A nossa opinião, imagem, mensagem, nunca teve tanta importância quanto agora. Muitos de nós estão no limite da paciência, do normal raciocínio, da calma com que se enfrentam os problemas.
Um confinamento forçado e imediato, algo nunca visto, sentido e vivido na nossa geração, obrigou-nos a mudar repentinamente de vida, como se fosse uma bomba que tivesse explodido num mundo global que de repente se viu forçado a fechar.
Ninguém está preparado para uma situação destas e a vida, se não mudou até agora, vai com certeza ser muito alterada nos próximos tempos, pois estamos longe de declarar vitória.
A nossa opinião, que geralmente é moldada por empresas, agências e os denominados influenciadores, sejam opinadores políticos ou youtubers, começa a mostrar uma evolução. Por um lado, os interesses populares e sociais mudaram radicalmente, por outro, os extremismos opinativos desgastam-nos e fazem-nos desistir daquilo que outrora pensamos acertado. E ainda, talvez mais importante, a própria opinião deixou de ter sentido em termos do próprio mercado quando somos confrontados com uma crise económica que se adivinha nefasta.
O que num repente também se percebe, como uma bomba, é que a nossa opinião passou a valer o mesmo que as profissionais que repetem temas estafados, assuntos esgotados. O mundo está mais atento e ávido por notícias sérias, por veículos sinceros, pela, enfim, verdade.
A nossa opinião passou agora a ser a influência para quem a ouve ou lê e que a irá repassá-la junto dos seus próprios canais. Esta mudança é, também ela, radical. Daí ser cada vez mais necessário prestar atenção a todas as publicações, à contra informação que é cada vez mais precisa, nefasta, popular.
O diz que disse, os boatos, as fakenews, tudo aquilo que nos atira para um precipício sem um varão de segurança que podemos e devemos agarrar. Assim, o passarmos a ser, também, influenciadores, pode ajudar-nos a ficar mais esclarecidos, a procurar os factos, a separar o trigo do joio.
É isto que nos vai também ajudar a passar as crises de angústia, por vezes a falta de esperança, muitas vezes o extremo cansaço, o burnout e, logicamente, o stress pós-traumático que vai tomar conta de uma grande parte da população mundial.
Há que estar ainda mais atento aos pequenos sinais que sugiram uma nossa alteração de humor, um pequeno deslize que não corresponde à usual forma de ser e estar, à falta de vontade de enfrentar um novo dia. E para combater tudo isto, há que encontrar algumas pequenas soluções.
Uma delas é bastante fácil e prática: combinem uma palavra de pânico com o/a vosso/a companheiro/a de vida, com o amigo mais frequente, com a vizinha com quem temos uma relação de companheirismo. Peçam que todos eles sejam francos quando perceberem uma altercação no nosso humor, uma descida sem travões, um momento de muita euforia ou, pelo contrário, um dia abafado pela extrema tristeza, desolação ou cansaço.
Por exemplo, uma frase como “estás a ficar sem travões” pode ser um trigger que nos acalma e relaxa, que nos devolve o mundo, o chão. São estas influências directas as mais importantes, as opiniões sinceras, a mais pura verdade e que, neste caso, são reforçadas pela confiança.
A nossa opinião é muito mais importante do que pensamos. Pode magoar alguém. Pode salvar uma vida. Pode ser destruidora como oferecer abrigo. E se a temos, se podemos contar com ela, porque não usá-la em benefício de quem precisa? Tal como também precisamos desse seu retorno ou espelho, não há que ter medo em oferecê-la, mesmo que, por vezes, sejamos duros. A franqueza é isto mesmo.
A nossa opinião deixa de ser moldada para moldar. Podemos escolher a forma e fórmula de como poder passá-la ao mundo. E a opinião não é apenas um vídeo no youtube ou uma frase cheia de sentido poético. São todos os passos que tomamos no dia a dia, no envolvimento que mantemos com a sociedade, o respeito pelo próximo.
Pouco interessa quem não acredita que a pandemia seja real. Existem muitas teorias que dividem pessoas e aquecem discussões. Podemos pensar o que quisermos, mas podemos demonstrar respeito pela opinião do próximo. E para mostrá-lo, por exemplo, basta usar uma máscara mesmo que não acreditemos na sua utilidade.
É que não é por nós mas sim por quem está connosco. Querem melhor influência que esta?
*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
-Sobre Ana Pinto Coelho-
É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora. Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.