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Tudo o que aconteceu na Ignição Gerador no Teatro Thalia

Na penúltima edição de 2018, a Ignição Gerador abriu as portas do Teatro Thalia para…

Texto de Andreia Monteiro

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Na penúltima edição de 2018, a Ignição Gerador abriu as portas do Teatro Thalia para duas performances surpresa, ontem, dia 20 de setembro, pelas 18h. A partir das 17h30 o Teatro começou a receber os visitantes que queriam garantir a sua senha para fazerem parte desta edição, enquanto quatro estátuas humanas já ocupavam o foyer do teatro. Às 18h, Pedro Saavedra, diretor artístico do Gerador, apresentou o Teatro Thalia aos visitantes começando por fazer referência à frase escrita no frontão do edifício: HIC MORES HOMINUM CASTIGANTUR. Ou seja, “Aqui serão castigados os costumes dos homens”.

O teatro está localizado na Quinta das Laranjeiras, mas nem sempre foi um teatro. Inicialmente conhecida como Quinta de Santo António, pertencia, no final do século XVII, a Manuel Silva Colaço, o 1º Barão de Quintela. Desde então, vários foram os seus proprietários até que, em 1802, Joaquim Pedro Quintela decidiu substituir as casas existentes por um palácio.

Foi com a chegada do 2º Barão de Quintela, 1º Conde de Farrobo, que o fausto e bom gosto invadiram o palácio. O Conde de Farrobo era conhecido pelas suas excentricidades e manifestações cénicas, organizando várias festas e bailes. Assim nasceu a expressão “forrobodó”. Foi então que, em 1820, decidiu construir um teatro junto ao Palácio das Laranjeiras e batizá-lo com o nome da musa da comédia na mitologia grega – Thalia.

O Conde acabou por falecer em completa miséria, deixando o Teatro Thalia abandonado à sua sorte. Hoje o teatro encontra-se requalificado pelo Estado, numa iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, e é palco de espetáculos científicos e culturais.

Salão à espera de ser invadido, João Pedro Mamede e Isabel Costa

Explicada a história deste belo edifício é tempo de apresentar a primeira performance da tarde, “Salão”, da criação de Isabel Costa. A performance foi inspirada pelo salão do século XIX que era visitado por aristocratas da sociedade Lisboeta, propondo, agora, a inauguração de uma exposição onde as obras de arte eram quatro performers - Eduardo Breda, Filipa Matta, João Pedro Mamede e Isabel Costa – personificando estátuas que mudavam de posição conforme os contextos. Ainda antes de as pessoas invadirem o salão foram presenteadas com um papel onde se podia ler: “Guia para o Salão do Século XXI”. Nele estavam inscritas seis regras:

- Beba um copo de vinho;

- Observe a obra;

- Aproxime-se da obra;

- Toque na obra;

- Coloque o seu ouvido perto da boca da obra;

- Coloque-se na posição da obra.

Os convidados foram-se servindo com copos de vinho e os primeiros corajosos começaram a interagir com estas estátuas, ora imitando as suas posições, ora complementando-as. Ao aproximarem o seu ouvido da boca das estátuas estas sussurravam-lhes mensagens lentamente. Passeando pelo espaço da inauguração ouvem-se partilhas do que as estátuas disseram. “Tens tempo livre? Há quanto tempo não fazes algo que realmente queres?”. Embora houvesse um guião que os performers seguiam, os discursos e linguagem corporal eram adaptados a cada pessoa que tomava a decisão de se aproximar.

Esta performance, recebida pelos convidados com surpresa e agrado, visava explorar a relação que existe numa peça de arte entre o performer e o artista. A vida a acontecer e o estar disponível para a receber. Apenas observar as estátuas, interagir com elas pelo toque, mimetização, complementaridade ou ao comunicar com elas era uma opção do espetador, o que fazia sobressair a dinâmica proposta, uma vez que “a bola estava dos dois lados”.

Finda a primeira performance, Pedro Saavedra encaminha os visitantes para o auditório em que as paredes são revestidas de uma pedra rústica castanha e onde figuravam um poeta, Pedro Adrega, e um músico, David Lopes, segurando a sua guitarra. As pessoas são convidadas a sentarem-se em meia-lua em frente aos artistas. “Until The Horizon Gone” começa.

A poesia auto-biográfica trágico/ romântica em paisagens exploratórias por ambientes sonoros enchem o auditório. Ouvem-se poemas que falam sobre o tempo, a morte e o amor enquanto a guitarra elétrica acompanha os ditos, assim como o som do teclado e sintetizadores em loop. “Os meus olhos são o reflexo do horror da tua ausência”, diz o poeta cujos pés estavam acompanhados por pétalas de rosa no chão, como se a tragicidade constante do amor, desfolhasse o seu casaco de veludo vermelho cor de sangue. “Levei-te à cova onde me enterraste”, “não consigo dormir, toda esta calma com que me cresce desertos no coração”. No final de cada poema cessava a música e ouvia-se o cair da folha, como se de uma pétala se tratasse, onde o poema estava escrito, mas que Pedro não olhava. Dirigia-se novamente à mala de viagem onde ia buscar outra folha para nos recitar mais um poema.

“Until The Horizon Gone”, com Pedro Adrega e David Lopes

Esta foi uma conversa semi-improvisada por um poeta e um músico que se viram inspirados por fotografias e sons. Dos versos ouvidos, a maioria era da autoria de Pedro Adrega, mas existiam alguns de Eugénio de Andrade e Alberto Caeiro. Com o fim da atuação as pessoas são encaminhadas para uma conversa com os artistas. Ao passar pelo lugar outrora ocupado pelo poeta vê-se a mala de viagem que guardava ainda uma fotografia a preto e branco de Fernando Pessoa.

A Ignição Gerador é a performance cultural, que acontece em espaços exclusivos e irrepetíveis. A cada 2 meses, espaços como casas de pessoas, lojas abandonadas, tascas centenárias, garagens mal iluminadas, hortas cultivadas ou jardins em flor podem ser palco de duas performances surpresa. A próxima edição acontecerá em dezembro. Até lá, podemos aquecer os nossos corações com uma experiência irrepetível no teatro do forrobodó e duas performances que deram aos seus visitantes muito em que pensar.

Texto e fotografias de Andreia Monteiro
A Ignição Gerador é uma iniciativa do Gerador

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