fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Laura Bastos | Zero

Terror do Inverno

Nas Gargantas Soltas de hoje, Laura Bastos reflete sobre o consumo de energia durante o Inverno.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Tenho terror do Inverno. Desde que me lembro, a chegada do frio para mim nunca esteve associada ao quentinho de uma lareira ou ao conforto de uma bebida quente. Estas eram apenas estratégias desesperadas para sobreviver a um desconforto constante em casa, na escola ou no café. No meu primeiro Inverno fora de Portugal, percebi que a origem da minha aversão não era o Inverno em si, mas o fato das nossas casas e edifícios não serem capazes de armazenar calor suficiente para termos um espaço onde nos podemos recolher confortavelmente, numa estação em que a Natureza nos convida a isso mesmo.

O problema é, como tantos outros, sistémico: o parque edificado português é obsoleto, sendo que aproximadamente 70% dos edifícios foram construídos antes de 1990, ou seja, quando os regulamentos de desempenho energético para edifícios residenciais ainda não tinham sido implementados no país. Na verdade, segundo a ADENE, 69,5% das habitações avaliadas em Portugal tiveram uma classificação energética entre C e F – as classes menos eficientes, conforme o Sistema de Certificação Energética de Edifícios. Neste cenário, não há sistema de aquecimento que seja na verdadeiramente eficaz e a fatura da utilização de equipamentos de climatização de baixa eficiência, como lareiras ou aquecedores elétricos, é, no final das contas, elevadíssima. 

Sim, faço parte daquela categoria de pessoas comumente designadas de “friorentas”, mas não sou a única prejudicada, na verdade, somos todos. A fraca eficiência energética prejudica o ambiente, uma vez que o setor energético é responsável pela emissão de uma grande quantidade de gases com efeito de estufa. Em Portugal, o setor dos edifícios é responsável pelo consumo de aproximadamente cerca de 30% da energia final, sendo que mais de 50% deste consumo pode ser reduzido através de medidas de eficiência energética. 

A solução é, como muitas outras, financeira: para evitar as faturas elevadíssimas mensais, o ideal seria investir a priori no isolamento térmico com materiais reciclados, em coberturas e pavimentos interiores ou exteriores, em paredes exteriores ou interiores; aplicar melhores janelas nas habitações, que reduzem significativamente as perdas de calor para o exterior; e investir em equipamentos como ar condicionado/bomba de calor que, embora apresentem um custo elevado e impliquem algum ruído, têm uma eficiência na produção de calor quatro a cinco vezes superior à de um irradiador a óleo. 

Infelizmente, estas medidas não são acessíveis a todos. Nesse caso, podemos talvez recorrer à calafetagem de portas e janelas, ao uso cuidadoso dos aquecedores a óleo e termoventiladores (desligando-os durante a noite e regulando adequadamente a temperatura de funcionamento, evitando colocá-los no máximo), ou à biomassa através da queima de lenha (evitando lareiras abertas). E claro, não esquecendo as roupas quentes e confortáveis. Não devemos esquecer ainda que o governo português lançou o programa vale eficiência para prestar apoio financeiro às famílias para melhorar a eficiência energética das suas casas, por isso, se se aplicar, usufrua. 

Pessoalmente, no meio do processo doloroso de adquirir uma casa, espanta-me como muitos anúncios nem sequer falam da eficiência energética do edifício, quando a perspetiva de uma casa gelada me continua a aterrorizar. Assim como me espanta quando a minha mãe me conta, em tom de brincadeira e heroísmo, que a janela do seu quarto de infância tinha gelo quando acordava. Ter frio em casa não “enrijece”. Pelo contrário, em Portugal, o frio nas casas estará na origem de quase 25 por cento das mortes no Inverno, sendo os idosos os mais afetados. Precisamos de casas mais quentes no Inverno, pelo bem da nossa saúde e do ambiente. 

-Sobre Laura Bastos-

Laura Bastos é licenciada em Jornalismo e doutorada em Relações Internacionais pela Universidade de Coimbra. Colabora como voluntária com a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável desde Setembro de 2022.

Texto de Laura Bastos | Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

2 Julho 2025

Não há liberdade pelo consumo e pelas redes sociais

25 Junho 2025

Gaza Perante a História

18 Junho 2025

Segurança Humana, um pouco de esperança

11 Junho 2025

Genocídio televisionado

4 Junho 2025

Já não basta cantar o Grândola

28 Maio 2025

Às Indiferentes

21 Maio 2025

A saúde mental sob o peso da ordem neoliberal

14 Maio 2025

O grande fantasma do género

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

23 Abril 2025

É por isto que dançamos

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0