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Cevide: uma aldeia que se reinventa, um país que lhe falha

Quando a clandestinidade era o modo de sustento, Cevide prosperava. Hoje, é uma aldeia onde vivem apenas três pessoas. É o marco n.º 1 da fronteira, onde começa Portugal, e o ponto mais a Norte do país. Em processo de reinvenção, interpela-nos pela ideia de fronteira.

Texto de Redação

©Diana Neves

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Pouco se sabe de Cevide. Não está em arquivos de jornais. Nos meios de comunicação online, contam-se histórias de passagens temporárias de turistas, ciclistas e motards que fazem de Cevide, no concelho de Melgaço, o início dos seus trajetos. Em blogues, jornalistas e nómadas narram a sua visita a esta aldeia: o ponto mais setentrional de Portugal.

Como Mário Monteiro diz: “Aqui Começa Portugal”, nome da marca de vinhos que criou, para dinamizar o local. “Não foste a Cevide se não estiveste com o Mário”, é a ideia que o antigo morador da aldeia sustenta. Mário é enfermeiro, vive em Ponte de Lima, mas cresceu em Cevide. Hoje, considera-se, e consideram-no, o dinamizador da aldeia, que visa voltar a pôr a localidade raiana no mapa.

No distrito de Viana do Castelo, quando placas com a inscrição ESPANHA já direcionam as estradas para outros horizontes, Cevide surge no leito do rio Trancoso – aldeia com apenas três habitantes permanentes, vizinha de Espanha. “Nuestros hermanos”, como diz Mário, apelidando os vizinhos da Galiza.

“[A aldeia] tem essa importância simbólica, está onde o rio Minho, vindo de Espanha, se junta ao rio Trancoso, e se transforma num rio internacional, começa ali a fronteira entre Portugal e Espanha”, refere Manoel Batista Pombal, presidente da Câmara Municipal de Melgaço.

O outro lado, Espanha. ©Diana Neves

Nesta história, a ideia de fronteira é apresentada na forma de simbolismo patriótico que se dilui na união dos povos, na transposição do conceito de território e se transporta pelos tempos, a mostrar semelhanças entre passado e presente – assim, fronteira poderá não desenhar uma barreira, mas agregar pontos geográficos e fenómenos sociais.

Naquele dia, chovia. E, para Mário, não foi por acaso: porque o céu cinzento e o frio obrigavam os visitantes que por ali passavam a contemplar Cevide de forma mais atenta, como se precisassem quase de mastigar a carga simbólica daquele lugar.

Quando o contrabando é modo de sobrevivência

O contrabando sempre existiu nas terras raianas. Foi um lado mais escondido da história. Passou de ilegalidade a modo de vida, de sobrevivência. E a emigração clandestina era recorrente: nos anos 60, registou-se quase o dobro de emigrantes clandestinos em relação aos emigrantes legais.

A vida clandestina na fronteira minhota durou sensivelmente até aos anos 80. Depois, com o despovoamento do Interior e com as políticas europeias de livre circulação de pessoas e mercadorias, dentro do Espaço Schengen, começaram a estabelecer-se trocas comerciais e fenómenos de migração normalizados. Mas, há um século, as dificuldades ditaram que assim acontecesse: o contrabando era fonte de rendimento.

Os fenómenos de contrabando e de emigração (legal e ilegal), contados em pormenor no Espaço Memória e Fronteira, em Melgaço, moldaram a demografia e a cultura social de Cevide. Durante muitos anos, as mulheres, como testemunham em vídeo, presidiram a aldeia quando os homens emigravam. Vestiam-se de preto, pela ida dos maridos, e faziam de tudo, desde a lavoura da terra ao pastoreio do gado – e ainda iam a pé a Melgaço buscar o que de hortícolas lhes faltava.

 
Parte de uma carta de um emigrante, exposta no Espaço Memória e Fronteira. ©Diana Neves

Muitos morreram no caminho, quando emigraram clandestinamente. Outros muniram-se de passaportes e seguiram o exemplo de vizinhos, amigos ou familiares que já tinham ido para fora, a maioria para França, e de lá vinham diferentes – mais avantajados economicamente. Foram trabalhar na construção. Cá só se trabalhava nas terras.

O maior pico de emigração registou-se no final dos anos 60, com França como principal destino. Para isso, muito contribuíram os anos após a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Colonial. Criaram-se autênticas redes de transportes, marítimo, ferroviário e rodoviário, para provisionar este fluxo de migrantes.

Os que cá ficaram fizeram do contrabando um modo de sobrevivência. “Houve muito negócio, porque as pessoas perceberam que era uma oportunidade e que havia necessidade de trocar estes produtos, e foi aí que apareceram empresários de grande dimensão, que se dedicavam a isso, que permitiam criar uma grande quantidade de postos de trabalho informais”, menciona Manuel Batista Pombal.

A situação socioeconómica de cada país pedia necessidades diferentes. De Portugal para Espanha passou muito café, e no sentido contrário, bananas. O tabaco, o gado, o azeite, o sabão e os minérios, como o volfrâmio e o ouro, foram bens muito contrabandeados. Os principais picos de contrabando deram-se durante a Guerra Civil espanhola (1936-1939) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), mas, no geral, o contrabando foi sempre a maior fonte de rendimento do concelho. Qualquer pessoa, independentemente da classe, género ou idade, participava.

Muitos morreram nas águas do rio Minho ou pelas mãos da Guarda Civil espanhola. A Guarda Fiscal portuguesa tinha uma relação particular com os contrabandistas. O controlo era mais apertado na zona fronteiriça de S. Gregório. Mas, na maioria das vezes, os guardas deixavam passar os contrabandistas, por respeito ao modo de vida daquela comunidade. Outras vezes, como testemunhado no Espaço Memória e Fronteira, mesmo dentro da Guarda Fiscal havia corrupção: os comandantes apreendiam os bens contrabandeados, mas ficavam com uma percentagem, para seu próprio consumo.

Mário já participava no contrabando em criança. “Aos nove anos, já andava com a minha caixa de bananas”, diz. Com cerca de 11 ou 12 anos, o enfermeiro conta que chegou a “passar pessoas” no rio. Era uma rede de prostituição, tráfico humano – e fazia-o sem saber.

Numa noite, diz, era capaz de ganhar o ordenado mínimo, 27 contos na altura (130 euros, hoje). Em alguns casos mais radicais, montaram-se reais estruturas organizadas de contrabando. “Era quase uma empresa”. Costumavam dizer que ali “adormece-se com os bolsos vazios, e acorda-se com os bolsos cheios”.

Mas, neste fragmento da fronteira, chegaram a passar judeus em fuga, durante a Segunda Guerra Mundial, do lado espanhol para portos portugueses.

A caneja – o caminho da rota do contrabando – é escorregadio, estreito e controversamente bonito. As escadas de construção antropológica confundem-se com os pedregulhos de granito que se erguem da terra para formar um passadiço natural corrido por paredes de musgo, da aldeia até ao rio. Hoje, esta aldeia raiana está quase entregue à natureza, como patenteiam as rochas que se fundem com as paredes das casas no terreno acidentado.

A própria geografia da linha de fronteira do concelho de Melgaço foi propícia ao contrabando, com atalhos e travessias, cuja figura típica da pessoa carregada com sacos ou com produtos escondidos na roupa dissimulava as autoridades e, com engenho, percorria passagens quase secretas.

A caneja vinda do rio vai dar diretamente ao largo em frente à adega de Mário, antiga loja que pertencia aos seus avós paternos, e onde hoje está imortalizado, no piso, o quilómetro n.º 1 de Portugal.

©Diana Neves

Uma aldeia que se reinventa

O alvará de 1947 deu a Mário a permissão legal de venda de produtos na loja dos avós (que vendia, em tempos, bens vindos do contrabando). Hoje é a adega onde Mário produz e comercializa o vinho alvarinho “Aqui Começa Portugal”: marca que criou em parceria com a Quinta do Soalheiro.

A propriedade conta com a designação Quinta da Netinha, e Mário quer mantê-la na família. Os vinhos são produzidos “como antigamente” e vendidos unicamente em Cevide. Para Mário, é como “voltar às origens”.

Nos últimos anos, o enfermeiro decidiu agarrar as rédeas e tem aplicado o seu esforço pessoal para dinamizar a aldeia. Além da marca de vinhos, criou o grupo de Facebook Amigos de Cevide, que conta já com cerca de 24 mil membros. “Eu já não sei onde Cevide anda”, diz.

Mário guarda um livro com o registo de todas as pessoas que passam e visitam a aldeia. Ucranianos, chineses, americanos, espanhóis, franceses, jornalistas, realizadores de cinema, e portugueses dos quatro cantos do país deixaram assinado o caderno já com marcas do tempo e da humidade. O Gerador ficou como o visitante n.º 4500.

Autopromotor da aldeia, Mário convenceu-se de que para lançar Cevide novamente no mapa e fazer renascer o seu simbolismo era necessário torná-la, não só num local, mas num produto, capaz de percorrer quilómetros fora do Minho. Além disso, Mário promove também passeios turísticos, para percorrer a caneja ao som da música “Au revoir” (Adeus), do compositor Manuel Brásio, inspirada em antigas cartas de emigrantes.

Na sua visão, esta música representa “o medo, o salto, a incerteza” daqueles que não conhecem mais nada senão aquilo. A passagem da ponte para Espanha, significa o desconhecido, o outro, aquilo que esperava os emigrantes, aqueles que se aventuravam a ir sem saberem se voltavam ou se lá chegavam.

É assim, nas suas palavras, que “a aldeia se reinventa'', e se reinventa Portugal. Mário acredita que os investimentos privados para promover o turismo rural na aldeia poderão um dia, como plano ideal, levar à nova fixação de pessoas na região, aquela que é “o Portugal profundo”.

Da parte da Junta de Freguesia de Cristóval tem havido um investimento em manutenção e limpeza dos espaços naturais que rodeiam a aldeia, e foram construídos passadiços para se poder fazer o caminho da caneja e ir da aldeia até ao leito do rio em maior segurança. Mário reconhece que Cevide tem ganhado “o carinho do senhor presidente”, David Manuel Barbeitos. Para esta infraestrutura também contribuiu a Câmara Municipal de Melgaço, cujo presidente, Manoel Batista Pombal, acredita que “a aldeia terá uma segunda vida”.

Para Mário, é necessário fazer renascer o simbolismo do marco n.º 1 e levá-lo a ter um maior reconhecimento institucional. “A torre da Serra da Estrela não tem nada de belo, mas as pessoas vão lá por ser o ponto mais alto de Portugal Continental. Aqui quero que as pessoas digam «vamos a Cevide» e não «vamos passar em Cevide», porque o marco n.º 1 não tem nada de belo, é só uma pedra, mas é onde começa Portugal, é o primeiro”, afirma.

Há séculos que a delineação da fronteira entre Portugal e Espanha passa por riscos e difusões que a destroem e refazem, e que os povos limítrofes de cada país se entrelaçam na História e suplantam este conceito de fronteira. A nível institucional, e por exigência historiadora, foi o Tratado de Limites entre Portugal e Espanha de 1864 que definiu os marcos de fronteiras entre os dois países ibéricos.

Mário junto ao marco n.º 1. ©Diana Neves

Foi com este tratado que o marco n.º 1 foi colocado ali – com P e I em duas faces distintas do cubo – uma pedra granítica. No outro lado, em Frieira (Galiza) começa Espanha. Dos 5243 marcos da fronteira entre Portugal e Espanha, este é o marco n.º 1, estando o último em Castro Marim.

Para o presidente de Melgaço, Cevide tem uma “carga histórica formal e informal”, o marco n.º 1 e o contrabando, respetivamente. E, para ele, a mais importante é a informal porque “ali se fez comércio, ali se fez economia”, e este constitui o maior património daquele local.

Hoje, o próprio concelho tenta reinventar-se. Em tempos, a emigração privou o município de população em idade ativa e a principal atividade era a agricultura de subsistência. “Mas o contrabando, por seu lado, conseguiu reter um conjunto de pessoas aqui”, definindo um retrato social de emprego ilegal e economia crescente. “Vemos que existia capacidade económica, vinda do contrabando, para construir um conjunto de habitações que têm um valor grande, em dimensão e arquitetónico”, refere Manoel Pombal. Graças ao contrabando, Melgaço era o concelho de Viana do Castelo que contava com mais depósitos bancários. A incapacidade de renovação demográfica ainda se sente neste território, que está, porém, a investir no turismo e na indústria e numa relação estreita com a Galiza.

Uma ideia de fronteira

De acordo com o livro de registos que Mário guarda por gosto, das pessoas que já visitaram Cevide desde que lançou a sua marca, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, foi a mais alta figura de Estado a visitar Cevide, em 2019. Na perspetiva do enfermeiro, cabe-lhe a ele dinamizar a aldeia – papel que leva com orgulho e dedicação – na esperança de que um dia “este belo país”, como diz, possa reconhecer de onde veio e para onde vai. Onde acaba, e onde começa.

Há qualquer coisa que nos separa dos outros. As fronteiras físicas entre Portugal e Espanha existem na fisicalidade imposta pelos Estados, mas quebram-se na intermitência dos corpos. Para Mário, Cevide carrega um significado muito maior do que simplesmente conter o marco n.º 1: é o valor da amizade, da magia e do começo – quase como o começo da história.

Um grupo de pessoas, numa aldeia fronteiriça, a passar, durante a noite, bens num saco às costas e pessoas, de um lado para o outro do rio (da fronteira) parece uma imagem distante. A verdade é que este era o retrato da ruralidade raiana num Portugal em regime salazarista.

Durante o Estado Novo, e com as fronteiras fechadas, as zonas rurais enfrentaram grandes dificuldades económicas. Na visão de Mário e de antigos moradores da aldeia, esta foi a forma que encontraram para sobreviver às dificuldades, num país que não lhes dava nada e lhes retirava o pouco que tinham.

“Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades”, imortalizou em verso a lírica camoniana. Com o passar do tempo, o país reinventa-se. Adapta-se. Porém, 48 anos de democracia e Portugal ainda negligencia o interior: o despovoamento está a desertificar as zonas rurais e a deixar ao acaso pedaços de História. E à semelhança do passado, por carência financeira, Portugal sofre de emigração crónica.

Ainda hoje, o tráfico ilegal de mercadorias e o tráfico humano são uma realidade complexa do mundo contemporâneo. Há qualquer coisa que nos separa do passado. Mas há um traço que nos une a ele, entranhado em nós, quanto mais não seja nas pedras de granito que construíram as casas de Cevide, nas águas do rio Trancoso que mataram alguns pelo caminho.

O próprio rio, normalmente designado como um corte na paisagem, pode adquirir neste espaço um conceito de identidade e união entre o Minho e a Galiza, que impede a estagnação das pessoas e dos bens. Pode ser alfândega entre o passado e o presente. Pode ser albergue e não barreira.

A noção de fronteira impõe-se em pronomes possessivos. Mas num mundo construído, hoje, à base de fronteiras, resta o retrato social de um país desenhado por obstruções e entraves até nos sabermos reinventar.

*Esta reportagem foi inicialmente publicada a 24 de dezembro de 2022.

Texto de Diana Neves

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