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Semana da Física no IST: “Tentamos incentivar o questionamento”

Entre os dias 8 e 13 de maio, o Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST) acolhe a Semana da Física, que promove a demonstração de experiências, workshops e sessões de planetário. À conversa com o Gerador, Bruno Semião e Patrícia Torres, representantes da associação juvenil de estudantes responsável pelo evento, sublinharam o objetivo de aproximar o conhecimento científico do público em geral.

Texto de Analú Bailosa

Fotografia da cortesia do Núcleo de Física do IST

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Alunos e docentes de todos os ciclos formativos envolvem-se na programação desta que é a principal atividade do Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico (NFIST). Este ano, a sua 26.ª edição parte do tema Brilliant Accident para explorar descobertas que não estavam a ser investigadas e que foram feitas por acaso.

Com os primeiros cinco dias voltados para as escolas, o programa destaca a interação direta com fenómenos físicos – relacionados com plasmas, eletromagnetismo, mecânica, relatividade, termodinâmica e ótica –, palestras de professores e investigadores, visitas aos laboratórios da instituição e sessões de planetário. Além dos três mil estudantes que costuma receber de segunda a sexta, a Semana da Física convida as famílias a participarem gratuitamente no dia aberto, ao sábado (13), das 9h às 20h.

Fundado há 27 anos por alunos e ex-alunos de Engenharia Física Tecnológica do IST, o NFIST divide-se em cinco secções: Circo, Astro, Pulsar, Recreativa e Info. Em videochamada com o Gerador, o presidente, Bruno Semião, falou-nos sobre a mudança positiva de perspetivas provocada pelos eventos que organizam e da sua complementaridade ao programa escolar. “A partir do momento em que percebem melhor o que está a acontecer, ficam mais abertos à ideia de gostar daquilo. Na escola, estudam as contas, que, às vezes, não percebem muito bem, então há quem não goste de física, mas depois veem de onde aquilo vem e que faz todo o sentido e querem saber mais”, adiciona Patrícia Torres, diretora da subsecção do Circo.

Fotografia da cortesia do Núcleo de Física do IST

O NFIST é dividido em diversas secções e promove outras atividades para além da Semana da Física. Podem explicar como estruturam o vosso trabalho?

Bruno Semião (B. S.): O Circo da Física leva várias experiências às escolas, por exemplo, para demonstrar, de forma simples, fenómenos mais complicados e que parecem contraintuitivos. A Astro trata de fazer astrofotografia e saídas de campo e ensina as pessoas a usar telescópios e [sobre] a história e a mitologia das constelações. A secção Pulsar faz uma edição anual de uma revista científica com artigos, escritos por investigadores e alunos, e experiências possíveis de fazer com materiais do dia a dia. Trabalhamos para mostrar que a física tem mais do que, em geral, pensamos. Pensam muito que a física é apenas contas e teoria – o que também é bom, mas há mais do que isso e muitas experiências engraçadas. Temos ainda a [secção] Recreativa, que faz mais eventos [fechados] para o núcleo, e a Info, que trata das nossas redes sociais.

Um dos objetivos do evento do próximo mês é mostrar quão divertida a física pode ser. Como complementam a educação científica e/ou o programa de ciências, na vossa opinião?

Patrícia Torres (P. T): Normalmente, o que se dá nas escolas é muito à base da teoria. Vemos, quando mostramos coisas de eletromagnetismo, por exemplo, que os alunos sabem a fórmula, mas não sabem o que é a Lei de Faraday. Queremos mostrar que isso tudo tem uma aplicação. A física não surge pelas contas, mas através da observação e estudo de um fenómeno. [A abordagem do NFIST] é para perceber de onde vêm as contas. As pessoas entendem muito melhor quando sabem a origem e conseguem visualizar os fenómenos. E é uma maneira mais divertida, porque podem também ser elas a fazer, de perceber a ligação com a física – conseguimos andar porque há atrito – e que a física, afinal, não é só uma extensão da matemática.

B. S.: Exatamente. Por exemplo, somos ensinados que existem três estados da matéria: o líquido, o sólido e o gasoso. Na realidade, existem mais. O que muitas vezes perguntamos é em que estado está o fogo ou as trovoadas. Muita gente não sabe, mas não está em nenhum deles. Está num quarto estado, que é o plasma.

P. T.: Costumam simplesmente aceitar aquilo que lhes dizem na escola, então também tentamos incentivar o questionamento do que estão a aprender. B. S.: E as escolas nem sempre conseguem ter acesso a todos os recursos ou ao financiamento que precisariam para ter material para fazer estas coisas. Nós já estamos a desenvolver isto há 27 anos e vamos sempre tentando acrescentar mais coisas. Temos acesso a uma quantidade de material maior que chega a mais pontos, não só àqueles que normalmente chegam as escolas.

Fotografia da cortesia do Núcleo de Física do IST

Qual será o tema deste ano?

B. S.: Brilliant Accident. Existe uma palavra para isso em português – serendipidade –, mas não quisemos fazer a publicidade dessa forma, porque não diz nada a ninguém. Em cada banca, antes de mostrar experiências, contamos uma pequena história. Este ano, vão ser sobre descobertas que foram feitas por acaso, porque nem todas foram procuradas. Um exemplo são os raios X. O Röntgen estava a estudar tubos de raios catódicos, que emitiam radiação raio x. Aquilo estava a emitir para uma folha com uma certa substância que, quando leva com radiação, fica brilhante. Ele meteu a mão na frente e aconteceu que a radiação, que consegue passar muito facilmente pelo ar, não passou tanto pelos ossos e a folha ficou mais escura. Quando ele tirou a mão, conseguiu ver que os sítios onde estavam os ossos, a parte mais densa, estavam de uma cor diferente.

As bancas são compostas apenas pelos integrantes do NFIST?

P. T.: Colaboradores, maioritariamente.

B. S.: Não só do nosso curso e do IST, mas também de outras faculdades que vêm ter connosco. Não há nenhuma restrição para as pessoas nos poderem ajudar. Damos sempre formações na semana anterior. No ano passado, tivemos 150 colaboradores para conseguir tornar isso possível. 

Quais os destaques da programação?

B. S.: Um workshop de como construir um altifalante com material do dia a dia.

P. T.: De criptografia também. [A atividade com] os altifalantes parte da secção do Circo. O workshop da secção Pulsar é [para criar] como se fosse uma máquina fotográfica que regista o movimento do sol. São tudo coisas que as pessoas podem construir sozinhas com materiais que têm em casa.

B. S.: Nas sessões de planetário, podemos aprender onde estão as constelações, o que existe, a origem dos seus nomes, o que nós conseguimos ver no céu e a mitologia. As visitas aos laboratórios permitem uma visão da vida de quem fez o nosso curso e agora trabalha na parte de investigação, porque existem várias saídas, além de que são laboratórios de tecnologia mais avançada, algo que é sempre engraçado de ver por não termos contacto tão facilmente.

Fotografia da cortesia do Núcleo de Física do IST

Quanto às palestras, quais serão os temas e oradores?

P. T.: Os oradores, normalmente, são professores, investigadores e alunos do curso. Teremos uma palestra sobre a astrofísica em filmes de ficção científica; outra sobre partículas e a origem da matéria; e outro tema mais diferente é o Mosh Pit – A Loucura com Sentido.

B. S.: Estamos a pegar em algo que acontece em festivais e a analisar a física disso. É uma questão engraçada. Um monte de pessoas começa a andar à roda num círculo – qual é a física?

Depois de 25 edições, como medem o impacto da Semana da Física?

B. S.: O mais importante e impactante é quando mudamos a perspetiva do público em relação ao tema. Posso dar um exemplo do ano passado. Uma rapariga veio ter connosco à tarde, foi super-honesta e disse que tinha sido arrastada para ali e que não gostava de física. Foi engraçado ver que ela voltou à noite para passar mais algum tempo. Existem também pessoas que vão aos nossos eventos e depois vêm para o curso a dizer que fomos parte da motivação para seguir este rumo na vida. Termos essa influência é muito gratificante para nós.

Como estudantes e organizadores, como essa experiência é positiva para vocês?

B. S.: Eu não conseguiria fazer apenas o curso. Preciso de ter variedade. Há cadeiras que nos tentam ensinar soft skills, mas não há nada como fazer as coisas. A capacidade que, na minha opinião, ganhamos ao gerir tempo e pessoas, que são tarefas muito complicadas, é uma parte muito importante para a vida em geral. Não interessa o que vamos fazer no futuro, essas coisas todas vão ser importantes e dar jeito.

P. T.: Também [é bom] sair da rotina. Quando é só o curso, às vezes, torna-se bastante chato, então arranjar algo extra, onde podemos desanuviar um bocado, realmente ajuda bastante.

B. S.: Continua a ser algo que estamos a fazer na universidade, mas não parece, é diferente – a variedade que é necessária na vida.

Quais os outros eventos programados pelo NFIST ao longo do ano?

B. S.: Temos as Jornadas de Engenharia Física, que é feito para o curso e, durante três dias, há palestras de empresas e investigadores para percebermos o que se pode fazer depois [da fase académica] e o que é, na realidade, trabalhar nesta área. A Semana da Física tem um problema que é [ser] em Lisboa e as pessoas nem sempre se conseguem deslocar [até] cá. Exatamente por esse facto, tentámos arranjar uma forma de chegarmos ao público, em vez dele ter de chegar a nós. A Física Sobre Rodas é uma forma de nós andarmos por várias câmaras municipais – no caso do ano passado, pelo Norte – e fazer, em praças públicas, o nosso trabalho, para toda a gente ter acesso.

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