[fusion_text]O André Teodósio e a Marina Mota já se conheciam. Eu não sabia disto, por isso tinha vindo a ensaiar, discretamente e enquanto me aproximava do ponto de encontro: “Marina, este é o André Teodósio, encenador, escritor e fundador do Teatro Praga; André, esta é a Marina Mota, fadista, actriz e produtora de teatro e televisão”. Mas quando converso com o André enquanto esperamos pela Marina, uma das primeiras coisas que me conta é sobre um projecto que quase tiveram os dois, e que não resistiu à fase do plano.[/fusion_text][separator style_type="none" top_margin="" bottom_margin="" sep_color="" border_size="" icon="" icon_circle="" icon_circle_color="" width="" alignment="" class="" id=""][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""]
Enquanto a Marina se instala, o André termina o que me estava a contar: tem três projectos para preparar até Setembro, e planos já até 2018. Marina ouve, e comenta que faz parte da profissão, da precariedade inerente. "Nós não nos podemos dar ao luxo de esperar que o trabalho caia do céu", diz ela depois de pedir um café. "Os meus projectos cruzam-se muito, mas é porque eu não fico à espera de convites. Não posso".
O André concorda: "No meu caso, a qualidade de vida fora do trabalho é totalmente precária, porque está presa ao trabalho. Não só em termos monetários se posso ou não tê-la, mas que quando a tenho estou já a pensar em trabalhos seguintes, ou o que falta fazer para estes. Isto afecta tudo a nível pessoal, a tua relação com as pessoas, com familiares, amigos, amor".[/fusion_text][separator style_type="none" top_margin="" bottom_margin="" sep_color="" border_size="" icon="" icon_circle="" icon_circle_color="" width="" alignment="" class="" id=""][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""]
"É preciso cuidado a dizer isto", diz a Marina em resposta, "para não ser entendido com um sentido que não tem. Mas eu já tive a ingenuidade de achar que valia a pena, esta coisa. Fazer, mudar, pensar que as pessoas vão reparar que eu me esforcei por fazer este pormenor assim, e tal... Mas dessas coisas ninguém se lembra ao fim de cinco minutos. Tive de aprender a dosear-me, a retirar-me importância. Sou só uma pessoa".
Nesta altura, as palavras de uma e de outro são abafadas por um buzinar longo mesmo à porta do café, à boa tradição da hora de ponta. A Marina abana a cabeça, confessa que não gosta de vir a Lisboa durante o dia. Mudou-se há anos e nunca se arrependeu. O André, que ainda vive por cá, diz: "Eu não sou muito feliz por estar a viver em Lisboa. Aconteceu. Passo a maior parte do tempo em casa. E ainda assim, viajo muito". A Marina concorda de alma e coração: "Eu preciso de verde e de sandálias, especialmente em férias. Betão nem pensar. Preciso de ouvir os passarinhos. E já estou numa altura em que gostava de poder parar durante um ano. Trabalhar um, parar outro".[/fusion_text][separator style_type="none" top_margin="" bottom_margin="" sep_color="" border_size="" icon="" icon_circle="" icon_circle_color="" width="" alignment="" class="" id=""][one_half last="no" spacing="yes" center_content="no" hide_on_mobile="no" background_color="" background_image="https://gerador.eu/beta/wp-content/uploads/2017/08/andre.png" background_repeat="no-repeat" background_position="left top" hover_type="none" link="" border_position="all" border_size="0px" border_color="" border_style="solid" padding="" margin_top="" margin_bottom="" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" class="" id=""][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""]
"Mas se isso acontecesse talvez fosse bom", responde a Marina. "Queria dizer que se calhar não era isso... Acho que todos nós devíamos ter a experiência de trabalhar porque nos apetece trabalhar, sem que nada nos obrigue. Eu gosto muito do que faço, mas a minha profissão nunca foi nem nunca será o meu pilar. Vivia bem sem", acrescenta. Depois dá um gole de café, sorri, e diz, "mas talvez não para sempre".
"Mesmo que fosse cantar?", pergunta o André.
"É trabalho", responde a Marina. "Trabalho de que gosto muito – e aliás, também gosto muito de actuar – mas são tudo coisas que eu produzo, e depois tens as pessoas que dependem de ti".
Porque o André não sente o mesmo que a Marina no que toca ao descanso, quero saber se o trabalho é então pilar da vida dele. A resposta surge ao fim de um instante: "Eu acho que é muito importante contribuir com ferramentas para entendimento do mundo. Não me importo de ter as minhas férias afectadas por trabalho, e preciso ainda de passar muito por isto até pensar: Pronto, já tenho quarenta anos a tentar mudar o mundo, ele não mudou, agora vou descansar. Não sei se é o pilar, mas é um deles, sim".[/fusion_text][separator style_type="none" top_margin="" bottom_margin="" sep_color="" border_size="" icon="" icon_circle="" icon_circle_color="" width="" alignment="" class="" id=""][imageframe lightbox="no" gallery_id="" lightbox_image="" style_type="none" hover_type="none" bordercolor="" bordersize="0px" borderradius="0" stylecolor="" align="none" link="" linktarget="_self" animation_type="0" animation_direction="down" animation_speed="0.1" animation_offset="" hide_on_mobile="no" class="" id=""]
O André protesta: "Mas as coisas que tu fazes têm importância. Afectam um discurso, como aquele número da violência doméstica", diz, referindo-se a um fado da autoria de Marina. Ela anui. "Ainda não havia APAV quando isso apareceu. E isso é o que podemos fazer, não é? Ir chamando a atenção de alguém com o que podemos fazer, esperar que alguém com importância e poder ponha as coisas a mexer".
Ao fim de uma hora, tive de abandonar o Vertigo, e regressar à cidade e à confusão. Deixei-os lá ainda, os dois em amena cavaqueira, certamente a falar de destinos de férias. Se os virem depois do Verão, lembrem-se de perguntar por onde andaram, se estão mais descansados. Eles merecem.[/fusion_text][separator style_type="none" top_margin="" bottom_margin="" sep_color="" border_size="" icon="" icon_circle="" icon_circle_color="" width="" alignment="" class="" id=""][fusion_text]
Café Central por Gil Sousa
Fotos do Andreia Mayer
[/fusion_text]