fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Leonel Moura

Blá blá blá

A Conferência Mundial sobre as mudanças climáticas, dita COP26, desagradou a toda a gente. Ambientalistas,…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

A Conferência Mundial sobre as mudanças climáticas, dita COP26, desagradou a toda a gente. Ambientalistas, governantes, cientistas, todos sem exceção, foram unânimes em considerar que o resultado foi um fracasso. Houve quem chorasse e quem, à falta de melhor, dissesse que para a próxima será melhor. Não será.

A sociedade humana desenvolveu-se e organizou-se num sentido que não lhe permite resolver um problema deste tipo. Dividida em tribos, regiões, países, etnias, cores da pele, línguas, culturas, interesses, egoísmos, ganâncias, não é capaz de se pensar e agir como um todo. A humanidade não se pensa como espécie.

Aquela conhecida frase do "todo superior à soma das partes", definitivamente não se aplica no nosso caso. Não só cada parte está em constante competição com as restantes, como mesmo dentro de si, a separação e o conflito são permanentes. Veja-se o campo da política. Critica-se os governantes por não aceitarem medidas mais restritivas e amigas do ambiente. Mas como o podem fazer sem causar enormes tumultos e, no fim do dia, perderem as eleições? Daí que nestas COPs a componente ambientalista exija o máximo e a política conceda o mínimo.

Caminhamos, assim, para o desastre. Aliás, inevitável quaisquer que sejam as medidas adoptadas. Já vamos tarde. O planeta não é digital, não tem um botão on/off. Os efeitos climáticos são emergentes, vão evoluindo de forma não-linear e dificilmente são reversíveis. Conter o aumento da temperatura do planeta em grau e meio reduzindo o consumo dos combustíveis fósseis é bom para a mobilização, mas é ilusório. Para se regressar aos níveis do passado, não bastaria baixar o aquecimento, seria preciso, caso fosse praticável, refrescar.

Assim, os anos irão passando e a crise climática aumentando. Até ao momento em que realmente se tenha de fazer alguma coisa minimamente eficaz, se é que ainda há alguma coisa a fazer.

A experiência da pandemia dá-nos pistas sobre o que se desenha no futuro. Na realidade, todos os governos do mundo, dos mais democráticos aos ditatoriais, entraram no modo tirânico. Por toda a parte foram instaurados regimes de exceção, obrigando os cidadãos a ficarem fechados em casa, foram encerradas atividades económicas, sociais e culturais, foram impostas imensas proibições. Claro que tudo foi feito tendo em vista o bem comum, mas não deixa de ser uma forma de tirania. Única maneira como hoje parece ser possível conseguir-se alguma coisa. Mesmo assim, assinale-se a quantidade impressionante de pessoas que protestam e aderem a movimentos anti vacinas, por exemplo. Não é muito inteligente, convenhamos, mas estes protestos têm alguma razão.

A sociedade humana não consegue atingir nenhum objetivo comum sem abrir enormes fraturas. A diferença de opinião, a liberdade de expressão, a democracia, são elementos fundamentais da civilização, tal como a conhecemos e, muitos de nós, defendem. Mas dificultam a ação coletiva quando ela é mais precisa.

É, por isso, que antevejo o crescimento das soluções ditatoriais. Quando o ambiente se tornar insuportável, quando o ar ficar irrespirável, quando países inteiros forem inundados dando lugar a migrações nunca vistas, os ditadores vão emergir por toda a parte. Restando saber se conseguirão resolver o problema climático. Duvido.

Para terminar com uma nota positiva. Só a ciência nos pode salvar. Do mesmo modo que o fez com a Covid e outras maleitas, só a ciência poderá resolver o tremendo problema das alterações climáticas. Mais do que injetar dinheiro nos governos e nas empresas, que não servirá para muito, estes COP’s deviam criar um enorme fundo de investimento em ciência. O futuro assim o exige.

-Sobre Leonel Moura-

Leonel Moura é pioneiro na aplicação da Robótica e da Inteligência Artificial à arte. Desde o princípio do século criou vários robôs pintores. As primeiras pinturas realizadas em 2002 com um braço robótico foram capa da revista do MIT dedicada à Vida Artificial. RAP, Robotic Action Painter, foi criado em 2006 para o Museu de História Natural de Nova Iorque onde se encontra na exposição permanente. Outras obras incluem instalações interativas, pinturas e esculturas de “enxame”, a peça RUR de Karel Capek, estreada em São Paulo em 2010, esculturas em impressão 3D e Realidade Aumentada. É autor de vários textos e livros de reflexão, artística e filosófica, sobre a relação Arte e Ciência e as implicações, culturais e sociais, da Inteligência Artificial. Recentemente, esteve presente nas exposições “Artistes & Robots”, Astana, Cazaquistão, 2017, no Grand Palais, Paris, 2018, na exposição “Cérebro” na Gulbenkian, 2019 e no Museu UCCA de Pequim, 2020. Em 2009 foi nomeado Embaixador Europeu da Criatividade e Inovação pela Comissão Europeia.

Texto de Leonel Moura
Fotografia Bebot

A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

4 Junho 2025

Já não basta cantar o Grândola

28 Maio 2025

Às Indiferentes

21 Maio 2025

A saúde mental sob o peso da ordem neoliberal

14 Maio 2025

O grande fantasma do género

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

23 Abril 2025

É por isto que dançamos

16 Abril 2025

Quem define o que é terrorismo?

9 Abril 2025

Defesa, Europa e Autonomia

2 Abril 2025

As coisas que temos de voltar a fazer

19 Março 2025

A preguiça de sermos “todos iguais”

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0