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“VASTO”: preenchido por enumeras situações emotivas chega-nos através do olhar de Amélia Bentes e pelxs corpos de quem a acompanha

A peça da coreógrafa Amélia Bentes chega hoje à Biblioteca de Marvila, em Lisboa, pelas 21h00, prolongando-se até ao dia de amanhã, 9 de outubro. “VASTO” assinala uma longa caminhada da artista, que regista cerca de meia centena de criações em nome próprio. Numa diversidade de fragmentos, emoções e narrativas o efémero e a orgânica movimentam-se em corpos, cohabitam em sons e constroem em palco a geometria dos afetos.

"Nós nunca nos apegamos a nada e as emoções. Elas trazem-nos isso, o ser passageiro." Pelas palavras de Amélia, de Clarisse Lispector, de António Pimenta, dxs bailarinxs, do Nuno Veiga entre muitas outras referências, o espetáculo se constrói. Tendo-se edificado ainda no ano de 2020 ainda que de uma forma de experimentação, a obra da artista reflete um processo de criação que se foi fazendo ouvir ao longo dos últimos meses. Movimentos, não formas mas que se (des)concertam, uma realidade que se construiu em duas fases. "o de pesquisa, do ano passado, e o finalizar esta pesquisa, agora".

Sentindo-se ligada ao tema do autoconhecimento, "o que me preenche; como é que eu me observo para ter uma atitude na vida perante os outros; como é que os outros me afetam e eu afeto os outros, numa perspetiva de me melhorar", conta-nos a coreógrafa. Foi este o caminho que levou até chegar a VASTO. O espetáculo é preenchido por enumeras situações emotivas. Fragmentos que, segundo Amélia, "nunca se repetem e a que nunca nos apegamos. As emoções trazem um pouco isso. São passageiras. Nós nunca nos apegamos a nada."

Tendo como objetivo o experiencialismo das expressões físicas, histórias e narrativas que não podem ser contadas, mas que através do movimento podem ser sentidas com os bailarinxs, é através dos textos e da dramaturgia que Amélia constrói a dinâmica que acompanha o espontâneo. "Quando chego ao estúdio levo o meu trabalho de casa feito. Levo muitos textos, como é o caso do Alberto Pimenta. Eu gosto muito de coreografar textos. Reter o sumo, a mecânica e a disposição harmônica dos criadores. O Alberto Pimenta inspira-me imenso através da orgânica das suas palavras, a forma como se agrupam, fascina-me muito. Segue-se também a Clarisse Lispector, através de um lado mais cru, direto. Inspira-me muito, um dos seus livros ajudou-me muito que é o "Sopro da vida". E ainda recorri ao Sri Ram através do livro "Em busca da Sabedoria" que aborda muito a ideia de que somos todos um, com um objetivo. Eu baseei-me um pouco nestes criadorxs entre outros que consulto na hora. Imagens. E depois partilho com os bailarinos e vamos mutuando estas ideias levando-os a perceber que é algo delxs e que já não passa por ser meu", explica.

Reconhece que tem uma identidade e que, por essa razão, gosta que os bailarinos se apropriem da mesma, " eu não me prendo a isso. Há sempre um equilíbrio com xs bailarinxs para que eles cheguem ao palco e coloquem a energia certa, o ponto certo, através da sua interpretação que e muito delxs. É isto que eu gosto de passar: a gramática dos afetos", acrescenta.

A interpretar a coreografia de “VASTO” estão Rodrigo Teixeira e Lia Vohlgemuth.

A representação da geometria dos afetos é uma das realidades que VASTO reflete. É um exercício que a artista faz muitas vezes, a espontaneidade. "Este orgânico, esta honestidade, interessa-me imenso. Na verdade, o corpo não tem geometria, aliás, a geometria é dada por um lado matemático que depois eu coloco na composição para equilibrar este movimento da não forma, da energia. Eu trabalho-a e levo-a ao limite. Depois, para que o público leia essa energia, eu coloco-lhe uma ótima matemática, como por exemplo, vinte movimentos de braço, enquanto que o outro faz uma pausa de 5 tempos. Eu vou dando-lhe dinâmicas para que haja uma leitura. São estas disposições infinitas que completam a composição. É uma metáfora que se alimenta e é isso que eu gosto de trabalhar: na metáfora que me faça viajar com eles, permanentemente", sustenta.

É da metáfora que se fala, uma harmonia do espaço e dos corpos. É nesta visão que Amélia descreve a participação de Nuno Veiga como um "encontro muito feliz". "Eu não queria uma melodia nesta peça", mas sim uma composição que mesmo (des)concertada, encontra-se a harmonia entre si. É desta forma que os sons se encontram numa performance ao vivo.

A peça que conta também com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, cria lógicas, repetições que levam o movimento à exaustão num tempo específico e determinado, dando estrutura ao que é livre, solto, visceral sem que esse objeto perca a sua essência.

Questionada sobre a realidade da Dança Contemporânea em Portugal, a caminhada ainda é longa, mas o que se presencia e vive, hoje, é reflexo de uma evolução 'bonita' perante os criadorxs, intérpretxs e artistas. É Amélia com o diz, no entanto, reconhece que é necessário mais apoios para que os espetáculos possam ganhar forma e para que xs artistas sejam recompensados pelo seu trabalho, uma questão que se afirma cada vez mais.

Contando com a interpretação de Rodrigo Teixeira é bailarino e criador, licenciado pela Escola Superior de Dança e pela FOR - Dance Theatre da Companhia Olga Roriz e Lia Vohlgemuth é Bailarina licenciada pela Escola Superior de Dança de Lisboa, depois da estreia em Évora, no festival “FIDANC”, a 25 de Setembro e da apresentação na Biblioteca de Marvila, em Lisboa a 8 e 9 de outubro, VASTO” tem já apresentação agendada para o Centro Musibéria, em Serpa, a 4 de dezembro e faz, também, parte da seleção oficial do Festival de Dança de Almada para uma apresentação exclusiva a programadores que aconteceu a 2 de outubro de 2021, durante o Festival de Dança de Almada.

Texto de Patrícia Silva
Fotografia de David Breda Silva
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