Considero que, pelo título, é possível saber o conteúdo deste meu novo texto.
Um dos assuntos das últimas semanas foi a entrada de um novo pivot na SIC. É porque razão isto foi assunto? Entram e saem pivots de telejornais nacionais todos os dias.
Não deveria ter sido notícia, mas foi. Julgo que o facto de a SIC ter colocado um preto, de rastas, a apresentar o telejornal, tem de ser celebrado como uma vitória! Vitória contra a discriminação, contra o preconceito e todas as coisas negativas que se arrastam com isso. É o primeiro preto a apresentar um telejornal em Portugal? Certamente que não, mas é o primeiro a apresentar o telejornal de rastas. Recordo-me de que ainda há tão pouco tempo não se podia entrar de rastas em algumas discotecas africanas. Não conheço o jornalista em questão, nem a sua ideologia, nem se está ou não ligado ao movimento rastafari, ou se, como a maior parte dos casos, só usa rastas porque gosta do look.
Apesar desta grande aposta da SIC, gostaria de salientar a ousadia, a coragem e crença do Cláudio França, que firmemente acreditou que o seu trabalho e o seu profissionalismo falam mais alto do que qualquer outra coisa. Sinceramente, pelo que já vivi nesta vida, se alguma vez tivesse perto de apresentar o telejornal e tivesse rastas acho que pensava logo em cortar e possivelmente seria aconselhado pela família e amigos a fazê-lo, mas o Cláudio França veio mostrar-nos que isso são apenas medos do passado, que não têm espaço neste futuro que nos espera.
Hoje sabemos que, por este Portugal fora, há algum jovem de rastas ou tranças que sabe que amanhã pode ser um apresentador de telejornal, porque ele vivenciou este exemplo.
O Cláudio França na TV.
Vamos deixar em 2020 os cortes de rastas ou tranças para ir a uma entrevista de trabalho, o retirar os brincos, o tapar as tatuagens, afinal o que deveria contar seria o nosso profissionalismo não é?!
Outra coisa que notei, também, com tudo isto que aconteceu, foi o hate… e, para mim, a inveja extrema de algumas pessoas. Houve esta atitude de várias partes, mas, para mim, da comunidade negra, é o que mais me choca.
Tanto lutamos por esta igualdade e oportunidades, e quando realmente acontece, parece que para muitos são apenas jogadas do homem branco, das alegadas sociedades secretas e que o facto do Cláudio França ter passado anos a estudar não conta para nada.
É algo que me entristece e me faz perguntar, quando é que saberemos se, de
facto, algo está a mudar? Quando vamos começar a dar valor aos nossos manos e manas que, de facto, se esforçam e lutam para chegar lá e que, de facto, mudam alguma coisa?
Espero que tenhamos entrado num novo capítulo e as coisas, de facto, estejam a mudar, já aqui disse e volto a dizer só queremos igualdade de oportunidades.
-Sobre Nuno Varela-
Nuno Varela, 36 anos, casado, pai de 2 filhos, criou em 2006 a Hip Hop Sou Eu, que é uma das mais antigas e maiores plataformas de divulgação de Hip Hop em Portugal. Da Hip Hop Sou Eu, nasceram projetos como a Liga Knockout, uma das primeiras ligas de batalhas escritas da lusofonia, a We Deep agência de artistas e criação musical e a Associação GURU que está envolvida em vários projetos sociais no desenvolvimento de skills e competências em jovens de zonas carenciadas.Varela é um jovem empreendedor e autodidata, amante da tecnologia e sempre pronto para causas sociais. Destaca sempre 3 ou 4 projetos, mas está envolvido em mais de 10.