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SillySeason: Coabitar o hotel onde o paraíso e o real andam de mãos dadas

Tendo como pano de fundo a Escola das Mulheres, em Lisboa, o Hotel Paraíso parte…

Texto de Patricia Silva

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Tendo como pano de fundo a Escola das Mulheres, em Lisboa, o Hotel Paraíso parte da ilha da Madeira para a sua "outra casa". Depois de passar pelo Teatro Estúdio Ildefonso Valério, em Alverca, é entre os dias 16 a 19 de dezembro que o encanto parte para um lugar distópico onde se permite refletir o caos.

A mais recente criação da companhia formada por Cátia Tomé, Ivo Saraiva e Silva, e Ricardo Teixeira, estreou no Funchal e rapidamente se fez chegar às bocas e falas do público. Foi numa "redoma protegida do mundo exterior" que o cenário ganhou forma. É neste combate à opressão, manipulação ou ao capitalismo que as ficções ganham diferentes destinos fazendo-se ouvir ao longo de sete personagens fechadas num hotel no meio do nada.

Assinalou-se uma "estreia muito especial" no Teatro Municipal Baltazar Dias. Quem o diz é Ivo Saraiva e Silva que, dos ares amarantinos partiu cedo para Lisboa, local onde os SillySeason ganharam forma. Foi a partir das diversas linguagens que a peça reúne que o público se mostrou "muito caloroso, porque o Hotel Paraíso. Como é uma peça com vários estilos dentro de um muito próprio - que estamos a tentar construir - é um espetáculo que agrada a diferentes tipos de público e até diferentes faixas etárias", partilha Ivo.

Foi neste "dar e receber" que as leituras do espetáculo se transformavam numa bagagem bem maior do que aquela que levaram em viagem. É então que o conceito de comunidades surge em plateia. É neste "nada" que se vivência "tudo". E é "neste tudo" que o tempo passa sem que se saiba de onde vêem ou para onde vão.

fotografia de Alípio Padilha

As personagens que se fazem acompanhar de um micro universo, que é essencial para que um macro se construa, "repetem pequenas ficções que são a maneira mais à mão de enganar a bolha em que vivem, o total desfasamento da realidade e o medo de sair." É depois de citar esta referência que o ator que completa a equipa de três que deram vida a este hotel explica que a identidade é algo que toca especialmente neste espetáculo."Este tema de identidade é um tema que nós temos vindo a trabalhar há algum tempo noutros espetáculos e tentamos sempre trazer algo de novo ou trazer uma perspetiva mais ampla, do que aquela que trouxemos no espetáculo anterior", começa por explicar.

É na procura de um caminho, ou de vários, que a companhia pretende indagar "o que é isto da identidade, do que é que nós somos feitos? O que é que nós somos enquanto nós próprios, pessoa, país, Europa, o mundo."

Partindo da ideia de um ser terrestre, onde o planeta Terra se sente a espreitar por entre cortinas que, agora, levantam-se em véu, é também com o objetivo de refletir as minorias no seu discurso que este Hotel se (de)forma. A isto conecta-se ainda a (r)evolução de uma companhia que nasceu em meados de 2012, um ano de crise que se avizinhava desde 2008, onde a "emigração" era a palavra de honra, "foi um ato de resiliência o nosso. Nós construímos uma companhia sem fundos.

Escrito e dirigido por seis mãos - as de Cátia Tomé, Ivo Saraiva e Silva e Ricardo Teixeira - o espetáculo que conta com interpretação dos próprios e de Ana Moreira, Paula Erra, Rafael Carvalho e Vítor Silva Costa reflete de forma diversa as alterações climáticas, a ascensão de regimes totalitaristas, a ideia de uma Europa em ruínas ou ainda a relação homem-máquina, temas transversais aos habitantes que vivem presos neste Hotel e que se encontram, também eles, em decadência. É também neste conjunto de visões que pensar o espaço se mostra implícito. De que se trata o público e o privado?

fotografia de Alípio Padilha

A esta questão Ivo responde que o contexto dicotómico público-privado veio aliado à identidade: "nós queríamos que houvesse sete pessoas, isto é, sete atores, que se encontravam num lugar comum. Esta foi a primeira premissa do projeto, ainda que não tenha acontecido. Ainda assim, esta questão tem também que ver com o querermos um espaço, um não lugar, ou seja, um lugar de passagem como é o aeroporto, o autocarro, até um outro carro que se torne, ou não, um lugar muito especial." - afirma.

É assim que o Hotel Paraíso mostra ser um lugar em andamento que se deixa servir, na sua intimidade, uma "espécie de casa pública". Quantas vezes alguém tomou banho naquela banheira? Quantas vezes usaram aquelas toalhas? Questões que só Hotel Paraíso pode vir a responder.

É neste "lugar especial" que também se fala sobre família. Num universo onde se envolvem não só questões que o repensam, enquanto seio de comunidade(s), como lhe atribui uma ideia de família enquanto local que recebe, atua e ama, "mas que depois impõe uma série de regras que supostamente são para tu seres feliz, mas onde o sentes. Neste Paraíso, que é uma família que existe dentro deste hotel a partir de pessoas não têm nada que ver umas com as outras, mas que depois percebemos que são muito íntimas." É com este ato de desmistificar que o Paraíso, o Hotel e todos estes atores em palco se difundem, se cruzam e habitam.

Depois de passar pela Escola de Mulheres, o original dos SillySeason iniciará o ano no Teatro das Figuras, em Faro, a 12 de março de 2022. Uma viagem onde as expetativas se fazem ouvir, assim como todas as outras.

Texto de Patrícia Silva
Fotografia de Alípio Padilha
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