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Um exercício de cabeça

Nas Gargantas Soltas de hoje, Ana Pinto Coelho fala-nos sobre o momento de pedir ajuda.

Opinião de Ana Pinto Coelho

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A vida, por algumas vezes, não nos é simpática e provoca um sem número de problemas que, em catadupa e num novelo cada vez maior, nos desiquilibram e empurram para um precipício. 

É natural que, da primeira vez que tropeçamos, não tenhamos consiência de todo um processo que se iniciou sem darmos conta, talvez por preguiça ou por azar. O que é certo é que entramos numa espiral que parece não ter fim e percebemos que deixamos de ter controlo sobre muita coisa. É nessa altura que fechamos a porta.

A primeira derrota profissional é demasiado poderosa. Não estamos cientes da sua importância quando acontece e ainda menos no quanto nos vai afectar no futuro. Não contamos com a força do embate, com a injustiça, a perseguição e a conclusão desta força da Natureza que, num repente, nos tolda o percurso pensado e estudado para uma vida. Sim, porque e afinal, a culpa nunca é nossa, certo? Na verdade, apenas poucas vezes o não é. E é tão fácil cair no desespero.

Na verdade, pouco podemos apontar uma culpa a quem decidiu e sofre com uma má decisão. Mas é exactamente a seguir a esse trambolhão que a vida nos acontece como num filme. Se repararem, uma narrativa tem um percurso bem simples: o personagem está a caminhar numa estrada até que surge um problema. Chamemos-lhe bifurcação. Nesta, tem uma opção: escolher e seguir o caminho A ou o caminho B. De salientar que, qualquer que tenha sido a opção, esse caminho irá dar a outra bifuração onde se terá novamente de escolher e por aí adiante. Será no progresso deste caminho e escolhas que acontece uma que nos corre francamente mal e ficamos num beco sem saída.

Este exemplo espelha essa primeira derrota que vivemos e, para nos levantarmos, teremos de optar novamente por um dos caminhos, o tal A ou B, mas após uma inversão do sentido.  No caso profissional, esta opção é tremendamente importante, pois uma leva à continuação da derrocada enquanto a outra leva à solução. Se optou pela solução, parabéns, o caminho é em frente e já aprendeu uma lição para o futuro. Mas vamos partir do princípio que optou pela opção errada. Pois bem, a situação agrava-se e a derrocada parece não ter fim. Tudo é negativo, as portas fecham-se, as pessoas afastam-se, as oportunidades escasseiam, somos empurrados para o fundo de um poço.

Se pararmos para pensar, o que é muito difícil, percebemos que esse caminho conduz a um outro processo paralelo e que é bem mais grave, a percepção da nossa própria derrota: a pessoal, aquela que nos vai afectar mais profundamente porque, ao contrário da profissional, não podemos desistir ao assinar com um simples ponto final, parágrafo.

Uma derrota que se assume como pessoal leva, normalmente, à superlativa tristeza, embaraço e até vergonha. Deixamos de acreditar nas nossas valências, em todo o percurso e conquistas que conseguimos. Uma derrota pessoal é brutal, nefasta e que, não poucas vezes, leva a uma depressão ou mesmo a um esgotamento. É exactamente nesta altura que toda a ajuda é necessária, seja através de amigos próximos como, bem mais eficaz, de profissionais que nos vão dar armas para começar a combater esta, podemos dizer, desilusão.

Trata-se de um caminho que nunca é rápido ou fácil. Teremos de abrir os braços para ser ajudados e este é um passo bastante difícil. Se deixámos de acreditar em nós, como vamos acreditar em terceiros, certo? Mas é mesmo assim que tudo começa.

Ao iniciar uma terapia, independente do tipo de profissional escolhido (singular ou plural), estamos aptos a conseguir um pequeno milagre: o de ultrapassar um grave episódio que nos toldou a percepção de todo um presente/futuro. O processo é tão ou mais difícil quando percebemos que cada caso é um caso, e ao contrário das empresas ou profissões, nunca há uma resposta directa por muito que nos custe ouvi-la. Pelo contrário, a solução está dentro de nós. 

A boa notícia? Somos mais resilientes do que pensamos e a ajuda profissional entreabre essa porta que fechámos com estrondo. Abri-la novamente depende de nós. E, com alguma sorte, está ao alcance de muitos que se sentem perdidos numa determinada altura. É escolher um dos caminhos: o A ou o B.

-Sobre Ana Pinto Coelho-

É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora.  Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.

Texto de Ana Pinto Coelho
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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