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Entrevista a Jesse James e Sofia Carolina: “O Walk&Talk é um lugar de interesse e curiosidade que não era há 9 anos”

A caminho da 9.ª edição do Walk&Talk, Jesse James e Sofia Carolina voaram dos Açores…

Texto de Carolina Franco

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A caminho da 9.ª edição do Walk&Talk, Jesse James e Sofia Carolina voaram dos Açores para Lisboa a propósito da ARCOlisboa, a meio do mês de maio. Numa esplanada dentro da Cordoaria Nacional, o local destinado ao evento, encontraram-se com o Gerador para uma conversa sobre o percurso do festival e o que está para vir.

Com um olhar sempre cúmplice, Jesse e Sofia falaram de um projeto guiado pelos dois, mas construído por muitas mãos, que tem demarcado um território artístico experimental e de partilha. Com os Açores como pano de fundo, oferecem aos artistas um contexto fora do comum para criar ou expor; em troca a comunidade recebe experiências desafiantes naquele que pode ser o seu primeiro ou esporádico contacto com a arte contemporânea.

“Agora temos uma distância que nos permite olhar para trás e perceber como é que o projeto se foi alterando. Isso foi acontecendo de uma forma muito orgânica, uma vez que fomos envelhecendo e aprendendo à medida que o festival ia acontecendo”, começa por dizer Jesse. Sofia concorda e acrescenta que essa distância também lhes permite ver como “nos últimos 10 anos, a nível cultural e artístico, houve um boom a nível das estruturas que surgiram, oficiais e independentes, nos Açores” e “a própria relação do público com esses espaços” mudou.

Ao Walk&Talk juntou-se, em 2014, o Tremor e os Açores começaram a ser vistos como uma alternativa a um circuito já consolidado no continente. Além de comunicarem entre si e alimentarem uma amizade entre festivais, foram estimulando lado a lado os açorianos a olhar para universos mais arriscados, e os continentais a sair da zona de conforto, rumando à ilha para novos encontros e experiências.

Ainda que continuem a notar alguma resistência por parte de determinados públicos — seja pela distância com o universo da arte contemporânea ou pelo medo do desconhecido — acreditam que a comunidade local está cada vez mais aberta às propostas que apresentam e começa a olhar para o festival com um nível de proximidade maior. Na edição de 2017, com a criação do Pavilhão e o ocupar do espaço público derrubaram-se paredes e renovaram-se convites.

“O pavilhão surgiu como um convite renovado às pessoas para regressarem ao festival. Isso refletiu-se nos restantes programas, como o circuito de exposições e não só. No ano passado, sentimos que as pessoas voltaram a ligar-se e a interessar-se, mas é um trabalho contínuo e vamos estar sempre a conseguir coisas e a falhar noutras. É nesse equilíbrio e nessa gestão que vamos caminhando e avançando” — confessa Jesse James —, “mas pelo menos sinto que o Walk&Talk é um lugar de interesse e curiosidade que não era há 9 anos”, sublinha.

É precisamente nas falhas que Jesse e Sofia sentem que vão buscar o que precisam para melhorar (ou renascer, quando é necessário). A dois meses da sétima edição do festival ficaram sem um dos seus grandes polos, a galeria. Jesse e Sofia recordam como “tudo o que tinha para correr mal, correu naquele ano (2017)”, o que acabou por se refletir numa sobrecarga na gestão e realização do Walk&Talk. Ainda assim, acreditam que foi este “renascer de fénix” que fez com que a equipa se unisse ainda mais, e 2018 resultasse numa das edições que recordam como tendo sido uma das melhores.

Jesse e Sofia comparam o ano de 2018 a uma "fénix renascida", após um 2017 conturbado

“Foi muito bonito porque a ligação com o público renasceu mesmo. Aquele Pavilhão desenhado pelos Mezzo era uma casa sem paredes. O que é que tu fazes numa casa sem paredes? Entras porque te sentes convidado a entrar, não tens de bater à porta. E aí vê-se a afluência de gente àquele espaço e consequentemente ao festival, com uma atenção renovada ao projeto”, explica Sofia. Jesse acrescenta que 2018 foi também um ano importante para “combater estigmas” que o Walk&Talk “enquanto festival também tem de combater”.

A atenção dada à comunidade — ou “comunidades” como Sofia lhes prefere chamar — acaba por se refletir na atenção que pretendem dar à arte e aos artistas. Do Circuito da Arte ao Circuito de Exposições, sentem que “o tempo que se dedica a cada artista e a cada projeto é essencial, até para o envolvimento do público”, como explica Sofia. Para que se consigam dedicar a cada percurso e momento do festival, vão convidando curadores (como é o caso do coletivo Decorators e de Sérgio Fazenda este ano) que mergulham a fundo no universo dos artistas de cada circuito.

Para Sofia, a razão desses convites é fácil de explicar: “É importante para nós a nível das referências que nos trazem, porque convidar pessoas que estão fora do teu circuito inevitavelmente vai trazer-te novas referências e ideias, o que para nós é muito importante — trabalhar com outras cabeças que nos trazem projetos aos quais sozinhos não chegaríamos.” Jesse acrescenta que “é sobretudo importante” não se fecharem “numa forma de fazer” e que é precisamente isso que combatem ao juntar-se a outras pessoas.

Ambos sentem que, acima de tudo, o Walk&Talk pode e quer ser um “lugar de experimentação e risco, ou até de falha”. “A falha é algo que o sistema da arte muitas vezes nega, porque é tão competitivo e obcecado pelo sucesso que não permite que haja espaço para tal. E esses lugares de falha, de experimentação, são fundamentais a todos os artistas, e tem que haver estruturas ou espaços para essas dúvidas. Principalmente para que a falha aconteça, e ninguém te caia em cima”, explica Jesse no contexto das Residências Artísticas que todos os anos o festival desenvolve.

“É interessante ver o feedback dos artistas, que dizem que costumam trabalhar em desenho, por exemplo, mas estão com muita vontade de trabalhar em escultura. E é esta lógica de criar um lugar de risco que nós queremos assumir, como dizia o Jesse”, diz Sofia. “Outra coisa importante é o tempo, e entendemos ao longo dos anos que é importante estender esse período de residência. O artista vem duas vezes num ano e, normalmente, apresenta o projeto no ano a seguir. Isto dá tempo para maturar as ideias, para trabalhar sobre o projeto com calma e depois, sim, apresentar alguma coisa com que estejas satisfeito e que resulte”, acrescenta.

Se noutras alturas os Açores eram escolhidos como “refúgio ideal para artistas se isolarem e dedicarem à sua obra”, como relembra Sofia, atualmente podem continuar a sê-lo com o apoio do festival. O espaço envolvente e o tempo que têm para criar, com dias que se afastam do caos e da azáfama das grandes cidades, onde tudo parece infinito, potencia aos artistas, segundo Jesse, “uma experiência que também dá espaço à reflexão”, afirma Jesse.

Jesse James e Sofia Carolina sublinham como edição após edição se sente “uma ilha expandida e um encontro de mundos”. “Esse encontro de mundos resulta em novos mundos, novas formas de fazer”, refletem. “Achamos que o Walk&Talk resulta desse equilíbrio entre criar esse lugar de reflexão, de calma, e de encontro, mas ao mesmo tempo também ser um lugar de confronto”, conclui Jesse com a aprovação de Sofia através de um olhar cúmplice.

O Pavilhão é o grande ponto de encontro no Walk&Talk ©Filipa Couto

O Walk&Talk 2019 volta a despertar a arte contemporânea em São Miguel entre 5 e 20 de julho. Até lá vamos falar-te mais deste projeto e das diferentes ramificações que o compõem. Já podes ler mais sobre o Circuito de Arte deste ano, aqui.

Texto de Carolina Franco
Fotografia de @Sara Pinheiro
O Walk&Talk e o Gerador são parceiros

Se queres ler mais entrevistas sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

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