Dois por cento! Apenas 2% da variante estrutural do ADN que tem sido estudado entre chimpanzés e humanos é considerado “Junk DNA”, ou seja, lixo ou parte que nem tem merecido atenção de estudo.
E, em conclusões recentes que estão neste preciso momento a serem discutidas, são, possivelmente, estes exactos 2% que podem ser a causa entre a diferente e extraordinária evolução extremista entre o chimpanzé e o homo sapiens.
De repente, é este lixo de “apenas” 2% que pode ajudar a explicar como este ADN não codificado é, num repente, quase mais importante que os restantes 98% estudados até à exaustão.
Este estudo revolucionário está a ser comandado por cientistas baseados na Universidade de Lund na Suécia e pode ser lido com mais pormenor na publicação científica “Cell Stem Cell”.
Para nos relembrar, demos um passo atrás: é sabido que o símio mais semelhante ao ser humano conheceu uma evolução diferente há cerca de seis milhões de anos, daí a diferença actual entre as espécies. Mas não deixa de ser o animal mais parecido connosco. Muito pelo contrário, como se tem vindo a replicar em inúmeras e exaustivas experiências que até os levaram ao espaço como cobaias.
O que mudou?
Utilizando as células estaminais, os investigadores cultivaram especificamente células cerebrais de humanos e chimpanzés e compararam a tipologia. Chegou-se à conclusão que os humanos e os chimpanzés utilizam uma parte do seu ADN de formas diferentes, o que parece desempenhar um papel considerável no desenvolvimento dos nossos cérebros.
"A parte do nosso ADN identificada como diferente foi inesperada. Era uma chamada variante estrutural do ADN que anteriormente era chamada "ADN não desejado", uma longa cadeia de ADN repetitiva que há muito tempo se considerava não ter qualquer função”, explica um representante do laboratório em questão.
E continua: “Anteriormente, os investigadores procuraram respostas na parte do ADN onde se encontram os genes produtores de proteínas - que constituem apenas cerca de 2% de todo o nosso ADN - e examinaram as próprias proteínas para encontrar exemplos de diferenças".
As novas descobertas indicam assim que as diferenças parecem estar fora dos genes codificadores de proteínas no que foi rotulado como "ADN de lixo", que se pensava não ter qualquer função e que constitui a maioria do nosso ADN.
Esta técnica já foi reconhecida pelo Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina de 2012, premiando os esforços da investigadora nipónica Shinya Yamanaka, pois foi quem descobriu que células especializadas podem ser reprogramadas e desenvolvidas em todos os tipos de tecido corporal.
Em Lund, sem esta técnica, não teria sido possível estudar as diferenças entre humanos e chimpanzés utilizando métodos eticamente defensáveis.
Porque é que os investigadores quiseram investigar a diferença entre humanos e chimpanzés?
Johan Jakobsson, um dos principais chefes da investigação, acredita que "o cérebro é a chave para compreender o que é que torna os humanos, enfim, o que eles são, ou seja… humanos. Como é que estes humanos podem usar o seu cérebro de tal forma que possam construir sociedades, educar os seus filhos e desenvolver tecnologia avançada?”
A dúvida persiste e “é fascinante"!
Johan Jakobsson acredita que, no futuro, as novas descobertas podem também contribuir para respostas de base genética a questões sobre doenças psiquiátricas, tais como a esquizofrenia, uma doença que parece ser única para os seres humanos.
"Mas há ainda um longo caminho a percorrer antes de chegarmos a esse ponto, pois em vez de realizarmos mais investigação sobre os 2% de ADN codificado, podemos agora ser forçados a aprofundar todos os 100% - uma tarefa consideravelmente mais complicada para a investigação", conclui.
Vamos a isso, pedimos nós.
Fonte: news.com neuroscience
*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
-Sobre Ana Pinto Coelho-
É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora. Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.