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Um salto de fé. Tudo começou com um salto atado a uma ideia que podia, ou não, funcionar na vila de Óbidos. Corria o ano de 2011, e a Igreja de Santiago estava abandonada e em ruínas. Para além de igreja, ao longo de 30 anos, foi centro de exposições, auditório e centro cultural. Mas estava na hora de lhe dar uma outra missão. Mas qual? Alguém propôs: «Porque não uma livraria?» E assim começou a aventura literária de Óbidos.
Dez anos depois, Óbidos é agora uma meca da literatura que acolhe festivais como o FOLIO, conhecido internacionalmente, e o Latitudes, festival mais pequeno dedicado à literatura de viagem. A igreja em ruínas é hoje a Livraria Santiago, espaço aproveitado pela livraria Ler Devagar, através de José Pinho: «Abrimos a livraria em 2013 e apercebemo-nos do sucesso que este tipo de projetos estava a ter», recorda Paula Ganhão, chefe de Subdivisão de Turismo e Cultura da Câmara Municipal de Óbidos, que apesar de reconhecer o sucesso de eventos como a Vila Chocolate ou a Vila Natal, «que são muito importantes para a economia local, no entanto não são livres de crítica, especialmente porque são considerados eventos de massas», logo não são sustentáveis.
E daí para a frente, outros espaços abriram portas à literatura, a milhares e milhares de páginas. «O José Pinho disse “Eu não quero fazer uma livraria. Eu quero fazer uma cidade, uma vila literária”» e avançou «transformando os espaços que estavam devolutos em livrarias», relembra Celeste Afonso, responsável pela candidatura de Óbidos a Cidade Criativa da UNESCO. Desde então que a relação entre a Ler Devagar e a Vila Literária de Óbidos se mantém e recomenda-se.
O negócio tornou-se sustentável financeiramente porque foi, também, abençoado pelos turistas e pelo mercado internacional: «Isto é realmente um passo de loucura misturado com… Eu nem sei bem como é que isto funcionou», lança uma gargalhada Paula Ganhão. Óbidos tem agora uma rede literária composta por sete livrarias, o The Literary Man Óbdios Hotel, alojamento temático, e ainda duas residências literárias para escritores. Entre e fora de muralhas, «nós tentamos criar um ambiente literário em que a pessoa entre na vila e sinta a presença do livro não só nas livrarias, digamos, mas em cada recanto e sinta esse ambiente», diz Paula Ganhão. E para tornar esta atmosfera ainda mais cativante, Óbidos decidiu concorrer à Rede de UCCN, em 2015, quando a primeira edição do FOLIO nasceu na vila.
Celeste Afonso, à época vereadora da Cultura e da Educação, Cláudio Rodrigues e Paula Ganhão escreveram a proposta. No país não se falava sobre esta rede, e os três decidiram arriscar. «Eu recordo-me do dia 11 de dezembro [de 2015] de recebermos a designação e foi dos dias mais felizes da minha vida», relembra Celeste Afonso «porque tive a consciência de que aquela designação era muito mais do que um selo UNESCO. Aquela designação era podermos mostrar como é que uma cidade, uma vila neste caso, pequena, se organiza a partir da cultura». Óbidos e Idanha-a-Nova tornaram-se as primeiras cidades portuguesas a pertencer a esta rede.
E desde então, mais cinco se juntaram e outras estão a candidatar-se este ano. Que horizontes existem nesta rede? Que importância e que relação pode existir entre uma cidade, a cultura e a criatividade? Uma das respostas passa pela partilha.
A cultura é definida em vários ângulos e um pode defini-la como uma fusão de costumes, de ideias, artes e crenças, mas, mais importante, uma das impressões digitais de um povo. «Uma cultura, todos sabemos, é feita pelas suas cidades», escreveu Derek Walcott, Prémio Nobel da Literatura em 1992. E se através da cultura de uma região fosse possível torná-la mais sustentável? Inclusiva? Segura? Resiliente? E criativa? Parece (quase) abstrato, mas a UNESCO, nas suas linhas de ação, permite que estes objetivos sejam mensuráveis e possíveis, através da Rede de Cidades Criativas (UNESCO Creativity Cities Network – UCCN).
Esta rede, criada em 2004, tem como objetivo utilizar a cultura e criatividade como motores para o desenvolvimento da sustentabilidade das regiões, através de políticas e esforços para o crescimento das regiões e das cidades. Esta missão está de mãos dadas com o objetivo número 11 da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): tornar as cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Em concordância com esta agenda, as UCCN guiam-se através dos 17 objetivos.
As cidades inseridas nesta rede partilham as suas estratégias, recursos, experiências e conhecimentos para atingirem os objetivos propostos nas comunidades locais, numa cooperação internacional ao mais alto nível de parceria. A rede divide-se em sete áreas criativas e as cidades fazem a candidatura para apenas uma em específico, quando as chamadas (open calls) abrem, a cada dois anos. As cidades que conseguem integrar esta rede, depois de um processo de pré-candidatura, candidatura e seleção, permanecem durante quatro anos na rede, de modo a trabalharem a nível local e internacional para atingirem os seus objetivos.
Após esse período, é exigido pela UNESCO o Relatório Quadrienal de Monitorização sobre as atividades desenvolvidas ao longo dos quatro anos, possibilitando a continuação da cidade na rede. Tanto Idanha-a-Nova como Óbidos, as primeiras cidades com selo UNESCO, já renovaram o seu campo criativo e no total, no país, existem sete cidades criativas: três na área da música (Idanha-a-Nova, Leiria e Amarante), duas na área do Artesanato & Artes Populares (Barcelos e Caldas da Rainha), uma em Media Arts (Braga) e uma na área da Literatura (Óbidos).
A sustentabilidade financeira para cumprir as metas a que estas cidades se propõem não é mais do que uma reestruturação do orçamento municipal de cada cidade. «As cidades criativas que eu conheço, a partir do momento em que fazem a sua candidatura, passam a ter um maior orçamento para a cultura, mais sustentável», explica Celeste Afonso, atual membro do Conselho Estratégico para a Rede Cultura 2027 e coordenadora da candidatura de Óbidos e Leiria à UCCN. A UNESCO não viabiliza nenhuma fatia monetária, mas o selo UNESCO é o contributo essencial para aliar a cultura e a criatividade ao desenvolvimento local.
A importância da partilha de experiências entre cidades, o contacto com outras realidades entre cidades dentro do mesmo setor criativo, em particular, e entre todos setores, em geral, espicaçou a vontade de reunir sinergias entre as cidades criativas portuguesas. E tudo numa escada, em Cracóvia, no encontro anual da Rede de UCCN, em 2018. «[Foi] nesse encontro anual que se afirmaria a intenção de voltarmos a reunir agora em solo português e ver como é que poderíamos iniciar esse trabalho e essa cooperação. Ficou-se logo com muita vontade de trabalharmos em conjunto», relembra Aida Guerra, responsável pela coordenação geral do Secretariado Executivo da Rede Portuguesa de UCCN. E em solo português, na Idanha-a-Nova, no «mês do BOOM Festival», deu-se a primeira reunião destas cidades que, à semelhança da UNESCO, mantêm a tradição de se reunir nas cidades inseridas na rede.
O dia 23 de outubro de 2019, um ano depois da primeira reunião, ficou memorizado com a assinatura do Protocolo de Colaboração na Universidade do Minho e a fundação da Rede Portuguesa das Cidades Criativas. Dias depois, a 29 do mesmo mês, entraram mais duas cidades para a rede: Leiria e Caldas da Rainha. «Nós ainda não somos uma entidade, somos apenas um coletivo que se organizou e está a trabalhar em conjunto», explica Aida Guerra, e quando estas duas cidades integraram a rede da UNESCO, «disseram que sim [à colaboração com a rede portuguesa] e tivemos oportunidade de entregar o que temos vindo a fazer e do que temos vindo a trabalhar desde então». Apesar de o motor ainda estar a aquecer nesta cooperação nacional, a intenção é «não nos fecharmos em nós mesmos» porque é importante «trabalhar com os outros e discutir assuntos que interessam a todos».
O largo chapéu da UNESCO acaba por representar o património cultural imaterial das várias cidades dos quatro continentes. Uma mescla de passado misturado com o presente que se prepara para o futuro. A tradição, entrelaçada com as práticas recentes, originam algo mais. «É mais fácil viver e sentir o património cultural imaterial do que falar sobre ele», escreve Clara Bertrand Cabral, responsável pela Cultura na Comissão Nacional da UNESCO, no livro Património Cultural Imaterial – Convenção da Unesco e Seus Contextos (Edições 70, 2011) porque «obra e gesto, dança e bailarino, história e contador passam a ser realidades indissociáveis que devem ser percebidas em conjunto e valorizadas em simultâneo», contextualiza.
A definição de património cultural imaterial expresso no primeiro ponto do segundo artigo da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, de 2003, reflete essa assunção. E no livro, que analisa os contextos desta convenção, a responsável sintetiza numa frase a importância do património cultural imaterial: «No património material, o mais importante são as coisas; no património imaterial, o principal são as pessoas.» Estas pessoas que, de geração em geração, de tropeços e de experiências, constroem o que hoje simboliza cada cidade, cada região, que a torna única e produto da sua própria história e criatividade que, de mãos dadas, olham para o futuro e para novos horizontes.
«O artesanato nunca é perfeito.» Dos cinco irmãos, António Ramalho é o que faz do barro, profissão. Continua a moldá-lo à imaginação e sabe que nada sai perfeito quando há mão humana na confeção. Desde pequeno que mexe com o barro, primeiro nos tempos livres num percurso profissional intermitente entre outras profissões – em França, Inglaterra e Alemanha –, e definitivamente em 2004, na sua oficina em Barcelos.
António é bisneto e filho de duas das mais consagradas artesãs barcelenses: Rosa Ramalho e Júlia Ramalho. Continua a fazer peças com o tema das duas e «às vezes lá surge uma coisa diferente baseado no trabalho» delas, como é o caso do Pedaços d’Avó, peça que reúne três dos temas da bisavó: o diabo cabeçudo, o Cristo e a cabra. Quando se pergunta por Rosa Ramalho, a gargalhada espreita. Recorda-a como uma mulher «muito divertida e dizia muitos palavrões [risos] era a maneira de ela ser». E foi ao lado dela que vendeu a sua primeira peça, aos sete anos, a um espanhol. Se soubesse onde estava – se realmente ainda existe –, António comprava-a. Afinal, foi a sua primeira peça em barro.
Também Manuel e Francisco Esteves Lima, conhecidos como os Irmãos Mistério, são os únicos de 12 irmãos que trabalham o figurado em Barcelos. Perpetuam o nome do pai, Domingos Gonçalves Lima Mistério, alcunha pelo qual ficou conhecido. «Ultimamente tem-se vendido mais peças de diabos, é uma criação do meu pai. E depois somos conhecidos pelo profano e pelo religioso, temos aquela mistura e claro, os colecionadores têm gostado dos diabos», explica Manuel, três anos mais velho do que Francisco. Entre os dois, a divisão de trabalho é muito clara: Manuel molda e Francisco pinta, minuciosamente, as peças. Sob a mesa está a Última Ceia por pintar: «Também fazemos a Última Ceia de diabos, se calhar até sai mais», ri-se Francisco. Mas a arte de continuar com o legado do pai «não foi fácil», porque nos últimos anos de vida do Mistério, «víamos que o artesanato do figurado estava a morrer completamente», recorda Manuel. Anos mais tarde, com sacrifício, não deixaram parar a máquina e hoje continuam, religiosamente (ou profanamente?) a trabalhar na oficina dos pais.
«Acho que a cerâmica tem esse cunho direto. Podemos estar quase a pensar em tempo real com as mãos. Eu gosto muito disso.» É quase como uma poesia que Vítor Reis, professor na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) das Caldas da Rainha e ceramista, descreve o que sente pela arte de moldar os pensamentos. Pertence a cinco gerações de oleiros das Caldas da Rainha, mas a paixão pela cerâmica foi um acidente de percurso. Apesar de crescer com o barro não quis percorrer esse caminho, ao contrário do irmão Mário Reis. Licenciou-se em Escultura na ESAD, e a cerâmica encontrou-se novamente com o artista anos mais tarde, «um convite um pouco inesperado» num episódio profissional em que o irmão se juntou ao projeto. Gostou de se reencontrar com a cerâmica e, desde 2013, nunca mais parou. Divide o tempo entre as aulas na ESAD e o ateliê. As peças que produz são produtos reflexivos, «gosto de criar pontos de abertura em que as pessoas o interpretem» e de «criar ambiguidades». O ceramista não vê a arte como algo consumado.
«Nós não trabalhamos só oito horas, trabalhamos 10 e 12 horas por dia e se formos a contabilizar tudo, a peça nunca tem o valor que deve ter», defende Francisco Mistério. Filomena Oliveira, artesã contemporânea de Viatodos, em Barcelos, corrobora esta visão: «Não é minimamente reconhecido o trabalho manual» porque «tem muito do nosso empenho, tem o nosso tempo». É quase como um pedaço do próprio artesão.
Filomena faz do artesanato uma terapia e do lixo, arte. Com as escamas do peixe, cascas de cebola ou sabonete faz flores; com três espinhas de bacalhau monta presépios. «Se eu sugerir às pessoas qualquer coisa em escama de peixe, as pessoas dizem logo que cheira mal. Mas quando vêm alguma coisa com estes trabalhos e se apercebem de que não tem cheiro nenhum e o efeito é muito bonito, a opinião muda, assim como mudou em relação aos presépios em espinha de bacalhau», explica a sorrir. Quando lhe encomendam peças, «não faço por lucro [estes trabalhos], faço por gosto e gosto de ver a satisfação na cara da pessoa. Lógico que não me importo de vender porque é com esse dinheiro que vou comprando materiais novos, também, mas não é a minha primeira necessidade».
Para António Ramalho e para os irmãos Mistério, o artesanato é a principal fonte de rendimento. Todos os meses é diferente: «Eu não posso chegar ao dia 31 e dizer assim “Eu tenho X garantido.” Ninguém pode dizer isso. Não se pode dizer que tem um ordenado», diz António Ramalho e os irmãos Mistério corroboram este aspeto. Mas toda a linhagem do artesanato de Barcelos permitiu-lhe a designação de Cidade Criativa da UNESCO no campo criativo do Artesanato e das Artes Populares em 2017. «Já que temos o título, temos de o defender», afirma com convicção António Ramalho.
«A consequência natural é saltar as fronteiras e ir mais além e conquistar o mundo. Foi esse o pensamento que nos levou à Rede Mundial das Cidades Criativas no domínio do artesanato e das artes populares», esclarece Nuno Rodrigues, técnico da Câmara Municipal de Barcelos responsável pela designação da cidade. Caldas da Rainha é agora parceira de Barcelos no campo criativo da UNESCO desde 2019. Este cunho agora cimentado pela designação da UNESCO já séculos antes tinha começado a palpitar na região, sendo a zona também conhecida pelas cerâmicas de Raphael Bordalo Pinheiro.
Para Nuno Rodrigues, a inserção de Barcelos nesta rede proporciona «uma troca muito forte de procedimentos de partilha, de conhecimentos, de interação» um dos quais Barcelos se destacou em plena pandemia no dia 19 de março, Dia do Artesão. Nós Criamos Esperança é o título da curta-metragem produzida para homenagear os artesão do município. Esta dedicatória foi ainda mais importante devido aos tempos que hoje se vivem. A maioria das feiras de artesanato, importante fonte de rendimento para grande maioria dos artesãos, cessou. «A nossa sorte é que há os colecionadores que são fiéis e nos vão encomendando, e a gente vai fazendo, e vêm cá buscar ou manda-se numa transportadora», conta Francisco porque «a gente nunca pode contar com o ovo da galinha, aparece assim um vírus qualquer e dá-se logo dois passos atrás com uma força do caraças», frisa.
A Feira de Artesanato de Barcelos continua a funcionar nos moldes do plano de contingência da DGS e, para ajudar os artesãos, o município lançou medidas, como o apoio à venda online de peças e um plano de aquisição de produtos a 50 unidades no valor de 800 euros a cada uma: «Foi uma maneira de em dois meses de confinamento o município dar um impulso de sustentabilidade e foi muito bem aceite», explica Nuno Rodrigues. «Para mim e para ele, nem sequer dá para o nosso ordenado, nem para um mês de despesas. E o nosso ordenado não é assim uma coisa por ali além», aponta Francisco Mistério. Contudo, acrescenta que a ajuda que o município dá aos stands para as feiras é bem-vinda. Como em 2020 não houve, Nuno Rodrigues garante que este ano esse apoio monetário vai ser redobrado.
Nas Caldas da Rainha, o município também arregaçou as mangas e colocou por duas vezes em 2020 produtos em exposição no projeto Molda Concept Store, tal como adquiriram 120 peças de artesãos locais, no total de 30 mil euros. O objetivo passa não só por auxiliar a comunidade, como também organizar, até ao final deste ano, uma exposição pública com estas peças. Se o ano de 2020 foi complicado para os artesãos, 2021 não parece muito animador. António Ramalho conta que, em 2020, conseguiu vender «relativamente bem», mas «este ano estão as pessoas estão mais ponderadas, já não compram tanto». Mas o mesmo não pode dizer Vítor. O ano de 2020 acabou «por ser um dos melhores anos de trabalho», conta, «mas não fico totalmente satisfeito ao dizer isto porque não sou alheio ao que se passa à minha volta».
No que diz respeito à sustentabilidade, Caldas da Rainha não ficou aquém das necessidades dos artesãos locais. Ainda em fase de candidatura, auscultou os artistas e percebeu-se que os excedentes de material dos ateliês acabavam no lixo indiferenciado por não terem nenhum compartimento onde os colocar: «Havia, de facto, a preocupação por parte deles, essa questão da utilização de químicos fosse parar, no nosso caso, à Lagoa de Óbidos e que contaminasse esse importante repositório natural e de espécies», explica José Antunes, focal point do município.
E o desafio para resolver este problema foi lançado a José Frade, professor na ESAD, que está a coordenar uma equipa para alcançar este objetivo. Numa primeira fase, explica José Antunes, está a ser feito um levantamento científico de práticas para dar resposta, e o próximo passo será «a criação, o desenvolvimento de um dispositivo ou um conjunto de dispositivos que permitam recolher estes excedentes, salvaguardando assim os lençóis freáticos dos resíduos poluentes dos subprodutos que saem da cerâmica».
E se é tão verdade que «o artesanato é a configuração de cada tempo», cita Nuno Rodrigues, também é verdade que o figurado adquire outra dimensão ao longo das décadas: «O figurado tradicional original já não se faz há muito tempo. Este é um processo evolutivo e então temos de nos adaptar aos dias de hoje. Os temas são outros e é uma evolução constante», explica António Ramalho. Os workshops e as ações educativas levadas a cabo pelo município de Barcelos e de Caldas da Rainha são fundamentais para continuar a cultivar este ofício através de novas dimensões, de novos mundos. É também nesta colisão de hibrismo, o pensar fora da caixa, que entra Braga, Cidade Criativa das Artes Digitais (Media Arts), a única do país, que conecta o mundo da arte com a tecnologia.
Reinvenção e criatividade, aliada à tecnologia, parece ser um matrimónio feliz para moldar as circunstâncias de uma cidade que se transformou ainda no século xx. Depois da crise têxtil, Braga viu nascer um conjunto de artistas que vieram revolucionar a atmosfera bracarense com criatividade, ao cruzar a ciência, as artes, a tecnologia e a inovação. As media arts são isso mesmo, um conceito largo, mas que resulta desta interseção e se manifesta em diferentes direções, como na arte digital, na realidade virtual e aumentada, na arte sonora, na inteligência artificial, no cinema, na robótica, no machine learning, bioarte, entre muitas outras.
«Educar, sim. Mas não para o que é óbvio ou inato. Educar para que possamos descobrir os nossos próprios caminhos.» Este é o mote do sistema educativo da Braga Media Arts, o Circuito, lê-se na página oficial. Nasceu em 2019, agregando atividades e criando outras, fruto das sinergias que se criaram aquando da designação de Braga a Cidade Criativa de Media Arts, em 2017. O Circuito aposta em cinco vertentes para públicos diferenciados: «Nós pensamos na programação de uma forma muito alargada», explica Sara Borges, assessora da programação do Circuito, «e a verdade é que dentro destas categorias as atividades acabam também por se envolver entre si, por se tocar, e de facto tentamos que seja uma programação bastante dinâmica e fluida».
O trabalho junto das escolas é uma valência que vale por si própria no fomento do pensamento crítico aliado à arte ou a temas como a Inteligência Artificial ou o Machine Learning. Estas atividades servem para «alertá-los e prepará-los para serem muito mais recetivos e mais abertos a este tipo de ofertas que têm uma grande componente de inovação e tecnologia, mas que não deixam de ser sempre portas criativas e culturais», afirma Joana Miranda, coordenadora executiva da Braga Media Arts. O «uso da criatividade ao serviço, por exemplo, de áreas tão importantes como as alterações climáticas, como a questão da urbanidade, a proteção à cidade» são importantes para esta consciencialização e fomento da massa cinzenta em tenra idade.
O Circuito não se fecha em si mesmo, «não é uma unidade isolada», mas sim um sistema agregador e multifacetado, aberto, que inclui parcerias, com um orçamento anual específico. E nem a pandemia conseguiu fazer um curto-circuito nesta máquina. As adaptações foram ao nível da programação, que teve de ser repensada, e as sessões colaborativas passaram para o registo online. «Obviamente que falta sempre esta componente, que é fundamental, que é a proximidade. E isso nós sabemos que essa proximidade e o presencial nunca será substituído», aponta Sara Borges.
Braga nunca parou, reformulou-se. Os artistas, os técnicos, os músicos, continuaram a ser o foco de Braga Media Arts, explica Joana Miranda. Em 2020, Braga recebeu a open call do programa City to City da UNESCO sobre o tema «Responsabilidade Humana», onde os artistas bracarenses apresentaram os seus projetos e, localmente, o músico João Carlos Pinto foi o vencedor. O bracarense ganhou uma bolsa no valor de mil euros e teve a oportunidade de colaborar com Sarah Degenhardt, vencedora da cidade de Karlsruhe, na Alemanha, e o trabalho foi apresentado em dezembro do mesmo ano.
«Se nós trabalhamos isoladamente, não vai haver grande proveito», garante Luís Fernandes, diretor criativo e executivo do gnration, um centro cultural com gestão da empresa municipal Teatro Circo e pertença do Município de Braga ligado à criação, à performance e à exposição de música contemporânea e da sua relação com a arte e com a música. «Temos trabalhado nesse sentido, de ter um papel muito ativo nesta rede, e entreajudarmo-nos como, por exemplo, em situações como esta que agora nos assolaram.»
Em pleno confinamento, o gnration não seguiu a febre de eventos em streaming e, ao invés, fizeram 18 propostas a artistas: «Grande parte daquilo que colhemos [agora] parte convite dos nossos artistas locais, nacionais ou internacionais para desenvolverem conteúdos novos» e assim aumentaram o volume de trabalho destes artistas, uma medida que Luís considera «assertiva». Um desses trabalhos, variados entre temas, é o documentário sonoro de Sofia Saldanha, A Trovoada.
«Não exigimos que fosse imediato, mas algo para o artista ir pensando. Isso foi a nossa primeira reação. Depois fomos alimentando o website com alguns conteúdos que ainda não tínhamos» e quase todas as semanas lançam um conteúdo novo, explica. A exploração das media arts e das tecnologias tem sido cada vez mais procurada pelos artistas locais, facto visível pelos laboratórios de verão. Mas o gnration é mais do que um coletivo, é um vórtice. As atividades de cariz criativo e cultural organizadas por esta equipa motivou a vontade do município de concorrer à Rede de UCCN.
Luís entrou para o executivo em 2014, um ano depois do seu início: «Foi precisamente o trabalho cujo gnration desenvolvia, o Semibreve e uma série de outras entidades não só artísticas, mas também a nível académico, a nível da investigação» que «contribuiu para a decisão de submeter esta candidatura a esta área em específico.» E um dos objetivos desta candidatura, assumida em 2017, foi precisamente organizar a primeira Bienal no país, também conhecida por Index.
A edição zero, a experimental, aconteceu ainda quando a pandemia era uma miragem, em meados de 2019. Quatro dias de programação variada, de espetáculos, performances, instalações artísticas e a curiosidade dos visitantes permitiu ao evento sucesso. A relação de Braga com as artes a tecnologia é espelhada no Index, através de profissionais criativos que vêm no tempo um aliado para o sucesso da bienal, não só a nível artístico, mas também a nível pedagógico, por forma a não ser um evento «superficial», garante Luís Fernandes.
A primeira edição já está a ser preparada, assegura Joana Miranda. É um investimento «muito grande porque é muito ambiciosa, mas também muito abrangente e está pensada para ser eficaz pelo menos no primeiro semestre de 2022». Até lá, outros projetos e atividades vão sendo desenvolvidos, como é o caso da Orquestra de Dispositivos Eletrónicos (ODE), uma atividade que começou em 2019, com um grupo de seniores do Asilo de São José, que utilizaram computadores, tablets, telemóveis e outros dispositivos para criar música, sob a direção de Filipe Lopes. A segunda edição foi dedicada a jovens entre os 15 e os 18 anos, e este ano é aberta a todo o tipo de públicos, sob a direção do músico bracarense Pedro Santos.
O Semibreve, por outro lado, é um dos festivais que marcam a paisagem sonora de Braga. A música eletrónica e arte digital aliam-se num só festival desde 2011 e este ano acontece de 29 a 31 de outubro, se a pandemia o permitir. E nesta cidade, como é que a sustentabilidade é pensada? Apesar de a palavra remeter o pensamento para as questões ambientais, a definição do conceito também passa pela sustentabilidade económica. «Braga como cidade tem uma estratégia de sustentabilidade muitíssimo bem pensada e muito transversal», refere Joana Miranda, porque sustentabilidade é também conseguir viver numa cidade onde se possa subsistir como designer, artista, músico ou paisagista sonoro.
A música liga gerações, pessoas, ambientes. A música é muito mais do que notas harmoniosamente colocadas umas a seguir às outras; é, também, linguagem. E pode ser simultaneamente terapia. E é neste setor que entra Joana Pinto. Há mais de 12 anos que é musicoterapeuta na Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP), em Leiria, e trabalha com bebés, crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e idosos com diversas patologias: «Nós temos muitos projetos, nem todos são musicoterapia. Mas eu acredito que todos eles são terapêuticos. Sou um bocadinho ousada, mas eu acredito que a música é a arte que só por si já é verdadeiramente transformadora e transcendente.» E a reação física pode despertar o arrepiar da pele, uma lágrima que insiste em aparecer no canto do olho, ou o bater do pé em suaves pancadas no chão, a contar os compassos. Esta é a linguagem perfeita para demonstrar o sentimento que não se consegue expressar por palavras.
Por outro lado, a música, como linguagem e cultura, deve ser acessível a todos. Esta é a visão defendida por Martim Sousa Tavares, diretor e fundador da Orquestra Sem Fronteiras (OSF), sediada em Idanha-a-Nova: «Vamos simplificar a mensagem, retirar as barreiras de elitismo que supostamente se coloca na música clássica.» A OSF começou em 2018 e tem vindo a crescer e a apoiar jovens músicos a prosseguir este sonho, sem o obstáculo geográfico, estereotipado e monetário, refere Martim. E a missão é esta: continuar a combater as diferentes fronteiras que ainda se colocam à música clássica, ao estigma e ao seu acesso.
Idanha-a-Nova é um território rico em saberes musicais e, apesar da crescente desertificação que se tem sentido ao longo dos últimos anos, há estruturas que continuam salvaguardadas. É o caso da centenária Banda Filarmónica Idanhense, ampla nos seus 46 elementos, maioritariamente jovens entre os 25 e os 30 anos. Mas a banda é apenas uma das várias vertentes deste coletivo: é constituída ainda pela Academia de Artes Catarina Chitas, pela Academia Sénior (com mais de 300 alunos na área da música) e ainda um Centro de Recursos da Memória e da Música. João Branco e Clara da Costa, membros do executivo da Filarmónica, referem que este trabalho é importante para a comunidade e para a preservação da memória, em geral, e para a perpetuação e ensino da música, em particular.
Mas dentro da esfera da música, as práticas artesanais são, também, fundamentais. Em Lufrei, freguesia de Amarante, abre-se o mundo da confeção artesanal da viola amarantina, que esteve quase para desaparecer no município. Foi António Silva, em conjunto com Eduardo Costa e outros professores, que conseguiram resgatar esta prática. Para António, a viola amarantina é um desafio, uma paixão: «[A viola amarantina] estava debilitada, ela estava perdida, e isto é quase como nós salvarmos alguém que está em perigo. E depois há um trabalho, que eu desde sempre gostei de desafios», confessa, sempre com um grande sorriso. Na sua oficina, os trabalhos estão parados, para grande infelicidade do artesão, interrupção forçada pela pandemia.
Eduardo Costa, professor e responsável pela Associação Viola Amarantina (AVA), decidiu, em 2014, em conjunto com Cândido Costa, encomendar violas amarantinas adaptadas às crianças para as escolas onde lecionavam e foi aí que Eduardo percebeu que o fabrico artesanal estava em risco. Tudo começou com a Associação Propagode mas, mais tarde, Eduardo decidiu sair e fundar a AVA. Hoje ensina vários jovens, apesar dos constrangimentos da pandemia e de as condições do espaço de ensino não serem as melhores para a conservação dos instrumentos. «O município continua a dar o apoio necessário para que existam as aulas de ensino para os mais pequenos da vila amarantina», aponta Aida Guerra, focal point da Câmara Municipal de Amarante, apesar de evidenciar que estas atividades são sobretudo lançadas por entidades privadas. A título de exemplo, o Centro Cultural de Amarante (CC Arts de Amarante), está integrado na Rede Portuguesa de Clubes da UNESCO, um «prolongamento da ação das Comissões Nacionais», lê-se na página oficial.
Em Leiria, por outro lado, os talentos musicais já se espalhavam na cidade desde as últimas décadas do século anterior. Quando descobriu a cidade, Celeste Afonso ficou «extasiada» com o que leu e ouviu: «Para mim era claro que Leiria já era uma cidade criativa, enquanto que em Óbidos tivemos que a construir, ali já estava, Leiria era uma cidade criativa só lhe faltava a designação.» E em 2019, conseguiram entrar para a UCCN e nem a covid parou a ânsia de levar a música aos quatro cantos do município. Com uma carrinha em formato de palco, músicos percorreram as ruas do município de Leiria para dar música à população. Tal como Martim Sousa Tavares, também Celeste Afonso defende que a cultura deve ser acessível a todas as gerações, independentemente da localização geográfica. Esta ambição está a ser desenvolvida e ainda este ano vai ser colocada em prática, afirma Celeste Afonso. É um plano ambicioso e sem bilheteira, mas «este custo é o custo que não tem retorno. É um investimento na cultura e é assim que o temos que ver», aponta.
O investimento na música, em Leiria, também tem sido feito por privados, como é o caso da Omnichord Records, editora e cooperativa cultural de Leiria, fundada por Hugo Ferreira em 2012. Para além de lançar nomes leirienses no panorama nacional, como é o caso de Surma ou First Breath After Coma, a editora participa em vários projetos educativos na região, como é o caso do projeto Música Omnipresente. «Eu acho que a experiência da cultura, não só da música, é uma experiência iminentemente comunitária e tem que ser pedagógica e educativa», defende Hugo Ferreira.
E não só a música é pedagógica, como também é sustentável. Exemplo disso é o BOOM Festival, que em 2022 celebra um quarto de século. Só em 2019, o festival atraiu mais de 40 mil pessoas de 150 países diferentes para a região de Idanha-a-Nova, mas o BOOM «é um festival que pretende utilizar a linguagem da cultura e das artes para a transformação do ser humano e, em paralelo, para a regeneração do meio ambiente e da regeneração da natureza», explica Artur Mendes, membro da equipa do Good Mood, organização cultural que organiza o Boom Festival. As boas práticas a nível sustentável são o busílis desta organização cultural. Só entre 2015 e 2018, plantaram mais de 720 árvores e este ano mais 50, de modo a reflorestar a zona de forma sustentável e ativa.
A par da sustentabilidade como motor de inclusão e de preservação do meio ambiente, o festival vê, mais um ano, o adiamento da programação. Porém, Artur Mendes realça que no próximo ano as atividades vão decorrer na Lua Nova, ao invés da Lua Cheia, para simbolizar o fim de uma fase e o início de algo muito melhor: os próximos 25 anos de BOOM e o fim (?) da pandemia. Durante o confinamento, a associação não esteve ausente e decidiu lançar uma série de vídeos alusivos à temática da covid, convidando artistas e músicos. Mas o desafio é agora ainda maior para as cidades que estão a concorrer.
Há sempre um «antes» e um «depois». Se antes as cidades que concorriam para a UCCN podiam equacionar eventos e projetos num só formato, o presencial, depois do surgimento da covid, o cenário mudou de figura. Há uma preocupação em tornar os objetivos e os programas adaptáveis às circunstâncias e as cidades que responderam à open call da UNESCO deste ano estão cientes desse fator.
Covilhã, Santa Maria da Feira e Alcobaça são as três cidades que estão a concorrer para dois campos criativos que ainda não existem no país: o Design e a Gastronomia. A Covilhã é conhecida pela veia industrial, nomeadamente dos lanifícios, fortemente vincada na paisagem do concelho. Mas depois da implementação da Universidade da Beira Interior (UBI), o Design adquiriu, ainda mais, certa importância na zona, ao oferecer uma oferta formativa nas mais variadas áreas do Design, clarifica Francisco Paiva, diretor executiva da candidatura da cidade. Este campo criativo, considera Francisco Paiva, pode ser um dos motores para a fixação de população na região, principalmente «população jovem, com qualificações e capacidades que poderão no fundo beneficiar bastante deste território, já por si envelhecido e com perda demográfica», aponta o diretor.
No caso de Santa Maria da Feira, a concorrer para o campo criativo da Gastronomia, vê uma oportunidade de cimentar o que já lhe é inato: «[A candidatura] surge sobretudo pela identidade milenar do território e da região e é uma aposta na valorização de uma cultura de autenticidade, não apenas de Santa Maria da Feira, mas de toda uma vasta região na qual Santa Maria da Feira tem o privilégio de se entrecruzar», aponta Pedro Marques, vereador com o pelouro da cultura e focal point da candidatura.
A região, fortemente influenciada pelo rio Douro, pela ria de Aveiro e pelas montanhas, desenvolveu nos últimos 20 anos, «uma dinâmica cultural e criativa ímpar, reconhecida nacional e internacionalmente», através de festivais como a Festa das Fogaceiras ou a Viagem medieval em Terra de Santa Maria. Estas iniciativas, aponta o vereador, fazem com que a gastronomia na região ganhe ainda mais valor cultural.
Por outro lado, Alcobaça junta os ingredientes da sua candidatura através da tradição gastronómica dos doces conventuais do Mosteiro de Alcobaça e na qualidade das frutas, como é o caso da marca registada da maçã de Alcobaça. A ginja de Alcobaça é outra das imagens de marca da região e as diversas associações ligadas à gastronomia transformam-na num produto cultural que, espera Inês Silva, vereadora com o pelouro da Cultura do Município de Alcobaça, sejam importantes para alcançar o selo UNESCO.
O dia 29 de outubro será o dia em que estas e outras cidades portuguesas a concurso vão descobrir, depois de um processo de seleção, se integram esta rede. Uma rede com mais de 246 cidades de todo o mundo que se interligam e cruzam experiências, compartilham ajuda, estreitam laços, criam intercâmbios e tudo com um objetivo comum: a cultura e a criatividade como motor de desenvolvimento destas regiões, de modo a torná-las mais sustentáveis, em todas as óticas do conceito.
O denominador comum a todas estas cidades, inclusive as portuguesas, é que um campo criativo não significa a exclusão dos outros, pelo contrário. A música pode dar as mãos à literatura, bem como as media arts podem desenvolver a gastronomia. A ideia desta rede é precisamente a mistura de ideias, o fervilhar de novas soluções, o encontro de conhecimentos. Por isso é que cada cidade criativa, independentemente do seu campo criativo, quer desenvolver todo o seu território agregando as múltiplas facetas da cultura, aliando a criatividade em todo o seu território. As Cidades Criativas Portuguesas têm feito esse esforço, unindo-se numa rede nacional em que a partilha e a interajuda são os valores principais.
Não é apenas através da economia que se deve olhar para uma região. Desenvolver os territórios, tornar as cidades mais sustentáveis, mais resilientes e criativas através da sua cultura, do que as define, torna-as mais fortes, mais inclusivas. Basta ir juntando as peças de todos os setores, como um puzzle, para as tornar melhores, tal como Italo Calvino escreveu na obra As Cidades Invisíveis: «[…] partindo dali juntarei peça a peça a cidade perfeita, construída de fragmentos misturados com o resto, de instantes separados por intervalos, por sinais que alguém manda sem saber quem os apanha.»
Dedicado às sete cidades portuguesas que integram a Rede das Cidades Criativas da UNESCO.