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Cinecartaz do documentário português #2: o despontar da revolução

Do olhar incauto de Oliveira, à câmara transportável de Campos e à visão poética de Reis e Cordeiro, o cinema documental português é um espelho do passado que se transportou para a contemporaneidade. Na época em que a distinção entre ficção e documentário é cada vez mais discutida, quisemos aprofundar o nosso olhar sobre o segundo formato, que tem tido uma contínua importância e presença no retrato das realidades portuguesas.

É a partir desta premissa que, no número 29 da Revista Gerador, nos propusemos a falar do percurso do documentário na história do cinema português. Uma odisseia que começa ainda no século XIX, mas que ganha relevância na primeira metade do século XX pela mão de criadores visionários, cujo nome está para sempre eternizado nas imagens que nos deixaram.

Numa série de artigos, que iniciámos na semana passada, destacamos alguns o nome de alguns cineastas, tendo por referências alguns dos documentários mais marcantes que nos deixaram. No segundo capítulo falamos de António Campos, António Reis e Margarida Martins Cordeiro, e Rui Simões. Do retrato de Portugal e as suas gentes nas aldeias ao despontar da revolução, este percurso acaba em Lisboa, mas passa por Trás-os-Montes e o Vilarinho das Furnas.

Vilarinho das Furnas, António Campos (1971)
Rodado entre janeiro de 1969 e junho de 1970, Vilarinho das Furnas é um olhar de António Campos, um dos grandes documentaristas portugueses, sobre um lugar que viu o fim da sua vida chegar com a construção de uma barragem. Entre o Rio Homem e a Ribeira do Eido, Vilarinho das Furnas fazia-se das suas gentes, dos seus rituais e da vida em comunidade.

Campos deixou para a posteridade o retrato de um sítio que já não está à distância de uma viagem de carro e que habita um tempo que já não é o nosso e ao qual apenas conseguimos aceder através de registos como este, que parte de uma obra literária de Jorge Dias, Vilarinho das Furnas, Aldeia Comunitária. 

O homem que andava com a câmara às costas, António Campos, foi responsável pelo argumento, pela direção de som, plea fotografia e fotografia de cena, pela produção e pela realização. A total entrega de um homem à sua obra, cuja ânsia era registar as gentes e os seus costumes. 

A estreia do filme rodado em 16mm aconteceu a 19 de outubro de 1971 no Festival de Cinema de Santarém.  

O filme completo está disponível no YouTube

Trás-os-Montes, António Reis e Margarida Martins Cordeiro (1976)
Em Trás-os-Montes António Reis e Margarida Cordeiro, a dupla que dava a mão na vida e no cinema, fazem um retrato do que é o interior do país num pós-25 de abril ainda muito fresco. Mais do que um retrato da ruralidade, Trás-os-Montes é um patchwork das relações interpessoais que passam para a câmara.

Com a sensibilidade de quem conhece o território (Margarida Cordeiro é natural do Mogadouro), o filme levanta as personagens-tipo da vida real num lugar onde os dias são longos e o tempo ocupa, também ele, um papel principal.
Enquanto alguns dos seus pares filmavam a revolução dentro da grande urbe, Reis e Cordeiro olharam para o Portugal menos óbvio, onde os ecos dessa revolução não se ouviram de imediato, alto e a bom som.

O filme teve a sua ante-estreia no dia cinco de abril de 1976 em Bragança. Ganhou, entre outros, o Prémio Especial do Júri- Prémio da Crítica em Toulon (França), em 1976, e o Grande Prémio de Mannheim-Heidelberg International Filmfestival, em 1977. 

É possível encontrar alguns excertos do filme na internet

Bom Povo Português, Rui Simões (1981)
Se em Trás-os-Montes Reis e Cordeiro dão a ver o lento processo da revolução no interior, em Bom Povo Português Rui Simões situa-se entre um arco temporal que começa a 25 de abril de 1974 e acaba a 25 de novembro de 1975, "tal como ela foi sentida pela equipa que, ao longo deste processo, foi ao mesmo tempo espectador, actor, participante, mas que, sobretudo, se encontrava totalmente comprometida com o processo revolucionário em curso (PREC)".

O povo português no documentário de Simões é um povo uma constante procura pela liberdade, que precisa urgentemente de ser ouvido e de gritar bem alto o que durante anos guardou consigo.

O filme estreou em Lisboa nos cinemas Estúdio e Quarteto a 18 de novembro de 1981.

Os filmes aqui destacados serviram de referência para a reportagem Cinema Documental: uma lente sobre as realidades portuguesas?, publicada no número 29 da Revista Gerador, disponível numa banca perto de ti ou em gerador.eu.

Texto de Carolina Franco e Ricardo Ramos Gonçalves
Fotografia de Denise Jans disponível via Unsplash

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