As instituições de ensino não devem ser apenas lugares dedicados à aprendizagem formal, mas espaços onde os jovens aprendem a refletir, a criticar e a produzir conhecimento científico, segundo o Conselheiro de Estado. “A escola é o lugar onde os alunos vão trabalhar, a escola não pode ser apenas uma sucessão de aulas. Esse é o [principal pilar desse] grande movimento de transformação”, defende um processo de modernização das escolas que deve ser alicerçado no desenvolvimento de competências ao nível do pensamento crítico.
“Em novembro do ano passado peguei no meu carro e dei uma volta a algumas escolas públicas de Portugal escolhidas um pouco ao acaso, sem nenhum critério”, recorda as visitas a 44 escolas do país, onde testemunhou uma diversidade de estratégias pedagógicas e métodos de ensino. Da visita, Sampaio da Nóvoa destaca o facto de ser necessário mobilizar a comunidade escolar, os professores e as autoridades locais para a adoção de modelos de ensino mais estimulantes, nomeadamente nas escolas públicas do interior do país.
“O Ministro da Educação não é alguém que propõe uma reforma, que propõe um novo programa, que propõe um novo currículo. Esqueçam, esse tempo já acabou”, reconhece que o perfil de um Ministro da Educação assenta na capacidade de valorizar o atual sistema de ensino. O antigo candidato presidencial reforça a importância da relação entre professores e alunos, que não deve ser substituída pelas novas tecnologias de inteligência artificial: “Os discursos da inovação, os discursos futuristas, os devaneios ‘a escola não é necessária, os professores não são necessários, vamos acabar com a escola, passa tudo para o digital’ são o pior que nos poderia acontecer. Este movimento de inovação seria trágico para a humanidade”.
O antigo reitor da Universidade de Lisboa admite preocupação com a classe docente, envelhecida e à margem dos apoios para a literacia digital: “A recuperação do tempo de serviço é a ponta do iceberg. O que está a acontecer com a profissão docente é muito mais fundo: tem a ver com o envelhecimento do corpo docente e com a relação difícil com as questões da cultura digital”. António Sampaio da Nóvoa aponta ainda o dedo à classe política pela incoerência entre as políticas educativas e as verdadeiras necessidades dos professores que trouxe “consequências muito negativas ao nível da credibilidade, da confiança e do prestígio da escola pública”.
Já sobre a recuperação do tempo de serviço dos professores, Sampaio da Nóvoa admite estar expectante pelas negociações com o novo Governo: “Acho que as coisas têm condições para melhorar, mas é preciso ter muita coragem. É preciso construir um contrato de futuro com os professores”. E remata, referindo a necessidade de mudar estruturalmente as condições de trabalho dos docentes: “É preciso mudar a formação de professores, é preciso mudar o recrutamento dos professores, é preciso mudar o apoio aos professores do ponto de vista das pedagogias, dos métodos, dos currículos”.
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