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Opinião de Margarida Freitas

Sim, está a chover, mas o país ainda está em seca 

Nas Gargantas Soltas de hoje, Bárbara Marques reflecte sobre a crise climática e a necessidade urgente de agirmos para transformar a realidade atual.

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“Em Abril, águas mil”. Menos em Portugal, onde Abril significou três ondas de calor, e pouca ou  nenhuma chuva, com 14% do país em situação de seca extrema e apenas 10% em situação normal (o  terceiro Abril mais quente desde 1931). Valores estes que se mantêm em Maio, com 40% do território  português em situação de seca extrema e severa (segundo o IPMA). Mas experimentem sair à rua  depois das chuvas das últimas semanas e dizer que não é bom que agora chova assim tanto…  Negacionistas, ou desconhecedores da realidade, irão dizer que “estes ambientalistas também nunca  estão satisfeitos, se está calor é porque está calor, mas se chove é porque chove”. E não, não estamos  satisfeitos porque nada disto é normal. 

Não é normal, nem positivo, que Portugal pareça um país tropical, em maio, com chuva e granizo a cair  enquanto andamos na rua de calções e chinelos. 

Não é normal que o abastecimento de água de certas aldeias tenha de ser feito por tanques de  bombeiros porque as nascentes estão secas ou com níveis reduzidos. 

Não é normal que os agricultores não consigam ter água disponível para manter as suas plantações e  animais. 

Não é normal que se ignore o facto de que, neste momento, em média, um cidadão português gaste  187 litros de água por dia quando se prevê que, em 2040, só teremos disponíveis 25L/ dia/pessoa (dados das Águas de Portugal e World Resources Institute). 

As alterações climáticas não são um problema longínquo e não são um problema para as gerações  futuras. As alterações climáticas são, na verdade, uma crise climática que está a acontecer neste  momento, à qual Portugal não está seguro a assistir na bancada. Segundo a Agência Portuguesa do  Ambiente (APA), Portugal é “um hotspot das alterações climáticas”, ou seja, um local que está  especialmente vulnerável aos piores cenários - estamos ao lado do mediterrâneo, onde as  temperaturas estão a subir e os níveis de precipitação a reduzir, e onde ficamos mais vulneráveis a  eventos climáticos extremos - que, na realidade, já estão a acontecer - como a seca, os incêndios  florestais (que têm sido cada vez mais comuns e intensos) e chuvas curtas mas intensas. Segundo  Tamsin Edwards, cientista do clima, com uma subida das temperaturas de 1,5ºC (em comparação com  os níveis pré-industriais), os episódios de calor extremos serão quatro vezes mais prováveis de  acontecer, e episódios de seca serão duas vezes mais prováveis. Atualmente, com uma subida das  temperaturas ligeiramente superior a 1ºC, já observamos ondas de calor que acabam com vidas,  inundações que arrastam cidades, e incêndios que devastam florestas. 

O ciclo da água e o equilíbrio hidrológico estão obviamente ligados à crise climática. Em termos  práticos, o solo de uma zona que esteve em situação de seca extrema vai-se tornando seco e compacto  o que, consequentemente, dificulta a absorção da água da chuva. Isto significa que, após um período  de seca, quando chove (e principalmente se chove intensamente) a água da chuva em vez de ser  gradualmente absorvida acaba por escorrer pela superfície dos solos. Isto não só não permite que o  solo fique hidratado, como vai resultar em arrastamento de solos e cheias, com consequências para nós, humanos, e para a biodiversidade envolvente. Neste momento, a maioria das cidades não permite  que o ciclo da água seja sustentável. Com a falta de espaços verdes e corpos de água, não há armazenamento suficiente de água e as cidades tornam-se em espaços mais quentes, o que tem  consequências na qualidade de vida - 37% das mortes relacionadas com o calor são causadas pelas  alterações climáticas, sendo que é mais comum que ocorram em áreas urbanizadas.

Em 2009, um grupo de cientistas especialistas identificou nove ‘limites planetários’ que nos servem  como indicadores - reconhecidos e adotados a nível europeu e internacional - que nos mostram quais  os limites que não devem ser ultrapassados pois podem ter consequências ambientais catastróficas.  Estes nove limites são: alterações climáticas, perda de biodiversidade, alterações no uso dos solos,  acidificação dos oceanos, destruição da camada de ozono, uso de água doce, fluxo de nutrientes,  aumento de aerossóis na atmosfera, e aparecimento de novas entidades (como são, por exemplo,  os micro-plásticos e certos químicos). Destes nove limites planetários, por consequência de ações  humanas, seis deles já foram ultrapassados - um dos quais foi o uso de água doce - o que demonstra  o estado crítico em que está o nosso Planeta neste momento e o quão urgente é agir. 

Por isso, sim, os ambientalistas têm razão em “nunca estar satisfeitos”. E sim, chuva é importante e  necessária, mas é compreensível que nem sempre seja bem-vinda. Mas mais do que reclamar da  chuva ou reclamar dos ambientalistas, devemos agir. Temos de olhar para as alterações climáticas  como uma crise atual e urgente, e não um problema do futuro; temos de reduzir as emissões de CO2  e evitar os combustíveis fósseis; temos de boicotar marcas, pessoas e atividades (como a agricultura  intensiva e petrolíferas) que agem como se os recursos do planeta fossem infinitos; temos de tornar  o mundo num local socialmente mais justo; ser politicamente ativos, votar, e transformar as normas  sociais. Temos de fazer mais pelo Planeta e sair da nossa zona de conforto, ou a nossa zona de conforto  pode vir a desaparecer.

-Sobre a Bárbara Marques-

Abrantina, licenciada em Turismo Internacional e Gestão de Empresas e atualmente frequenta o mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Trabalhou nas áreas de turismo e educação. Passou um ano a viajar de bicicleta pela Europa - do Cabo da Roca ao Cabo Norte e regresso - o que lhe permitiu “abrir os olhos” para a realidade de outras culturas. Apaixonada pela natureza e praticante de desportos de aventura, tem uma grande conexão e preocupação pelo meio ambiente. Host do podcast Planeta Berde, um podcast que descomplica a sustentabilidade; parte das equipas dos projetos Reciclar não Chega e Janeiro Sustentável, que ajudam a consciencializar as pessoas sobre este tema; e da equipa Youth Cluster onde está a desenvolver atividades baseadas em educação não formal na mesma área.

Texto de Bárbara Marques
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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