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Entrevista a Savant Fair: “Resume-se tudo à tua sensibilidade e vontade de te exprimires”

Podemos encontrá-lo na Rádio Quântica a falar com artistas e a passar música, ou ainda…

Texto de Gerador

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Podemos encontrá-lo na Rádio Quântica a falar com artistas e a passar música, ou ainda na cabine a meter toda a gente a dançar com os seus discos. António Ideias Moura é Savant Fair, um disc-jockey e produtor musical que tem vindo a ganhar nome na cena eletrónica underground, seja a passar discos no Lux Frágil ou ainda a dar música no seu programa radiofónico Panóplia.

O Gerador quis saber mais sobre António e quem é Savant Fair, e o próprio deu-nos o prazer de descobrir.

"Prospero" do produtor Savant Fair pela Extended Records

Gerador (G.) – Conta-nos de onde vens, onde estás e para onde vais.

Savant Fair (S. F.) – Sou o António Ideias Moura na rádio e na minha vida normal, mas na cabine e noutros mundos, sou o Savant Fair. Sou de Setúbal, vivo em Lisboa, mas neste momento estou a viver na Terceira, nos Açores. E honestamente, vou para onde quiser e onde as coisas surgirem. É a coisa boa de não ter raízes, acho eu.

G. – Como é que surgiu a música no teu percurso e a partir de quando é que decidiste focar-te inteiramente nela?

S. F. – A música surge desde muito cedo, a ouvir rádio com os meus pais em casa e pelos CD da coleção deles. O meu pai também foi disc-jockey e divertia-se a pôr uns discos na discoteca da vila onde cresceu, e acho que foi o seu entusiasmo pela música e a sua partilha: tanto ouvia Luz Casal ou Paulo Gonzo como as compilações de chill out que punham nas festas, que fez com que, hoje em dia, não olhe muito a géneros musicais no que toca a ouvir música. Se é bom e te diz algo, então continua a ouvir.

G. – Como surgiu o Savant Fair?

S. F. – Surge numa altura em que eu já tinha outro projeto que, entretanto, desapareceu, em que tinha o nome de Rhocis e andava numa grande fome de explorar tudo, porque tinha acabado de sair do curso de Produção de Música Eletrónica na ETIC e queria era fazer música. Na altura, assisti ao início da cena lo-fi house, vidrava-me muito nas cenas que a Lobster Theremin punha cá fora e em produtores e DJ que publicavam e lançavam as próprias cenas. Foi assim que surgiu Savant Fair, numa tarde em que este nome simplesmente caiu na minha cabeça, e gostei como soou. Batia certo com o que eu queria fazer e transmitir. É engraçado porque o termo “savant”, na medicina, é um nome de uma condição médica chamada “idiota-prodígio”. Não sendo nenhum prodígio, e tendo tido algumas boas ideias, acho que sou um idiota-prodígio justo: um savant fair.

G. – Quais foram os grandes obstáculos que mais sentiste orgulho em atingir na música?

S. F. – Não diria obstáculos, porque acho que, pela minha condição de homem branco e cisgénero, os obstáculos são suavizados ou menores. É por isso que adoro a Rádio Quântica e a sua missão de, numa vertente cultural e cada vez mais política, dar voz a quem quer gritar e mostrar que também existem mais produtores, DJ e agitadores culturais para além do mesmo círculo de homens brancos cisgéneros, onde em que muitas vezes a indústria e o circuito ficam presos. Assim sendo, acho que posso falar em objetivos que me deixaram muito feliz, como o caso de ter tocado já no MusicBox e no Bar do Lux Frágil, ou ter a Violet e o Photonz, que é uma grande inspiração, a tocarem uma malha minha em festivais na Europa, ou ter contribuído para a compilação Rave Tuga da Paraíso, editora do Schcuro, em que os lucros foram todos para a Casa Qui. Acho que essas são as coisas que me mais me orgulharam, sem dúvida.

G. – A produção musical é intuitiva ou é algo que se aprende?

S. F. – Honestamente, um pouco dos dois. Ainda há uns tempos, discutia a democratização da produção musical e a diferença de oportunidades que um sítio ou outro podem proporcionar. Podes ter estudado produção nas melhores escolas ou ter tido os melhores tutores, que se não tiveres a mínima noção musical, seja rítmica, melódica ou o que seja, se calhar, as coisas não vão sair assim tão bem. Por outro lado, tens muitos e bons exemplos de quem perdeu horas a autoensinar-se produção musical porque tinha um som na cabeça que queria atingir ou uma ideia que queria passar, e não descansou até fazer aquilo soar como queria. No fundo, resume-se tudo à tua sensibilidade e vontade de te exprimires. Se dominas as máquinas ou a DAW, já é outra história.

Programa Panóplia de 3 de julho, de Savant Fair na Rádio Quântica

G. – Fala-nos dos teus projetos paralelos à produção? Conta-nos tudo acerca da tua presença na rádio e outros caminhos.

S. F. – Ainda estou na faculdade a acabar a licenciatura em Tecnologias da Música, que me tem dado todo um novo insight sobre o que quero fazer no futuro quer como produtor, quer como profissional da indústria. Como já disse também, tenho um programa de rádio em nome próprio na Rádio Quântica, chamado Panóplia, em que tento dar a conhecer música de artistas que gosto e admiro, juntamente com conversas com outros. Já recebi músicos e responsáveis de editoras como os meus amigos em que falámos duas horas, quase sem música. Acho que me vejo muito a trabalhar em rádio e a lidar com música 24 sobre 7, seja de que forma for, mas sempre a produzir e a tocar, se possível e me quiserem ouvir.

G. – Vês a música em Portugal como uma indústria ou como uma cultura?

S. F. – Como em praticamente tudo na vida, existem os dois lados da moeda. Sabes que tens as major labels em Portugal a representarem artistas que cabem num molde mais comercial, alguns são quase staple americano, na medida em que parece que estão prontos para se exportarem para outros mercados. Nesse lado, vejo a indústria, e respeito-a, porque é um monstro que já nasceu antes de mim e apenas quero que respeite quem está dentro dela. Agora, no circuito underground, vejo piamente as coisas como um veículo cultural de transmissão de ideias e expressão artística. Há umas semanas, quando fui à Antena 3 com o Shcuro e com a Emauz falar com o Rui Estêvão sobre a Rave Tuga, falámos disso: nós conhecemo-nos quase todos, partilhamos músicas, promos, demos, tudo. E, acima de tudo, queremos o bem e o sucesso de todos, de uma forma ou de outra. É essa comunhão que tem levado as coisas a novas fronteiras e latitudes, aliada a uma motivação muito forte de querer ser diferente. Vinte anos depois do “Touch Me” do Rui da Silva, acho que estamos claramente em altas outra vez.

G. – Como gostarias de marcar a música eletrónica portuguesa?

S. F. – Não penso muito nisso, mas, a pensar, seria da mesma forma com que hoje ainda me marcam certos artistas: quinze anos passados desta entrevista, e alguém descobrir um disco meu a um euro numa loja de discos, com outro nome e alguém me dizer que isso foi um projeto paralelo de uns dos pioneiros da música eletrónica em Portugal, que foi o que me aconteceu com um disco que comprei da Kaos, de um artista chamado Meco, que era nada mais, nada menos que outro nome do DJ Vibe. Se tivesse de marcar, acho que gostaria de ser assim.

Texto de Rita Matias dos Santos
Fotografia de ©Savant Fair

Se queres ler mais entrevistas sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

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