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Ser agente de mudança social não pode ser um privilégio

Quando vemos algo errado queremos mudar, fazer melhor e ter um impacto, seja por nós,…

Opinião de Margarida Freitas | Youth Cluster

©Rita Almeida

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Quando vemos algo errado queremos mudar, fazer melhor e ter um impacto, seja por nós, pela nossa família e amigos ou pela comunidade em geral. Ter voz e vontade de passar mensagens relaciona-se muito com a nossa personalidade e capacidade de reconhecer que podemos ser agentes de mudança, mas quantas vezes nos falta tempo, confiança, ideias, capacidade ou ferramentas para o fazer? Muitas vezes estas falhas são reais e outras vezes são o resultado de um medo de falhar.

De uma forma geral, todas nós sabemos apontar o que está errado no Mundo e sociedade, temos a capacidade de sonhar com mudanças que desejamos e, enquanto muitas pessoas não fazem o caminho para promover a transformação, outras fazem-no. Cada vez mais ser empreendedor e inspirar outros é uma tendência a que muitas pessoas aspiram - influencers, criadores de conteúdo, fundadores de uma associação ou startup - a lista é imensa. Mas, esta possibilidade de ser agente de mudança não está separada do privilégio que cada um de nós tem ou não tem e, há coisas na vida, que têm muito que ver com sorte.

Sentir que temos a voz para ser agentes de mudança está relacionada com o nosso percurso pessoal, pelo empoderamento que temos desde crianças e pelas conquistas que fomos alcançando ao longo da nossa vida. Não ter esta confiança para começar os nossos projectos é um desafio que deverá ser reconhecido e criadas possibilidades para contornar este obstáculo.

Se algumas pessoas têm a confiança, não podemos negar os obstáculos financeiros, pois são poucas as pessoas que podem abdicar de um trabalho de 40 horas semanais que oferece um salário no final de todos os meses para pagar renda, alimentação e transporte e passar a investir fundos e tempo para começar uma associação, uma cooperativa, uma startup ou, até mesmo, dedicar várias horas diárias ao Instagram

Por outro lado, se ainda somos jovens que estão a estudar e até temos algum tempo livre para começar um projecto de empreendedorismo social no nosso tempo livre, como uma associação que, na teoria, não deverá requerer um investimento financeiro significativo, o sistema vem-nos trocar as voltas. Por exemplo, enquanto estava na Arménia numa formação sobre economia solidária, falámos um pouco da facilidade que é começar associações nos países europeus, muitos destes com custos de 10€ a 50€ para começar uma associação, enquanto Portugal é um país que requer um custo irrisório de 300€. A economia social e os movimentos de base local apresentam-se como uma necessidade para complementar as respostas que não são dadas pelos governos, de forma a garantir que as necessidades das comunidades são satisfeitas e, por isso, mesmo deveriam ser incentivadas e reduzidos estes obstáculos burocráticos. 

Entre estes temos mais constrangimentos que tornam difícil ou mesmo impossível começar projectos como a dificuldade de acesso a financiamentos externos, o elitismo dos mesmos, não saber que soluções desenvolver para os desafios que encontramos ou não termos formação adequada. As limitações são várias e, da mesma forma que fazer voluntariado não deve ser um privilégio, criar um projecto de empreendedorismo social também não o deve ser.

De qualquer das formas, o privilégio é inegável e quem está numa posição privilegiada onde a sua voz já é ouvida, deverá ter consciência desse mesmo privilégio e utilizá-lo para melhorar o Mundo e não para o destruir ainda mais. Como a Sara Barros Leitão disse numa entrevista, “se a tua voz tem um grande alcance é preciso responsabilidade, por isso quanto mais alcance tem o que dizemos e fazemos, mais consciência devemos ter e falar de coisas que podem ser realmente transformadoras na vida das pessoas.”

Neste artigo certamente queremos expor soluções e perceber como é que nós, pessoas na nossa capacidade de cidadania, nos podemos juntar e fazer mais pela nossa comunidade contornando os constrangimentos enumerados acima.

Na minha opinião, quanto mais cedo começarmos esta caminhada enquanto agentes de mudança, mais tempo temos disponível para investir em diferentes projectos e mais espaço temos para falhar. Enquanto falhar nos deita abaixo, gerir os erros é essencial e é entusiasmante celebrar conquistas e continuar as nossas ideias que têm sucesso.

Para promover o nosso espírito de empreendedorismo social quando somos pessoas mais jovens, uma boa solução é começar por criar um grupo informal e fazer candidatura a apoios pontuais do IPDJ e aos projectos de solidariedade do Corpo Europeu de Solidariedade. Ambos oferecem apoio financeiro para implementar actividades com impacto positivo na comunidade!

A um nível mais individual, o IPDJ tem ainda programas de voluntariado jovem e o OTL de longa duração permite a pessoas entre os 18 e 30 anos em situação de desemprego ou durante os estudos, desenvolver o seu próprio projecto de voluntariado junto de uma associação, município ou empresa e receber apoio financeiro. Desta forma, este poderá ser um primeiro passo para nos tornarmos agentes de mudança e, a nível internacional, uma oportunidade semelhante é o Erasmus para Jovens Empreendedores

Em traços mais profissionais e com o objectivo de criar uma carreira, em Portugal temos alguns financiamentos de apoio ao empreendedorismo social, de que é exemplo o StartUP Voucher. Constantemente novos apoios vão surgindo e o importante é encontrar algum tempo para procurar, o que novamente e infelizmente, é um privilégio de alguns…

-Sobre a Margarida Freitas-

Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, queria mudar o mundo pela diplomacia, mas depressa percebeu que o seu caminho era junto das pessoas a fazer voluntariado nos mais variados contextos, logo adoptou o lema do ano sabático para a sua vida e já andou um bocadinho pelo mundo. Com um desejo de trabalhar em intervenção humanitária, mas com um grande cepticismo sobre as práticas das grandes organizações no Sul Global está a concluir o Mestrado em Estudos de Desenvolvimento no ISCTE. 
Em 2020, juntou 9 amigos e fundou a Associação Youth Cluster com o objetivo de dar as mesmas oportunidades que já teve a outras pessoas jovens residentes em Portugal. Através do seu trabalho na Youth Cluster e, em cooperação com outras organizações, tem reivindicado por igualdade de oportunidades e melhores políticas para a juventude. 
Nos tempos livres adora googlar sobre coisas improváveis.

Texto de Margarida Freitas
Fotografia de Rita Almeida
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

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