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Um dia, Cem Soldos: correr, correr até à aldeia

Esta é uma história em quatro partes sobre viver a aldeia de Cem Soldos durante…

Texto de Gerador

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Esta é uma história em quatro partes sobre viver a aldeia de Cem Soldos durante o festival BONS SONS. Como três gatos pingados, saídos de três pontos do país - Vila do Conde, Árgea e Lisboa - chegámos estafados a Cem Soldos e corremos para nos instalar.

Ao fim da tarde do primeiro dia do festival, a busca por um espaço para assentar as tendas já não é tão fácil. Fomos subindo pelos caminhos de terra e lá encontrámos um lugar (com alguma inclinação, é certo): mesmo ao lado de um grupo que bem podia ser o clube de fãs dos Ena Pá 2000, tão fã quanto simpático, que até nos safou com um martelo para conseguirmos prender as tendas. Ufa!

De estaminé montado, seguimos a correr para falar com o Salvador Sobral. Fomos encontrá-lo na cantina do jardim de infância de Cem Soldos, que, durante os dias do festival, se transforma no restaurante que recebe os artistas. A azáfama é grande e temos medo que a entrevista se perca entre conversas e talheres que se cruzam. Felizmente, o Salvador agarra prontamente no gravador para que não restem dúvidas, “estamos aqui a gravar, tá tudo a ouvir?"

É a primeira vez que o artista está no festival, mas há muito que queria cá vir. “Quando é que me levas ao Bons Sons?”, foi a pergunta que fez várias vezes a Luís Ferreira, diretor do festival, que lhe respondeu que preferia esperar que passasse o boom da Eurovisão. Mas queremos saber: será que já passou?  “Sinto que estamos num processo ainda (...), no processo de ser o músico Salvador Sobral e não o vencedor do concurso. Mas acho que estamos a conseguir e está a haver uma filtragem natural do público, o público que fica pela música e não pela Eurovisão”.

Bastaram algumas horas em Cem Soldos para o Salvador se apaixonar pela aldeia. “Eu adoro este sítio, é uma aldeia musical, é muito giro viverem assim a música aqui, como se fosse uma aldeia encantada”. E como nos lugares encantados não faltam surpresas, ao início da tarde Salvador Sobral cantou do cimo de uma varanda, num mini-concerto que não estava anunciado e que fez as maravilhas dos festivaleiros que já circulavam pelo recinto.

Era altura de o deixarmos seguir para a sobremesa, mas não sem que antes nos dissesse como falaria da sua música a alguém que nunca tivesse ouvido falar dele. “Como é que é possível?”, disse-nos a rir. “Se gosta de música livre, de liberdade cénica, de liberdade no palco, de liberdade emocional, e muita emoção, então que oiça a minha música.”

Quando mais tarde nos juntámos à multidão em frente ao palco Lopes-Graça, tivemos a certeza de que a espera tinha valido a pena. Salvador Sobral e a sua banda, composta por Júlio Resende, André Rosinha e Bruno Pedroso encantaram o público com o seu jazz. E porque neste concerto reina a liberdade criativa e emocional, houve lugar para a improvisação e durante a música Mano a Mano a banda juntou-se para surpreender o público com um arranjo que deixou alguns de lágrima ao canto do olho e com as vozes aquecidas para, já quase no fim, cantarem a plenos pulmões a Amar Pelos Dois, da primeira à última fila. Salvador despediu-se do palco com “Anda estragar-me os planos”, de Francisca Cortesão e Afonso Cabral, deixando o público ainda a pedir por mais.

O concerto abriu-nos o apetite e, de bifanas na mão, corremos a aldeia para ver as vistas. Foi no café da noite que conhecemos a D.Manuela. Não é de Cem Soldos, mas vem todos os anos para ajudar a cunhada no Café da Tonita, na semana do festival. "A gente não vê muito do festival, que não tem vagar, só se for à tardita é que conseguimos espreitar alguma coisa." O que gosta mais? “ O convívio, as pessoas que vêm já há muitos anos. Depois já nos conhecem e ficamos aqui na paródia, como aconteceu com vocês!” Antes de a deixarmos perguntamos sobre os segredos da aldeia, ao que ela nos responde: "ó meninos, os segredos não são para se contar.” Percebemos a dica e seguimos caminho.

Ainda houve tempo para dançarmos ao som da moçambicana Selma Uamusse, que conseguiu que o público saltasse de sapatos na mão e espantasse o frio, apesar dos pés descalços. Restaram-nos energias para irmos espreitar o palco Zeca Afonso, que é novidade nesta edição. Estreado à tarde pelos The Lemon Lovers, era Slow J quem o ocupava, atraindo o público mais jovem.

A noite aproximava-se do fim quando Xinobi trouxe o calor ao Palco Aguardela. Dançámos enquanto os pés e as pernas nos deixaram e seguimos viagem até à nossa tenda. Ups, se calhar estava mesmo mais inclinada do que era suposto: bem, hoje ficamos assim, amanhã a música é outra.

Reportagem por André Imenso Cruz, Clara Amante e Patrícia Roque

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