A Access Lab é uma startup portuguesa que pretende garantir o acesso de pessoas com deficiência e surdas à cultura e ao entretenimento enquanto direito fundamental. “Aquilo que nós procuramos fazer é incluir a pessoa na jornada do consumidor do princípio ao fim. Isto começa na comunicação, passa pela bilheteira, pelo transporte e pelo percurso dentro do espaço”, explica. Tiago Fortuna criou uma “startup de impacto” porque acredita que o futuro da economia global passa por robustecer a economia social: “Tudo o que ganhamos, devolvemos à sociedade em impacto social. É esse o nosso objetivo, sempre”.
“Cada área tem a sua maneira de trabalhar a inclusão. Quando estás a trabalhar, tens mesmo que segmentar para garantir a inclusão das pessoas nos eventos”, expõe. Revela ainda que, nos últimos seis meses, a Access Lab tem trabalhado também a acessibilidade de pessoas neurodivergentes e com deficiência intelectual. Como resultado, sublinha a necessidade de preparar experiências acessíveis para o público ao nível do espaço, mas também ao nível da programação dos eventos: “Trabalhamos nos serviços dentro do espaço, como nos balcões, nas casas de banho e no bengaleiro, mas também na programação através da integração de língua gestual, de audiodescrição, de coletes sensoriais e de sessões descontraídas”.
Para o ativista, o estudo Acessibilidade na cultura 2023: experiências das pessoas com deficiência e Surda, realizado pelo Obi.Media/ICNOVA a pedido da Access Lab, reforça a urgência de advogar pelo bilhete gratuito para acompanhante da pessoa com deficiência e pela programação acessível: “Tivemos 85% dos inquiridos a dizer que teve problemas no acesso ao objeto cultural. 85% que é muito”. Tiago Fortuna aponta o dedo aos entraves que se colocam ao investimento em acessibilidade: “Há muito entusiasmo, mas depois não se concretiza. Toda a gente tem vontade de trabalhar a acessibilidade. Não há ninguém que não queira trabalhar a acessibilidade, mas quando tu apresentas um orçamento: ui, é dramático”.
“A acessibilidade, a inclusão e a diversidade devem ser remuneradas e têm custos como qualquer outra área. [Em Portugal], não há uma base económica para estas questões”, esclarece. Colocar a acessibilidade à cultura como prioridade “é um caminho muito difícil de ser feito, sobretudo para estruturas que têm problemas estruturais de financiamento”, segundo Tiago Fortuna. Reconhece, no entanto, alguns casos de sucesso, nomeadamente na área do audiovisual: “O streaming já está bastante bem preparado. Se usarmos o Disney+, praticamente todos os títulos têm a audiodescrição do Brasil. A Netflix tem sobretudo em inglês. Enfim, há aqui muitas desigualdades que precisam de ser equilibradas”.
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