde a um estado de exaustão, “uma vez que se esgotaram todos os  seus  recursos  adaptativos  face  a  um  ambiente  laboral  que se revelou hostil”, lemos no já citado artigo “Pandemia COVID ‑19: Quais são os Riscos para a Saúde Mental?”.  Segundo o estudo “Impacto da covid-19: o papel da resiliência na depressão, na ansiedade e no burnout em profissionais de saúde”, realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), do CINTESIS e da Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto (ESE.P.Porto), que comunicou os resultados à agência Lusa, a 1 de Junho de 2020, apurados a partir de um questionário online, aplicado entre 9 e 18 de Maio, 51% dos profissionais de saúde estão “em exaustão física ou psicológica” e 35% “apresentam mesmo elevados níveis de exaustão”. No mesmo, as investigadoras Inove Duarte e Carla Serrão, referem que este cenário “resultou na exacerbação de problemas ao nível da saúde mental, com particular impacto emocional e físico nos profissionais de saúde que se encontram na linha da frente”, devido “exigências sem precedentes”, como a mortalidade elevada, o racionamento de equipamentos de protecção individual, a pressão, o medo de contágio e dilemas éticos. Porém, 80% desta amostra, que integra médicos e médicas, enfermeiros e enfermeiras, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e psicólogas, farmacêuticos e farmacêuticas e técnicos e técnicas de diagnóstico, considera-se “capaz de enfrentar situações difíceis e potencialmente stressantes”.

O Conselho Internacional dos Enfermeiros, citado pela Reuters, aponta, ainda, outro factor que pode agravar as condições de risco em que se encontra esta classe profissional, a violência e a discriminação, sofrida, por exemplo, por parte dos senhorios ou das senhorias, não renovando os contractos de arrendamento, ou mesmo da cresce onde se encontram os filhos e/ou as filhas.

Há que não esquecer outros cuidadores e das cuidadoras que não entram nas estatísticas, sobre os/as quais não se realizaram estudos nem homenagens, e cujas circunstâncias a que estão expostos e expostas, onde também, muitas vezes, entra a precariedade, agravam o risco de desenvolvimento de problemas de saúde mental. Na obra Cuidar de Quem Cuida, da autoria de José Soeiro, Mafalda Araújo e Sofia Figueiredo, podemos ler: “Patrícia Brilhante Dias foi, nos meses da primeira vaga da pandemia que se alastrou pelo mundo no início de 2020, uma das pessoas que esteve «na linha da frente» do combate à covid-19. Dos vários polos do centro hospitalar da capital portuguesa, o Curry Cabral, hospital onde trabalha, foi o escolhido para ficar inteiramente dedicado àquela infecção. Na unidade de cuidados intensivos, Patrícia e os outros elementos da equipa deram tudo por tudo para cuidar dos doentes e salvar vidas. Numa reportagem televisiva realizada a partir do interior da própria unidade,1 Patrícia e os colegas explicavam à SIC, nesse mês de Abril em que Portugal viveu em estado de emergência, como tinham já avisado a família que se preparasse para que não fossem a casa nos dias ou semanas que se seguiriam. No final da peça, a jornalista questiona: «Não me leva a mal se lhe perguntar quanto ganha?» Patrícia responde: «Tiro à volta de 640 euros, 650, anda à volta disso.» Patrícia é apenas uma das 27 mil assistentes operacionais que trabalham nos hospitais públicos em Portugal. Mulheres, na sua esmagadora maioria com um salário que é praticamente o mínimo permitido por lei, muitas vezes intermediadas por empresas prestadoras de serviços, são as assistentes operacionais que asseguram o apoio directo aos doentes, a distribuição de alimentos, o banho e o transporte de pacientes, a desinfecção e a esterilização dos instrumentos utilizados pelos médicos ou a reposição de stocks.”

O teletrabalho pode também surgir como um risco psicossocial, não só por causa do isolamento, mas também na medida em que “conduz ao desaparecimento dos limites entre o trabalho e a vida familiar, aumentando a possibilidade de surgirem situações abusivas por parte das empresas, já que a flexibilidade de horário rapidamente é confundida com “disponibilidade total de horário. Outra possível situação abusiva prende-se com a pressão das empresas para que o trabalhador continue a trabalhar a partir de casa, mesmo estando numa situação de doença (incluindo doença dos filhos menores), mantendo-se a produtividade e reduzindo-se o absentismo”, refere o psiquiatra Pedro Afonso, na crónica “Sinais de Isolamento Colectivo”, publicada no Observador. Um estudo da Universidade Europeia, citado pelo mesmo jornal, no artigo “Estudo. Metade dos portugueses em teletrabalho sente que trabalha mais (e quem não tem filhos em casa é mais feliz)”, publicado a 4 de Abril. concluiu-o. Dos 539 portugueses inquiridos e que se encontram em teletrabalho devido à pandemia, “49% diz sentir que trabalha mais estando em casa do que trabalhariam numa situação normal.” Os mais insatisfeitos e as mais insatisfeitas com este regime são famílias com filhos. As mulheres são quem regista maior nível de exaustão, neste cenário.

“Aprender canções para afugentar os bichos pequenos, os bichos médios e os bichos grandes” – Gonçalo M. Tavares, «9 de Maio», Diário da Peste

A fruição presencial da cultura é uma necessidade para a saúde mental individual e colectiva. “Uma sociedade sem oferta cultural livre, irreverente e diversificada é uma sociedade em maior risco de morbilidade.” A criatividade é um movimento homeostático, através do qual o ser humano procura algo novo para transformar o existente. Ora, numa situação de entropia, o exercício criativo, da imaginação, permite encontrar saídas, o que constitui uma forma de vinculação à vida. “A cultura é, simultaneamente, o melhor meio para sublimarmos as dificuldades do presente e para representarmos o que nos acontece. Nas suas mais diversas expressões, é, muitas vezes, o impulso de que precisamos para reinterpretar o presente e reprogramar o futuro", continua Pedro Morgado. O psiquiatra repara no papel activo que os artistas, ao longo do tempo, foram desempenhando nas mudanças sociais, enquanto anunciadores de novas propostas de estar, porque de pensar o mundo, situando-os na “vanguarda da mudança”.

Eugénia Ribeiro reflecte no exercício de liberdade que a cultura permite, num tempo que, em tantos aspectos, a rouba. “A nossa vida não tem de se reduzir à pandemia. O cuidado com a nossa saúde mental será o de não deixarmos que as questões negativas desta pandemia sejam a mancha da nossa vida, como se só estivéssemos a viver isto.” As diversas formas de contacto com a expressão artística, seja enquanto criador(a) ou receptor(a), são uma forma de “criarmos diversidade naquilo que é a nossa vida actual, apesar de estarmos a viver uma pandemia extremamente ameaçadora da nossa estabilidade e da nossa segurança física e mental. A patologia deriva, por um lado, da pobreza de conteúdo daquilo que é a nossa vida, ou seja, é monocromática (se constantemente focada naquilo que é negativo) e, por outro lado, da rigidez dos nossos processos de funcionamento.” Por isso, para a psicóloga, a cultura amplia a vida, oferecendo uma “diversidade de focos da nossa atenção e acção, de interesses e a flexibilidade no modo como lidamos com aquilo que é a nossa experiência, oferecendo oportunidades para a diversidade significações da experiência.”




“A saúde mental tem sido sistematicamente negligenciada pela sociedade. Para respondermos às necessidades pré- e pós-pandemia é necessário um investimento brutal na Psiquiatria e na Saúde Mental. Temos falta de recursos humanos especializados no SNS (psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais), temos uma rede de prestação de cuidados que tem demasiadas assimetrias e algumas disfunções incompreensíveis e temos uma sociedade civil que não se mobiliza para defender as pessoas com doença psiquiátrica como faz para outras temáticas. O diagnóstico está feito, o Programa Nacional para a Saúde Mental tem um roteiro, mas continuam a faltar recursos”, aponta o psiquiatra. Eugénia Ribeiro tem assistido ao trabalho da Ordem dos Psicólogos e da Ordem dos Médicos, no sentido de mobilizar esforços para mudanças efectivas, bem como da comunicação social, que tem dado maior visibilidade ao tema, uma vez que o número de casos com problemas de saúde mental estão a aumentar. Espera que seja uma oportunidade, não só para uma maior consciencialização, mas também para a concretização das respostas necessárias. Considera que o debate é uma ferramenta essencial para combater o estigma associado a determinadas patologias e comportamentos. Para além disso, “importante que se perceba que nem tudo é patológico. Deve-se reconhecer o direito das pessoas se expressarem e viverem as emoções de tristeza, medo, receio, alguma ansiedade até, que são respostas normais a situações que não são normais. Às vezes, quando reconhecemos mal-estar, em determinados momentos, somos mais capazes de prevenir aquilo que, depois, é, de facto, patológico. O problema é não validar e não reconhecer as experiências de mal-estar que precisam de o ser.”


“O tempo de espera por uma consulta de psiquiatria no SNS é, em média, de 6 meses, e de psicologia, de 5 meses” e em regime privado, a primeira varia entre 75 e 120 euros, e a segunda, entre 60 e 100 euros, segundo dados da OCDE, citados no episódio 23, do programa “Linha da Frente”, dedicado ao projecto Manicómio, e exibido a 15 de Outubro de 2020.

Texto de Raquel Botelho Rodrigues

Fotografia de Cristian Newman, via Unsplash

 

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