Acabar uma licenciatura pode trazer mais perguntas do que respostas. Olhar para um futuro incerto — mesmo que com uma bagagem carregada de conhecimento prático e teórico — tem tanto de libertador como de assustador, mas seja qual for o cenário, é sempre um novo começo; um virar de página. "Classificados", a exposição de fim de licenciatura dos estudantes de Design de Comunicação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (FBAUP) levou essas e outras questões para a Galeria do Museu da FBAUP entre os dias 28 de junho e 5 de julho.
Uma turma de 34 estudantes, que durante quatro anos explorarem juntos o Design, reuniu modos de ver e de estar perante o mundo através das vertentes de editorial, cartaz, tipografia, identidade, fotografia, ilustração e média. Os projetos finais que tinham obrigatoriamente de fazer para terminar a licenciatura serviram de ferramenta para pensarem os limites do Design, as suas práticas e a posição de cada um numa área que tem tanto de aparentemente simples como de complexa. Miguel Santos, um dos estudantes, ficou responsável pela curadoria.
Depois de o Miguel explicar ao Gerador em que consistiu, afinal, esta mostra, reunimos a Beatriz, o Francisco, a Sara, a Margarida, o Rui, a Helena, o Hugo e a Rita, oito dos 34 estudantes, para através de um questionário online partilharem connosco os seus projetos — de Design e de vida. Ainda que o futuro esteja, para eles, em aberto, deixaram-nos uma certeza: estes jovens designers não estão à venda.
Miguel Santos (28 anos)
"Classificados" é a exposição final dos recém-licenciados em Design de Comunicação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Propõe, com humor, abordar a questão dos estudantes habituados a serem classificados por notas no final do semestre passarem a fazer parte da secção dos classificados do jornal, mas também que estes recém-licenciados pensem no papel do design dentro da sociedade.
Gerador (G.) — Como é que surgiu a ideia de associar a exposição final de Design à dos classificados?
Miguel (M.) — Há uma constante em todas as exposições de finalistas que é a questão da mudança e incerteza características desta fase de charneira dos finalistas. Com algum humor decidi abordar a questão dos estudantes habituados a serem classificados por notas no final do semestre passarem a fazer parte da secção dos classificados do jornal.
O conceito, para além de reflectir o estado actual dos estudantes finalistas, deve ainda propor uma perspectiva particular, uma direcção curatorial para a exposição. Apesar da alusão óbvia à necessidade de um emprego por parte dos recém-licenciados, procurei que o conceito não se limitasse a isso e que a exposição pudesse ser também, um momento para os estudantes ponderarem a sua classificação enquanto designers e reflectirem no papel do Design dentro da sociedade. A possibilidade de tirar partido da disciplina não apenas como reflexo do presente mas também com o intuito de repensar e classificar o futuro foi bem-vinda.
G. — Também tu és recém-licenciado em design. Como é que decidiram que a curadoria ia ficar a teu cargo?
M. — Através de um duelo sangrento que reduziu em muito o número de estudantes do curso. Brincadeira. Na verdade foi muito simples. Uma das disciplinas que faz parte do quarto ano é Projecto/Estágio, em que cada estudante escolhe, como o nome indica, fazer um projecto auto-proposto ou um estágio numa instituição, estúdio, etc. da sua escolha. Eu quis fazer o meu no Museu da faculdade pela possibilidade de pensar e exercer o design enquanto complemento para um projecto mais abrangente assim como reflectir na questão do objecto e a sua relação com o espaço. Cabe ao estagiário do Museu da FBAUP aconceptualização, organização e produção da exposição de finalistas do curso de Design de Comunicação.
G. — Qual foi o processo de seleção das obras/projetos para a exposição?
M. — Os projectos que integram a exposição final dos estudantes de design são seleccionados por um júri composto por três professores do curso e pelo responsável pelo Museu.
G. — Sentes que a curadoria da exposição reflete, de alguma forma, as preocupações e motivações de recém-licenciados em Design? Porquê?
M. — A representatividade de 34 pessoas diferentes com trabalhos/linguagens distintas num mesmo espaço pode resultar num projecto expositivo dissonante, dada a diversidade de tipologias de obras e conceitos, uma vez que os trabalhos que integram a exposição não foram desenvolvidos nem seleccionados em função de um tema previamente definido. Assim, o conceito pode e deve colmatar essa questão ao atribuir uma linha condutora e agregadora de todo o projecto, tornando-o coerente. Deste modo, procurei definir uma linha conceptual que não fosse nem muito particular nem, em contrapartida, demasiado global/geral. Os Classificados respondem bem a esta necessidade.
Poderia dizer que os planos inclinados dos dispositivos expositivos presentes na exposição têm relação com os altos e baixos da carreira profissional que nos espera, ou que as superfícies pretas espelhadas sobre as mesas são uma alusão à realidade Black Mirror em que nos encontramos mas não foram pensadas com essa premissa. São soluções encontradas para criar um mood geral e um desenho expositivo equilibrado, original e apelativo, que possibilita o diálogo entre os vários projectos expostos assim como uma circulação dinâmica pelo espaço.
O conceito/curadoria de uma exposição a meu ver pode e deve levantar questões sem responder de forma definitiva às mesmas. O espectador é convidado a tirar as suas próprias conclusões.
Ainda assim, o elemento que se encontra relacionado de uma forma mais clara com o tema da exposição é o mural da entrada que acentua o conceito Classificados. Ao fixar imagens de todos os participantes na exposição de uma forma dispersa, faço uma sugestão visual aos anúncios classificados de um jornal ao mesmo tempo que é defino o tom humorístico e ligeiramente irónico do projecto expositivo, ao mesmo tempo que remeto para um retrato geral de fim de curso, estilo anuário.
G. — Achas que estas propostas se prendem ao contexto académico e expositivo ou, pelo contrário, vivem perfeitamente fora deles?
M. — Sendo que estes projectos foram desenvolvidos, na sua grande maioria, para uma unidade curricular, creio que estarão sempre relacionados com o contexto académico, nem que seja por ilustrarem e reflectirem as preocupações dos estudantes neste período específico, que foi a sua passagem pela FBAUP.
No entanto, vários trabalhos na exposição vão para além disto, quer pelo interesse das soluções formais encontradas, quer pela pertinência dos seus temas. Projectos que abordam os problemas resultantes da gentrificação na cidade, ou que procuram dar voz a quem é visto pelos outros de forma diferente, passando por trabalhos que ponderam nas preocupações de uma sociedade cada vez mais tecnológica e digital, ou ainda um estudo antropológico da situação de um designer recém-licenciado, para além de ‘viverem’ perfeitamente fora do espaço académico, são também de uma importância significativa para o público em geral.
- “Classificados” reune 34 projetos diferentes
- Miguel Santos ficou responsável pela curadoria dos projetos dos seus colegas
- Conta ao Gerador que foi um desafio juntar projetos que “não foram desenvolvidos nem seleccionados em função de um tema previamente definido”
- A exposição foi também um pretexto para os recém-licenciados pensarem no papel do design
- Esteve patente de 28 de junho a 5 de julho na Galeria do Museu da FBAUP
Beatriz Costa, biakosta (22 anos)
"Nova Geração de Designers" é um livro em banda-desenhada jornalística e autobiográfica sobre o meu estudo e entrevistas a estudantes de design de várias universidades ao longo do país.
Gerador (G.) — "A exposição propõe que os recém-licenciados se definam e ponderem as suas acções futuras perante a prática do Design", lê-se na descrição da exposição. Que ferramentas é que a faculdade te deu enquanto futuro/a designer?
G. — Não é difícil perceber o papel dos designers no mercado. Mas qual é o papel dos designers no mundo?
G. — De que forma é que a tua obra ou projeto final espelha o que te move enquanto designer?
G. — Que obstáculos é que achas que podes encontrar no teu caminho, num futuro próximo?
G. — Que mensagem deixarias para ti mesmo/a, enquanto recém-licenciado, para leres daqui a 20 anos?
- O projeto de Beatriz é uma “banda-desenhada jornalística e autobiográfica”
- O projeto resulta de entrevistas que fez a estudantes de design pelo país fora
- O processo fez com que pensasse também na sua posição enquanto designer
Francisco Ramos (21 anos)
"Choices - Based on the work of Scott McCloud" é uma animação curta com o intuito de expor diferentes tipos de escolhas a fazer ao criar uma banda desenhada/narrativa ilustrada.
Gerador (G.) — "A exposição propõe que os recém-licenciados se definam e ponderem as suas acções futuras perante a prática do Design", lê-se na descrição da exposição. Que ferramentas é que a faculdade te deu enquanto futuro/a designer?
G. — Não é difícil perceber o papel dos designers no mercado. Mas qual é o papel dos designers no mundo?
G. — De que forma é que a tua obra ou projeto final espelha o que te move enquanto designer?
G. — Que obstáculos é que achas que podes encontrar no teu caminho, num futuro próximo?
G. — Que mensagem deixarias para ti mesmo/a, enquanto recém-licenciado, para leres daqui a 20 anos?
- “Choices” questiona-se a si mesma
- Francisco quis expor os tipos de escolhas a fazer ao criar uma banda desenhada/narrativa ilustrada
- Através de questões prementes ao mundo real, cria um mundo imaginário
- “Choices” é quase o design a questionar-se a ele mesmo
Sara Brandão (21 anos)
"A voz dos avós" pretende ser uma ode às memórias dos mais velhos, que muitas vezes são esquecidos e uma chamada de atenção às gerações mais novas ao abandono da terceira idade. Na exposição estiveram expostas as duas edições do conto 'A latitude do tempo' e uma manta de retalhos em tricot e bordado, que construí com a minha avó como metáfora para a mensagem da história do conto e incentivo a um contacto e troca entre gerações tão distantes.
Gerador (G.) — "A exposição propõe que os recém-licenciados se definam e ponderem as suas acções futuras perante a prática do Design", lê-se na descrição da exposição. Que ferramentas é que a faculdade te deu enquanto futuro/a designer?
G. — Não é difícil perceber o papel dos designers no mercado. Mas qual é o papel dos designers no mundo?
G. — De que forma é que a tua obra ou projeto final espelha o que te move enquanto designer?
G. — Que obstáculos é que achas que podes encontrar no teu caminho, num futuro próximo?
G. — Que mensagem deixarias para ti mesmo/a, enquanto recém-licenciado, para leres daqui a 20 anos?
- “A latitude do tempo” reune as estórias que Sara ouviu na Casa de Lordelo
- Construiu uma manta de retalhos com a avó, como metáfora para a história do conto d’ “A latitude do tempo”
- A avó de Sara foi sua cúmplice na concepção do projeto
Margarida Ferreira (22 anos)
"Porto de Situação" é uma banda desenhada que fala de como é o Porto neste preciso momento do tempo, abordando os temas da gentrificação e da massificação do turismo.
Gerador (G.) — "A exposição propõe que os recém-licenciados se definam e ponderem as suas acções futuras perante a prática do Design", lê-se na descrição da exposição. Que ferramentas é que a faculdade te deu enquanto futuro/a designer?
G. — Não é difícil perceber o papel dos designers no mercado. Mas qual é o papel dos designers no mundo?
G. — De que forma é que a tua obra ou projeto final espelha o que te move enquanto designer?
G. — Que obstáculos é que achas que podes encontrar no teu caminho, num futuro próximo?
G. — Que mensagem deixarias para ti mesmo/a, enquanto recém-licenciado, para leres daqui a 20 anos?
- O trabalho de Margarida levanta questões como a gentrificação e a massificação do turismo na cidade do Porto
- A sua relação com a cidade é um ponto fundamental para o projeto
- Define-o como “uma mescla sentimental”
Rui Miranda (22 anos)
PROFILES RE-CREATION PROJECT foi criado pela João Monteiro, pela Margarida Saldanha e por mim (Rui Miranda). O nosso projeto é um cibertexto em forma de uma instalação artística aberta ao público em geral, com caráter interventivo, capaz de proporcionar ao público uma experiência sensorial/estética, comunicar o conceito do projeto e promover reflexão sobre ele.
Gerador (G.) — "A exposição propõe que os recém-licenciados se definam e ponderem as suas acções futuras perante a prática do Design", lê-se na descrição da exposição. Que ferramentas é que a faculdade te deu enquanto futuro/a designer?
G. — Não é difícil perceber o papel dos designers no mercado. Mas qual é o papel dos designers no mundo?
G. — De que forma é que a tua obra ou projeto final espelha o que te move enquanto designer?
G. — Que obstáculos é que achas que podes encontrar no teu caminho, num futuro próximo?
G. — Que mensagem deixarias para ti mesmo/a, enquanto recém-licenciado, para leres daqui a 20 anos?
- PROFILES RE-CREATION PROJECT foi criado a três
- Rui, Margarida e João quiseram “chamar à atenção para uma problemática”
- Acreditam que uma “mudança positiva de comportamentos através de um dispositivo de comunicação visual interativo é incrível e altamente motivadora”
- Especialmente quando junta as pessoas
Helena Ruão (23 anos)


Gerador (G.) — Não é difícil perceber o papel dos designers no mercado. Mas qual é o papel dos designers no mundo?
G. — De que forma é que a tua obra ou projeto final espelha o que te move enquanto designer?
G. — Que obstáculos é que achas que podes encontrar no teu caminho, num futuro próximo?
G. — Que mensagem deixarias para ti mesmo/a, enquanto recém-licenciado, para leres daqui a 20 anos?
- “Magis” é um videojogo de aventura
- Helena também o considera um puzzle em realidade aumentada
- A designer acredita que os videojogos são um medium cada vez mais presente nas nossas vidas
- No que toca ao design, acredita que a fusão entre disciplinas traz os melhores resultados
Hugo Sá (21 anos)
"Quinta Cor" centra-se na busca pelas fronteiras e limites de um formato emergente—o cartaz interativo digital—, tendo como ponto de partida a premissa de que a interação pode funcionar como uma ‘quinta cor’ ou técnica especial capaz de envolver o leitor de novas maneiras e proporcionar novas possibilidades narrativas num formato até à pouco tempo predominantemente estático.
G. — "A exposição propõe que os recém-licenciados se definam e ponderem as suas acções futuras perante a prática do Design", lê-se na descrição da exposição. Que ferramentas é que a faculdade te deu enquanto futuro/a designer?
G- — Não é difícil perceber o papel dos designers no mercado. Mas qual é o papel dos designers no mundo?
G. — De que forma é que a tua obra ou projeto final espelha o que te move enquanto designer?
G. — Que obstáculos é que achas que podes encontrar no teu caminho, num futuro próximo?
G. — Que mensagem deixarias para ti mesmo/a, enquanto recém-licenciado, para leres daqui a 20 anos?


Rita Silvestre (22 anos)
2015 — 2019 + visa demonstrar os artistas que estão a finalizar o curso na FBAUP. Desta forma, junto o talento num editorial A3 que tem como objetivo deixar na faculdade enquanto memória do ano 2015 — 2019.
Gerador (G.) — "A exposição propõe que os recém-licenciados se definam e ponderem as suas acções futuras perante a prática do Design", lê-se na descrição da exposição. Que ferramentas é que a faculdade te deu enquanto futuro/a designer?
G. — Não é difícil perceber o papel dos designers no mercado. Mas qual é o papel dos designers no mundo?
G. — De que forma é que a tua obra ou projeto final espelha o que te move enquanto designer?
G. — Que obstáculos é que achas que podes encontrar no teu caminho, num futuro próximo?
G. — Que mensagem deixarias para ti mesmo/a, enquanto recém-licenciado, para leres daqui a 20 anos?
- Entre 2015 e 2019 Rita Silvestre integrou a licenciatura de Design de Comunicação da FBAUP
- Decidiu criar um livro com os projetos dos seus colegas, para deixar na posteridade “a boa colheita” que dali saiu
O Miguel, a Beatriz, o Francisco, a Sara, a Margarida, o Rui, a Helena, o Hugo e a Rita não sabem o que o futuro lhes reserva. Encontrar um estágio não remunerado pelo caminho parece ser uma hipótese segura, mas submeter-se a algo com que não se identificam não lhes parece opção.
Ainda que com poucas certezas sobre o que virá daqui para a frente, os nove estão cientes da visão que, pelo menos para já, pretendem associar às suas práticas. Não sabem se irão conseguir tornar o Mundo um pouco melhor, ou se o caminho que estão a traçar assentará nos mesmos pilares daqui a 20 anos; mas certamente o Mundo à sua volta irá sentir o eco das suas ações.