De dois em dois meses recebemos na Central Gerador uma conversa descontraída que é publicada na Revista Gerador. Em julho do ano passado entrevistámos Hélio Morais, baterista, produtor e agente, circulando em diferentes espectros daquilo para que realmente vive: a música. Descobre aqui esta conversa:
Gerador (G.) – Achas que ainda existem encontros de artistas nos cafés para troca de ideias?
Hélio Morais (H.M.) – Por acaso acho que não, com muita pena e culpa minha também. Tenho sentido mais isto desde que fui ao MIL – Lisbon International Music Network, em que fechei mais parcerias nos pós-reuniões e conferências do que durante. Acho fixe haver uma profissionalização das coisas, mas também tem de haver espaço para a descontração e partilha de ideias.
G. – Sentes que também não há partilha entre disciplinas artísticas?
H.M. – Tem havido algumas. Acho é que dentro dos músicos não há um sentido cooperativo muito grande. Talvez por o meio ser pequeno ou competitivo. Mas penso que não há um sítio onde todos se encontrem. Nós, no HAUS, até temos; desde os
Dead Combo aos Linda Martini, ao Diogo Piçarra e à Isaura, há muitas bandas que já ensaiaram ali.
G. – O HAUS surgiu como uma forma de canalizar alguma coisa de que vocês (PAUS) sentiam falta enquanto músicos?
H.M. – O Henrique Amaro já nos tinha desafiado e, a dada altura, percebemos que os PAUS se davam muito bem na estrada e pensámos: «Se nós nos damos bem na mesma carrinha, a dormir nos mesmos quartos, mais fácil será ter um espaço partilhado e em que nem precisamos de estar lá sempre.» É um espaço que se quer de cooperação e de partilha.
G. – Estares em diferentes projetos ajuda-te a canalizar diferentes ideias e a assumir diferentes personas?
H.M. – A partir do momento em que se muda a estrutura, tu próprio mudas. As nossas maiores influências são aquelas pessoas e o campo de forças em que ficamos todos juntos. Nunca estamos inteiramente confortáveis, mas há um espaço comum que agrada a toda a gente.
G. – Achas que ao longo destes anos te tens aproximado mais daquilo que imaginavas que querias ser?
H. M. – Acho que nunca vou ter a certeza de nada. Não sei se me estarei a tornar mais «eu» por tomar consciência do que não sou nem quero ser, antes de saber o que sou. Mas nós não somos só uma coisa, não é?
Onde fica a Central Gerador?
A entrada faz-se pela Rua Luis Pastor de Macedo, nas traseiras do edifício da Junta de Freguesia do Lumiar, pelo portão verde que estará aberto. A Central Gerador fica no Largo das Conchas, Casa da Cidadania, nº 5, Lumiar (Lisboa).