A estreia nacional do filme "Prazer, Camaradas!", de José Filipe Costa, está marcada para dia 20 de maio, em várias cidades portuguesas. A acompanhar as comemorações do 25 de abril de 1974, o filme foi apresentado em antestreia, de 21 a 24 de abril, em Santarém, Viseu, Faro e Évora.
O retrato de uma revolução sexual e de costumes, com homens e mulheres da época, estrangeiros e portugueses, que expõem um Portugal pós-revolução de abril, no trabalho das cooperativas das herdades do Ribatejo. Eduarda Rosa, João Azevedo e Mick Geer, viajam da Europa do Norte para trabalharem nas herdades ribatejanas e participam numa revolução sexual, abalando os costumes e certezas de quem viveu um regime ditatorial.
Com estreia mundial no festival de Locarno, "Prazer, Camaradas!" é um filme entre a ficção e o documentário, que aborda e satiriza os comportamentos e valores do passado, recuperando a temática da igualdade entre homens e mulheres. Como convivem homens e mulheres nas aldeias do Ribatejo? Porque é que as mulheres têm de ser virgens para se casar? Porque é que os homens têm o direito ao prazer sexual? No filme, em contraste, é demonstrada uma outra perspetiva de quem vivenciou a sexualidade, menos conservadora e mais centrada no papel das mulheres.
Segundo o realizador José Filipe Costa, "Prazer, Camaradas!" constitui uma espécie de "jogo lúdico: propôs-se a atores não profissionais que dramatizassem as memórias e uma revolução que não foi apenas política, mas também sexual e de costumes". O filme foi desenvolvido sob o improviso, no confronto entre as ideias e comportamentos estrangeiros e portugueses, no que toca aos atos de intimidade e vivência da sexualidade. "Há a ambição de mostrar que a revolução não estava só a acontecer no palco político-constitucional, mas também nas cabeças e corpos das pessoas", sublinha José Filipe Costa.
Um conjunto de relatos, orais, escritos, diários de época, de estrangeiros e portugueses ex-exilados, contribuiu para a elaboração do argumento. Estes trabalhadores agrícolas, que registavam aquilo que observavam dos portugueses com quem partilhavam o quotidiano, "assinalava as distâncias pudicas entre os corpos nos bailes tradicionais, o trágico destino dos solteirões atingidos pela guerra colonial, eram uma espécie de antropólogos improvisados", acrescenta o realizador.
Os atores, em vez de jovens com roupas de época, são um grupo de idosos de Manique, do Intendente e de Aveiras, convidados a dramatizar as próprias histórias. Alguns deles tinham participado nas ocupações e cooperativas. "A ideia era que dessem vida a estas histórias, improvisando-as, com a maior liberdade possível. O objetivo era criar relações de cumplicidade entre atores e equipa, para que dramatizassem a memória como algo vivido no presente, como se estivessem a dar corpo a um teatro da memória, no presente", refere José Filipe Costa.
No paralelismo entre os tempos representados em "Prazer, Camaradas!" e a atualidade, o realizador acrescenta que "se esperava que o movimento revolucionário desses tempos tivesse sido mais rápido a transformar as leis não escritas do corpo e dos comportamentos. Afinal, passado e presente estão de tal modo misturados que é urgente perguntar: efetivamente, o que mudou de lá para cá? Que liberdade foi esta que passou por aqui?". Como exemplos aponta a desigualdade salarial entre homens e mulheres e o número crescente de mulheres mortas e maltratadas pelos maridos em Portugal.
Para além da estreia nacional em Abril, "Prazer, Camaradas!" estreará comercialmente ao longo deste ano em países como Uruguai, Brasil, Islândia e Alemanha. "Prazer, Camaradas!" é a terceira longa-metragem de José Filipe Costa, após "Linha Vermelha" (2011) e "Entre Muros", corealizada com João Ribeiro (2003), entre outros. Todos os filmes do realizador português foram selecionados para presença em festivais nacionais e internacionais.
Texto de Ana Mendes
Fotografias da cortesia de Uma Pedra no Sapato
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