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“Urgência Climática”, ou um olhar humanizado sobre o ativismo. Estreia hoje no São Luiz

Com interpretação e cocriação dos ativistas ambientais, Andreia Galvão, João Oliveira, Matilde Graça, Yolanda Santos e Vicente Silvestre, o espetáculo da Hotel Europa, está em cena até 27 de outubro, no Teatro São Luiz, em Lisboa.

Texto de Flavia Brito

Fotografia de João Mariano

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“Para mim, a crise climática é o fim da festa”, diz um dos cinco ativistas que, em palco, partilham experiências, motivações, desafios, histórias pessoais, medos e frustrações. A produção Urgência Climática permite-nos entrar no mundo do ativismo, perceber o que move quem se dedica a esta causa, mas também o que acontece "para além da ação mais mediática que vemos nos jornais, ou nas televisões”, explica André Amálio, que, juntamente com Tereza Havlíčková, assinam a criação deste espetáculo.

“Aquilo que nos interessava muito nesta questão climática era o ponto de vista dos ativistas, o ponto de vista das pessoas que deixam a vida mais confortável, a sua vida mais cotidiana, para se colocarem em situações de risco, para interromperem as estradas, para irem para a frente de fábricas, para a frente de entidades poluidoras, para fazerem protestos com políticos”, partilha o cocriador, sobre este trabalho, que está em cena de 22 a 27 de outubro, às 20h, na sala Sala Luis Miguel Cintra, do Teatro São Luiz, em Lisboa.

Ao longo de um ano e meio, os também diretores e fundadores da companhia de teatro documental Hotel Europa entrevistaram especialistas ambientais e ativistas um pouco por todo o país. “Estávamos interessados em perceber quais eram os problemas que cada local tinha, mas também quais eram os problemas mais gerais, mais globais que podíamos desenvolver neste espetáculo.”

Depois desse processo, conta André Amálio, decidiram não ter apenas intérpretes em palco, mas sim ativistas reais. “Começámos a construir o espetáculo a partir das experiências deles, a partir de como se tinham tornado ativistas, porquê, qual tinha sido o percurso que eles tinham feito no ativismo até hoje, que momentos de dúvida tinham tido, que momentos de fraqueza, de esgotamento."

Com Andreia Galvão (atriz), João Oliveira (bailarino), Matilde Graça (atriz), Yolanda Santos (atriz) e Vicente Silvestre (músico) reúnem-se em palco também as várias organizações das quais faziam e ainda fazem parte, como a Greve Climática Estudantil, Climáximo, Red Rebels, Extinction Rebellion, Unidos em Defesa de Covas do Barroso, AMALM, Planet Save e FALA. Através das vozes destes cinco ativistas, são também partilhadas as histórias de vários outros que foram entrevistados pelos criadores, durante o processo de investigação.

“[O poder] Não está na mão de pessoas acima de nós, não está na mão dos governos. Isto está nas nossas mãos. Gostávamos que os espectadores saíssem daqui com essa noção, de que esse poder é um poder nosso e somos nós que o temos que conquistar”, defende André Amálio. “Os problemas do clima não são culpa dos ativistas climáticos. E, às vezes, temos a tentação de colocar os problemas que estão a acontecer nos ativistas que estão a tentar lutar contra eles.”

Yolanda Santos relembra que há muitos países onde os ativistas são considerados terroristas, como os Estados Unidos da América. “Quando as pessoas que estão a tentar solucionar, ou chamar a atenção para o problema, são as pessoas que estão a ser metidas dentro da prisão, a mim, parece-me que é uma questão muito mais profunda do que "como é que se está a fazer [ativismo]?" É [mais] "o que está por trás?” e “de que forma estamos a tentar silenciar um tipo de opção sistémica que está a acontecer?", afirma. "Porque a crise ambiental é uma crise humanitária também. Isto faz parte de uma opção sistémica. Então, em vez de olharmos para a ação em si, temos que perguntar o porquê da ação estar a acontecer."

Por sua vez, Andreia Galvão, também atriz e ativista, considera importante haver espaços não mediados de comunicação entre o público e os ativistas. “É importante haver veículos em que os ativistas podem falar na primeira pessoa, tanto na comunicação social, onde raramente acontece, como noutros espaços. Porque também há uma disputa do que é sensível. Não é só retórica, não é só discurso, mas do que as pessoas sentem, da consciência que têm sobre o mundo”, considera. “Pintar os ativistas como terroristas é uma forma de [fazer com] que não sejam ouvidos. Ou [fazer com] que todas as notícias sobre eles tenham uma certa narrativa é uma forma de desqualificarmos qualquer tipo de opinião, qualquer tipo de dissidência. E, democraticamente, [isto] é perigoso.”

Para Yolanda Santos, este espetáculo permite ainda humanizar o papel dos ativistas. “É uma oportunidade de mostrarmos às pessoas que somos pessoas normais, e que essas pessoas que se levantam de manhã e que ocupam o seu tempo livre [com ativismo] - às vezes, até enfrentam problemas no trabalho, porque enfrentam despedimentos, penas de prisão e multas, quando não têm dinheiro, etc., todas as consequências de fazer uma ação numa sociedade que vê isso como um problema - são pessoas que podiam ser qualquer uma das pessoas que estão ali sentadas [na plateia].”

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